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O olhar dela

O agressor de Ana Hickmann mandou um recado para mim

Não importa quem você seja, você sempre estará submetida a um homem.

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Jéssica Senra

15/11/2023 às 10:00 • Atualizada em 15/11/2023 às 11:47 - há XX semanas
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Eu juro que gostaria de estar falando de outro tema esta semana. Ontem começamos a divulgação do meu novo programa na TV, o Diga Aí, e eu queria estar apenas falando dele. Mas o agressor de Ana Hickmann não me deixou. Alexandre Correa, agora ex-marido da vítima, não me permitiu falar de alegrias e conquistas. O agressor confesso mandou um recado para mim. Mandou um recado para todas as mulheres desse Brasil.


				
					O agressor de Ana Hickmann mandou um recado para mim
Foto: Reprodução / Redes Sociais
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Não importa quem você seja, não importa o que tenha conquistado, não importa a sua fama, a sua reputação, o seu dinheiro. Você sempre estará submetida a um homem. Sempre vai haver um homem mais “poderoso”, que poderá fazer o que desejar com você. Ainda que seu poder venha da primitiva força física.

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Este é o recado dado.

Esta é a metáfora da agressão de um homem a uma mulher como Ana Hickmann. Cada vez que um homem agride uma mulher, ele manda um recado para todas as outras. Ele lembra todas nós que estamos em risco.

Não importa onde você, mulher, tenha chegado. Seu lugar é sempre abaixo de um homem.

A violência de gênero atinge mulheres de todas as classes e raças, embora seja mais presente na vida de mulheres negras, indígenas e com menor poder aquisitivo e menor formação educacional.

Mas nenhuma mulher está a salvo. Nem as ricas e famosas. No início do mês, a influenciadora Patrícia Ramos denunciou o ex-marido por diversos episódios de violência. No ano passado, 35 mulheres foram agredidas por minuto no Brasil. São mais de 50 mil mulheres agredidas diariamente no nosso país, mais de 18 milhões por ano, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Todas as mulheres estão sob o risco e a ameaça diária de serem violentadas. E o agressor de Ana Hickmann está aí para nos lembrar disso.


				
					O agressor de Ana Hickmann mandou um recado para mim
Foto: Reprodução / Redes Sociais

Sabemos que um dos principais motivos que aprisionam mulheres em relacionamentos violentos é a dependência financeira. Mulheres que não trabalham fora e se dedicam a trabalhar no cuidado da casa, do marido e dos filhos, ficam sem recursos para sair da relação se assim desejarem.

Também é importante que as mulheres tenham informações, conheçam seus direitos e os tipos de violência para poder reconhecê-las. Nossa sociedade patriarcal normaliza essas violências até que a gente não as perceba mais.

É muito importante, ainda, haver uma rede de apoio. Pessoas com quem contar para acolher, conversar e ajudar a resolver questões práticas também.

Ana Hickmann parece reunir essas condições.

E desejo que um processo terapêutico possa ajudá-la e a seu filho a superar este trauma e toda a desilusão que vem do fim de um relacionamento.

Mulheres famosas, bem-sucedidas, bonitas, com acesso à informação, a seus direitos, com rede de apoio, podem passar por esse tipo de situação porque a culpa não está na mulher, está no homem abusador. E numa sociedade que cuidadosamente mina a autoestima e a autoconfiança da mulher.


				
					O agressor de Ana Hickmann mandou um recado para mim
Apresentadora deixou de seguir o marido no Instagram neste domingo (12) e apagou fotos com Alexandre Correa na rede social. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Uma mulher com a autoestima minada, que não acredita no seu próprio potencial, está muito mais sujeita a ser manipulada e controlada.

Mesmo mulheres realizadas profissionalmente podem acabar ficando sujeitas a homens que têm necessidade de se afirmar mais poderosos. Homens que manipulam mulheres a acreditarem que o seu poder e o seu sucesso vêm da presença deles em suas vidas. Que tudo o que conquistaram foi graças a eles e não a elas mesmas. E elas acabam acreditando, se sentindo dependentes desses caras, pensando que sem eles não poderão viver.

Nossa autoestima em frangalhos é construída socialmente e é proposital. Passamos a vida apontando defeitos nas mulheres, em seus corpos e intelecto, duvidando de suas capacidades, questionando sua inteligência, pintando imagens de loucas e histéricas, desequilibradas emocionalmente, sujeitas aos hormônios, fazendo piadas e chacotas que reforçam estereótipos de submissão, de incapacidade, de insuficiência, culpando-as por tudo...

Tudo isso vai transformando a ideia que a mulher tem de si mesma e ela passa a se esforçar sempre para agradar, sempre atendendo desejos alheios e deixando os seus próprios de lado, tudo para não ser rejeitada, tudo para ser amada.

Além da dependência emocional, o próprio sistema de crenças e valores (a exemplo da ideia de que o sucesso de uma mulher é ter um bom casamento; que divórcio é um fracasso da mulher; a vontade de que o filho cresça com os dois pais juntos...) pode fazer mulheres suportarem certas violências.

Mulheres, acostumadas a ouvir que “homem é assim mesmo”, que “todo relacionamento tem um lado bom e um lado ruim”, que “quem ama, perdoa” e coisas do tipo, são levadas a se manter em relacionamentos abusivos sem perceber.

E se apegam aos poucos momentos de alegria pois sempre, sempre, depois dos atos de violência, o agressor se comporta com todo o amor e carinho. É o chamado ciclo da violência, que costuma ser dividido em três fases: uma fase de tensão, a da agressão, e a da lua de mel. Essa sequência vai se repetindo.

No caso de Ana Hickmann, o amor pelo filho lhe trouxe lucidez. Em uma postagem nas redes sociais, ela se declarou para a criança: “Minha força, minha motivação, o amor da minha vida!!! É por ele que eu acordo e vou atrás dos meus sonhos todos os dias.”


				
					O agressor de Ana Hickmann mandou um recado para mim
Perseguição, grosserias e mais: relembre casos envolvendo Ana Hickmann. Foto: Reprodução/Redes Sociais

As mulheres são tão socializadas a priorizar o outro antes de si que, até num momento de se livrar de violências, foi pelo filho que ela decidiu fazer. Ele teria presenciado a briga dos pais.

Obviamente, não importa qual tenha sido a motivação, são dignas de apoio e aplausos a força e a coragem de uma mulher em sair de uma relação abusiva. Uma mulher pública, que sabe que mulheres geralmente são julgadas junto com seus agressores, que tem um filho pequeno, reuniu coragem para denunciar, expor e se separar.

Crescer num lar violento provoca sérias consequências para as crianças. Transtornos mentais, como ansiedade e depressão; prejuízos cognitivos e distúrbios de aprendizagem; baixo rendimento escolar; impactos na memória; dependência química; problemas de relacionamento; comportamentos agressivos e até tentativas de suicídio. Além disso, normaliza a violência para a criança, que tende a reproduzi-la e perpetuar os ciclos de agressões.

  • Para o agressor de Ana e todos os outros, eu mando aqui o meu recado:

Nós não vamos aceitar violências!

  • E, para as mulheres, eu digo com todo o meu amor:

Não se sintam culpadas por não conseguirem deixar relações que lhes fazem mal. Vencer tudo isso e reunir as condições para sair de relacionamentos abusivos é um desafio. Mas eu acredito em você! Eu sei que você vai conseguir sair dessa situação. Que seja por nós, em primeiro lugar. E que seja também pelas crianças. Pelos amados filhos que não merecem ver a mulher que eles mais amam sendo agredida pelo homem em quem eles mais confiam.

Imagem ilustrativa da coluna O OLHAR DELA
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