Aos 19 anos, Natália Santos, moradora da Baixa dos Sapateiros, atravessou o Atlântico e está na terra dos imponentes Faraós. Filha de pai desempregado e de uma agente de saúde, Natália entrou para a Escola Olodum aos sete, ainda criança, fazendo parte do grupo de dança.
Há doze anos é percussionista. Na primeira viagem do grupo ao Egito, a jovem foi selecionada para integrar a comitiva de músicos a visitar pela primeira vez o país e agradece as oportunidades que o samba reggae tem trazido à sua vida.
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“Essa viagem ao Egito é muito importante pra mim. Eu estou vendo de perto toda a história de uma civilização que eu apenas tinha escutado falar, subi nas pirâmides, aprendi sobre as histórias do papel. Com certeza voltarei com um olhar diferente pra Salvador e está sendo importante pra minha vida, pra meu conhecimento, pra minha formação cultural” , disse.
Natália foi uma das meninas do Pelô integrantes do projeto Rufar dos Tambores, que deu origem à Escola Olodum. Tudo começou quando a estudante de Pedagogia, Katia Melo, que era diretora de Educação no grupo cultural Olodum, dividiu uma inquietação com o mestre Neguinho do Samba.
Os dois observavam o fascínio que aquela batida do samba reggae causava nos meninos e meninas que moravam no Maciel/Pelourinho. Tanto a educadora quanto Neguinho sonhavam com dias melhores para as crianças e idealizaram uma Escola. À época, o Grupo Cultural Olodum tinha 20 diretores, era presidido por uma mulher, Cristina Rodrigues. O irmão dela, João Jorge Rodrigues, era diretor de Cultura.
Katia levou a proposta de Educação pela arte para as crianças da comunidade, inspirada no exemplo do educador e jurista baiano de Caetité, Anísio Teixeira. O educador defendia, entre outras propostas, a de uma rede de ensino que fosse da educação infantil à Universidade e que atendesse a todos, sem olhar a raça, classe social, condição financeira e credo.
A diretoria gostou e um grupo foi formado por diretores do Olodum, que já participavam da luta contra o racismo no Brasil, junto com militantes do Movimento Negro da Bahia para elaborar o projeto. Assim, o Projeto Rufar dos Tambores se transformou na Escola Criativa Olodum, existente hoje.
“O Olodum assumiu a comunidade do Maciel / Pelourinho como ela é, com negros, não negros, pessoas de baixa renda. O Egito foi o começo de tudo, com a grande notoriedade da música Faraó, de Luciano Gomes e Sérgio Participação, in memorian. Muitas pessoas passaram pelo Olodum e seguiram suas vidas. A meta da Escola era contemplar teatro, dança, percussão e reforço escolar. Me sinto feliz e orgulhosa de ter feito parte dessa Escola”, afirma Kátia.
Rafael Manga também passou pela Escola do afro do Pelourinho. Formado em Propaganda e Publicidade, Rafael tem 34 anos, é filho único de uma costureira e pai de uma adolescente. Nesses 15 anos de Olodum, passou por todas as áreas da Escola, foi da ala de canto, assistente de produção, mestre de cerimônias. Hoje alimenta as redes sociais do Grupo, é assessor de imprensa da presidência, além de Conselheiro do Bloco.
“Sou um jovem que fui formado pela Escola Olodum, formado politicamente no Olodum no contexto racial, e fui escolhido para vir ao Egito celebrar o centenário da descoberta do túmulo do Faraó Tutankhamon. Vim com a maior Banda de Percussão do planeta, vim com pessoas que dedicaram suas vidas para reafirmar a importância que o Egito negro tem para o Brasil e para o mundo. Vim cantar Faraó. Eu costumo dizer que Faraó não é o hino oficial da Bahia, mas as pessoas não sabem cantar o hino da Bahia, mas todo mundo da Bahia e fora da Bahia sabe cantar Faraó. Esse é o papel da Escola Olodum contar a nossa história. Valorizar a nossa ancestralidade, formar cidadãos”.
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