Em 1985, Luiz Caldas lançou o álbum Magia e abriu as portas do mercado brasileiro para os novos nomes da música da Bahia. Fricote, a problemática canção de trabalho do disco, marcou época e é considerada o marco inicial do Axé Music, apesar do cunho racista e sexista da letra. Foram anos ocupando os principais espaços de visibilidade dedicados à música baiana e emplacando uma sequência de hits: Haja Amor, Tieta, Ajayô, O Que Que Essa Nega Quer?, entre outras.
Nesses quase 40 anos que se passaram, Luiz Caldas hoje é muito mais do que o pai do Axé Music. Desde 2013, ele explora sua versatilidade enquanto músico multi-instrumentista e sua super produção como compositor para lançar um álbum por mês com canções inéditas. Agora, em janeiro de 2023, o artista soltou Calmaria, o 130º trabalho do projeto.
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Muito provavelmente, Luiz Caldas é o artista com o maior número de álbuns lançados na história da música. Pelas minhas contas, feitas de forma extraoficial, o baiano conta com mais 150 álbuns lançados, o que supera de longe os números registrados no Livro dos Recordes (Guinness Book). Lá, há as categorias “Mais álbuns de estúdio lançados digitalmente” (Most studio albums released digitally) e “Mais gravações de álbuns de estúdio lançadas” (Most studio album recordings released).
Na primeira, o título é dividido entre os ingleses Mark Christopher Lee e The Pocket Gods com 75 lançamentos; enquanto a segunda é atribuída ao nigeriano Fela Kuti, com 46 lançamentos. Fácil de perceber que os números de Luiz superam os registrados como recordes, mas lá em 2013, no início do projeto, o músico já tinha avisado: “não estou fazendo por questão de números, se não eu chamaria o Livro dos Recordes, a ideia não é essa”, afirmou o cantor em entrevista à época.
Discografia de Luiz Caldas
Durante o auge da carreira nos anos 1980, Luiz chegou a vender 2 milhões de cópias e era presença constante nos programas de TV de maior audiência no Brasil. Entre 1985 e 1992, foram 7 álbuns lançados. Nos anos 1990, contudo, a carreira do artista não teve o mesmo êxito comercial, mas ele seguiu com seu trabalho.
Em 1994, o músico lançou um álbum homônimo que circulou pouco na época, mas que hoje é vendido na internet com status de raridade. Depois, em 1998, fez um mergulho na obra de Luiz Gonzaga com o CD Forró de Cabo a Rabo. Já em 1999, lançou o disco 15 Anos de Axé – Luiz Caldas e convidados. Nos anos 2000 os lançamentos também foram escassos, com os álbuns Janela Aberta (2001), Luz e Fogueira (2003), Melosofia (2004), Ao Vivo em Salvador (2006).
A partir de 2010, Luiz Caldas passou a se dedicar ao ambicioso projeto com o volume impressionante de lançamentos, o que também ajudou a recolocá-lo no circuito nacional. A persona artística que ele tinha construído nos anos 1980, e que perdurava no imaginário daquela geração, era da figura de cabelos cacheados longos, com roupas extravagantes e os pés descalços.
Cortar os cabelos, vestir uma camisa preta com calça jeans e calçar um all star foi a estratégia (bem sucedida, diga-se de passagem) que o artista encontrou para chamar atenção da imprensa para o box de 10 álbuns de canções inéditas que ele lançou naquele ano. Numa entrevista de 2012 ao jornal carioca O Globo, Luiz brincou sobre o “golpe de marketing”: “espero não ter que anunciar que parei de usar cueca para ser lembrado de novo”.
A partir de 2013, o projeto de lançamentos passou a ser mensal e contínuo e garantiu a Luiz Caldas o número impressionante na discografia. O volume de canções não vem necessariamente acompanhado de qualidade, o que é esperado. Contudo, é necessário notar que nas duas últimas edições do Grammy Latino ele foi indicado na categoria Melhor Álbum de Raízes em Língua Portuguesa. Em 2022 com o disco Remelexo Bom, lançado em junho de 2021, e na edição anterior com Sambadeiras,álbum de abril de 2021. Luiz Caldas chega aos 60 anos se mostrando como um artista que se movimenta a partir de suas convicções e que busca explorar ao máximo sua versatilidade. O projeto de lançamentos mensais representou, de alguma forma, uma reinvenção, ao menos na sua imagem pública. Mas além disso, nos anos de carreira, ele enfrentou a prática do jabá nas rádios, e (mesmo tardiamente) reconheceu a necessidade de retirar Fricote do seu repertório.
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Marcelo Argôlo
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