A diversidade é uma marca do Carnaval de Salvador. Carros alegóricos, batucadas, afoxés, blocos afro…e blocos de índios que hoje não têm a mesma força, fizeram história na Bahia. No fim da década de 60 surgiram os blocos de índios, que até hoje mexem com o imaginário dos soteropolitanos saudosos. Por muito tempo nos referíamos ao povo das florestas como índio, mas, na verdade são indígenas.
A explicação linguística está no dicionário do Aurélio: 'índio' é um termo estereotipado e reforça a ideia de que todos os povos indígenas são iguais. E mais: que eles são seres do passado ou selvagens. Preconceito puro!
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Em 1966 foi fundado o primeiro 'Bloco de Índio' em Salvador, o Cacique do Garcia, inspirado no Bloco Cacique de Ramos, do Rio de Janeiro. Até então, o bairro só tinha uma agremiação carnavalesca, a Escola de Samba Juventude do Garcia. O Bloco de Índios (como se chamava na época) Cacique do Garcia foi inspirado no Cacique de Ramos, do Rio de Janeiro. Foi um sucesso! No ano seguinte, em 1968, foi a vez do bairro do Tororó entrar para a história do Carnaval da Bahia e fundar o 'Apaches do Tororó'. Desta vez, a inspiração veio de longe, lá dos Estados Unidos. A história começa no Cine Santo Antônio, em Salvador, quando jovens do Tororó assistiam ao seriado sobre a nação indígena Apaches. A bateria enlouqueceu o povão, foi uma loucura. Não deu outra!
Seu Antônio Belmiro de Oliveira Santos, mais conhecido como Toninho, o eterno presidente, lembra com saudade os tempos bons do Bloco que em outubro completa 55 anos. Os compositores e cantores Nelson Rufino, Ederaldo Gentil e Nelson Cara foram estrelas do Apaches. É de Nelson Cara a composição Pomba Branca da Paz. Um dos sambas mais bonitos de todos os tempos, em minha opinião. Um dos versos diz: “ Voa, pomba branca da paz e vai dizer aos seus irmãos que o Apache hoje vive em paz.” Essa canção era um aceno, um acordo de paz porque em 2009 o Apache foi acusado de invadir o Bloco Lá vem Elas e promover um beijaço.
O 'Lá Vem Elas' era formado por mulheres da alta sociedade de Salvador. Conta-se nos bastidores que tudo aconteceu porque as mulheres do bloco teriam contratado cinco homens do 'Apache' para impedir que uma amante do marido de uma delas desfilasse no bloco. A Polícia Militar foi chamada e acabou com o desfile do 'Apaches'. Os associados foram caçados pelos homens da polícia militar na cidade e, nesse dia, o Carnaval terminou mais cedo em Salvador .No ano seguinte surge a música que até já foi gravada por Ivete Sangalo.
O 'Comanches do Pelourinho' também se inspirou em um filme norte-americano que contava a história dos Comanches. Jorginho Comancheiro, um dos fundadores e também cantor , tem orgulho de pertencer à entidade carnavalesca. O Comanche foi o quarto bloco de índios fundado em Salvador. Depois surgiram mais 19 blocos na mesma linha, mas nem todos tiveram sucesso. O Comanche construiu sua história e ainda resiste aos obstáculos, problemas financeiros, falta de patrocínios e invisibilidade.
A axé music também bebeu na fonte dos blocos de índios. Poucos cantores saídos da ala de canto do Apaches e do Comanches partiram e deram certo na carreira solo, como Nelson Rufino e Tonho Matéria. O compositor e cantor Tatau, diz que “os blocos de índios tinham seu charme.” Tatau nunca foi da ala de canto de nenhum deles, mas se apresentou várias vezes no “ pandeirão “ do Apaches, no Dique do Tororó. Na época, Tonho era cantor do samba junino Skorpios e abria os ensaios do Apaches. Hoje só resta a saudade. Só Apaches e Comanches resistem e mantêm essa manifestação cultural.
Wanda Chase
Wanda Chase
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