O filme Revolta dos Búzios vai para nona semana em cartaz. Eu já assisti. E você? Caso não tenha visto, vá pra conhecer a história de um movimento criado por quatro jovens negros que defendiam a independência do Brasil e o fim da escravidão. O filme documentário é do cineasta baiano Antônio Olavo, de 68 anos, que passou 13 anos construindo a história.
A obra cinematográfica foi lançada em 2018, mas só este ano entrou em cartaz. Eu entrevistei o Olavo logo após ver o filme na sessão de 10h30, no Cine Glauber Rocha, na Praça Castro Alves. O preço do ingresso da matinê é simbólico, R$ 5,00. Antônio Olavo fala do filme, do momento que está vivendo e do próximo trabalho que já está em processo de construção.
Leia também:
Entrevista com Antônio Olavo
Wanda Chase: Professor, foi difícil contar essa história?
Foi um desafio. O filme Revolta dos Búzios é fruto de um edital de 2014, do Irdeb - Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia. A revolta terminou de uma forma trágica com a morte e enforcamento de quatro jovens líderes negros que criaram o movimento. São eles: Luís Gonzaga das Virgens, Lucas Dantas, Manuel Faustino dos Santos e João de Deus.
WC: O que levou o senhor a contar a história dessa revolta?
Porque a história é emocionante, a história é encantadora, apaixonante. A Revolta dos Búzios é um movimento que foi mais importante que a Inconfidência Mineira. Os líderes defendiam a independência do continente do Brasil.
WC: Como os líderes fizeram o chamamento para o povo?
Eles fixaram em pontos estratégicos de Salvador um panfleto cujo texto dizia: "Homens, é chegado o tempo para vossa ressurreição, sim para ressuscitares do teu abismo, para levantar a sagrada bandeira da liberdade. A liberdade é um estado feliz, que consiste em um estado livre do abatimento. A liberdade é a doçura da vida. Finalmente, a liberdade é o repouso e a bem-aventurança do mundo." Esse texto foi escrito por eles, por homens escravizados que viviam uma profunda desigualdade. O letramento desses homens era uma coisa fantástica. A educação formal, o ingresso para a escola era proibido.
WC: Por que a Bahia era considerada rebelde?
Era chamada de Bahia rebelde. Houve uma época que os escravocratas do Sul do Brasil não queriam comprar homens escravizados da Bahia por causa dessa fama. A formação dos quilombos, as insurreições urbanas, as transgressões também como o candomblé, a capoeira, a música, tudo isso assustava os sulistas. Nós precisamos resgatar isso, nos fortalece, nos honra saber que somos herdeiros de um povo que lutou a favor da liberdade, da abolição da escravatura.
WC: Professor, a Revolta dos Búzios teve outras denominações. Por quê?
Sim. Recebeu o nome de Movimento Democrático Baiano, Conjuração Baiana, Revolução Baiana dos Alfaiates e Revolta das Argolinhas e o Movimento Negro nos últimos cinquenta anos adotou Revolta dos Búzios. A primeira vez foi em 1932, quando o jornalista carioca Viriato Correia escreveu um artigo e deu o título de Revolta dos Búzios.
Na próxima quinta-feira publicaremos a segunda parte dessa entrevista.
KIZOMBA ENCERRA FESTIVAL DO GRUPO IYÁ ‘S
O julho é das pretas e Salvador foi marcado por vários eventos em comemoração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino - Americana e Caribenha. O Grupo das Iyá ‘s, formado por mulheres negras, realizou com garra a IV Edição de um Festival com mesas temáticas, oficinas, shows, música e teatro.
O encerramento será na sexta-feira (26), no Espaço Cultural da Barroquinha, com a feira da empreendedora afro e apresentação do Grupo de Samba Mirim Raízes do Paraguaçu, tem ainda o espetáculo Lótus, da atriz Danielle Anatólio e o Samba das Pretas. É isso meninas!!
Wanda Chase
Wanda Chase
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!