“Minha identidade é cantar na minha língua. Césaria Évora abriu caminho, estendeu um tapete vermelho pra nós desfilarmos”. A frase é de uma estrela da nova geração de artistas de Cabo Verde. O nome dela: Elida Almeida, quase 30 anos, mãe de um menino de 12 anos.
Inteligente, antenada, bonita, Elida fala devagar e firme, orgulhosa de suas raízes: “crioulo é nossa língua materna e já tem espaço no mercado”.
Leia também:
Observo que nas ruas de Cabo Verde só se fala crioulo. A língua oficial é o português de Portugal, mas há um movimento no arquipélago africano para que o crioulo, língua dos nativos, seja oficializada. A música entrou na vida de Elida por meio do rádio.
Ela conta que morava em uma Ilha que não tinha energia elétrica. Filha de família pobre, a diversão da menina era o rádio de pilha. No final do dia, Elida, os primos e vizinhos sentavam na varanda da casa e cantavam. A casa em que ela morava ficava na zona rural, bem longe do centro da cidade, e a pilha era cara. Mas, a menina lembra que tinha facilidade de decorar as letras das canções que ouvia. Cantar era a única diversão da família e a garota não sabia que já tinha sido ‘abduzida’ pela música. Elida conta essa história entre risos, com os mínimos detalhe , como se estivesse vivendo tudo de novo.
Cabo Verde é um país conhecido no continente africano como o que tem as mais belas praias e grandes artistas. Cesaria Évora abriu caminho para todos e todas. Foi a mais famosa, conhecida como a diva dos pés descalços e rainha de um genêro musical chamado morna, uma mistura de estilos musicais. Césaria era uma intérprete. Elida compõe e canta.
Pelas contas já são 80 músicas de sua autoria. Na cena musical desde 2014, ela ressalta que fala para os cabo verdianos e se inspira no que passa ao seu redor, com seus vizinhos e parentes.
O primeiro disco lançado foi uma celebração. O título ‘Ora doci ora margos’ bombou de primeira. Em três meses, já era trilha de novela e mudou a vida Elida. “ A minha e a da minha família, pude respirar um pouco, comecei a pagar a Faculdade de minha irmã e dar conforto aos meus “.
No ano seguinte, 2015, Elida ganhou o prêmio mais importante da África e conheceu 16 países do continente. A cantora aprendeu a se comunicar em outras línguas, em outros falares africanos. Em 2019, foi para Portugal estudar Direito, mas interrompeu o curso porque a música foi mais forte.
Elida nasceu para cantar. É porta voz do seu povo e dá passos largos. A cantora cabo verdiana vive uma fase única. Em novembro deste ano lançou o single Dondona - forma carinhosa de chamar as avós em Cabo Verde - uma homenagem a dona Sabina Vaz, de 93 anos, mãe do pai da cantora.
“É um agradecimento a quem me educou na infância. Tenho saudade dessa fase, resolvi fazer essa homenagem em vida. Nós de Cabo Verde, não sei como é no Brasil, temos as avós como nossas mães. Agora que estou morando em Portugal e vejo que lá é tudo muito diferente. Eles colocam seus avós em lares ,abrigos .Nós cuidamos dos mais velhos. Lá não acontece isso, a pessoa com 60 e poucos anos já vai para um lugar para ser cuidada por estranhos e é uma coisa que eu não gosto. Nós cuidamos dos nossos até os últimos momentos “.
A neta de dona Sabina lança dia 27 de janeiro do próximo ano seu mais novo álbum. Está eufórica. Antes de terminar essa entrevista faz questão de dizer que ama o Brasil, já fez turnês em São Paulo e Rio de Janeiro, se emociona quando fala da morte de Marília Mendonça e de Paulo Gustavo.
A estrela cabo verdiana não conhece a Bahia, mas agora já sabe que existe Ilê Aiyê, Olodum, noite da Beleza Negra e Femadum. Bom demais conversar com essa artista. Quem sabe, em breve, a veremos em Salvador da Bahia!
Leia mais sobre Ópraí Wanda Chase no iBahia.com e siga o portal no Google Notícias.
Veja também:
Wanda Chase
Wanda Chase
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!