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Paula Sanffer retoma paixão pelo reggae em 'Atchá', seu novo projeto solo

Em entrevista, cantora natural de Feira de Santana revela ligações antigas com o gênero e planos para conciliar trabalho solo com a banda ‘Timbaladies’

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Marcelo Argôlo

27/04/2022 às 18:00 • Atualizada em 26/08/2022 às 19:07 - há XX semanas
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					Paula Sanffer retoma paixão pelo reggae em 'Atchá', seu novo projeto solo
Paula Sanffer defende canções autorais de reggae no projeto Atchá (Foto: Larissa Fernanda Reis)

Em 2015, Paula Sanffer conseguiu fazer a cadeira de Carlinhos Brown no 'The Voice Brasil' virar para ela. A cantora de Feira de Santana chegou até a semifinal do programa e depois, nunca mais, deixou de trabalhar com o técnico baiano. Primeiro vieram apresentações no Sarau du Brown, depois o convite para o projeto 'Mukindala' e, logo depois, ela passou a fazer parte da 'Timbalada'.

Foram 5 anos no grupo, até o final de 2021, quando Brown mexeu na formação do grupo com a volta de Denny Denan e criou as 'Timbaladies'. Os meninos ficaram na Timbalada e as meninas foram para o grupo novo, pois Patrícia Gomes e Amanda Santiago, outras ex-cantoras da banda criada no início dos 1990, se juntaram a Paula no novo projeto.

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Além da 'Timbaladies', Paula Sanffer entrou para o selo 'Candyall Music' liderado por Carlinhos Brown, para lançar o seu projeto 'Atchá' - que consiste em 4 singles autorais da artista. O primeiro foi “Nossa História”, lançado no final de março, e os próximos serão “Carrossel”, um feat com o cantor Saulo; “Tudo” e “Cupido”, ainda sem data marcada para sair.

Paula escolheu uma expressão indiana, que significa satisfação, para batizar o projeto e ela revela: “tem a ver com eu poder lançar algo que eu defendo, que eu gosto, que é o reggae”. Junto com o produtor Marcelinho Oliveira, que trouxe influências modernas para o trabalho, que ela tem definido as composições como reggae californiano, um estilo bastante usado também por Vanessa da Mata.

Aqui nessa entrevista, a artista conta como foi o início da carreira em Feira de Santana, apresenta detalhes do 'Atchá' e ainda fala sobre o conflito entre a formação evangélica e o trabalho com musicalidades de matriz afro-brasileiras. “Quando a gente tem um chamado, ou a gente obedece ou a gente não vai conseguir caminhar”, afirma Paula Sanffer.

  • Conheci você no The Voice, em 2015, quando você foi até a semifinal. Mas antes do programa, você já tinha uma uma carreira em Feira de Santana. Como foi esse seu início na música até a participação no programa?

Eu já canto desde os 7 anos. Venho de uma linhagem gospel e a gente que nasce no meio evangélico, quando chega aos 7, 8 anos, sempre tem oportunidade para cantar na igreja. Aí, aos 12 anos de idade, eu comecei a cantar profissionalmente, porque participei de alguns festivais e ali o pessoal notou em mim essa vocação. Então, aos 16, 17 anos, comecei a fazer barzinho em Feira de Santana e nesse mesmo processo vieram os trabalhos em estúdios, fazendo jingle, fazendo backing vocal e participando de outros festivais na própria cidade. Eu cheguei a ganhar alguns prêmios de melhor intérprete, melhor música… Aí depois fui trabalhar em uma banda como backing vocal e logo depois participei do The Voice Brasil.

  • E o que você aprendeu durante o programa que você carrega até hoje?

O The Voice me trouxe uma vasta experiência musical e artística. Essa questão da disciplina no palco, a desenvoltura, saber como se comportar, como cantar, com olhar para a câmera… Até a questão do tratamento mesmo, porque eles te tratam como um artista.

  • E logo depois você recebeu o convite de Carlinhos Brown para participar da Timbalada?

Antes, ele me convidou para participar de duas edições do Sarau du Brown e do Mukindala, um projeto que ele criou que tinha na linha frente além de mim, Rafa Chagas e Gato Preto. Foi uma experiência fantástica! Foi um ano na Mukindala até Carlinhos nos convidar para fazer parte da Timbalada. Aí foram 5 anos, entre 2017 e 2022, no desafio que foi fazer parte da Timbalada.

  • E aí temos 'Nossa História', que é uma composição sua que abre caminho para seu projeto solo 'Atchá'. Você já tinha essa composição há muito tempo ou ela foi feita para esse momento da sua carreira?

Essa composição já existia sim… Fiz quando conheci uma pessoa… Sempre tive fama de namoradeira e o pessoal falava: “rapaz, você vai se engraçar com Paula? Paula é barril!”. Foi uma história de amor que teve tudo para não dar certo, mas a insistência de querer viver esse relacionamento fez ele perdurar até hoje e faz 15 anos que estou com essa pessoa – e me sinto super realizada.

  • E os próximos lançamentos do projeto?

Vamos lançar nosso próximo single mais ou menos daqui a um mês e já com clipe. É possível que seja Carrossel, que é uma canção minha que conta com a participação de Saulo e já está gravada.

  • Saulo, que você sempre disse que queria conhecer e cantar junto… Como foi esse encontro com ele? Foi a primeira vez ou vocês cantaram juntos quando você estava na Timbalada?

A primeira vez foi ainda no período do The Voice, lá no Flechada, em Feira de Santana. A minha assessoria conseguiu essa conexão e a gente cantou. Foi lindo demais. Foi inspirado nele, que eu fiz nas audições às cegas do programa um pout-porri de “Ai Que Saudade D'ocê” com “Beija-Flor”. Aí quando eu cantei com Saulo no Flechada foi muito lindo, porque pude ver toda a minha cidade torcendo por mim.

  • E como é sua relação com o reggae, que está sendo o mote musical, digamos assim, no Atchá? Você sempre foi regueira?

Eu sou da Rua Nova, lá em Feira de Santana, que é um bairro de 99,9% de pretos e regueiros. Então, nasci no meio do Reggae, todas as minhas composições sempre quando eu puxo trago para o reggae. Aí, quando quis trazer esse single com a minha cara, eu falei: “poxa, não tem como não defender aquilo que eu gosto, né?” E eu gosto do Reggae. E Marcelo [Oliveira], produtor musical do trabalho, trouxe algo que misturou com a Califórnia e deu uma atualizada no som e aí ficou um reggae californiano.

  • Você falou que vem de uma formação gospel, evangélica e, muitas vezes, existe um preconceito em algumas vertentes mais fundamentalistas do movimento pentecostal sobre as religiões de matriz africana e as manifestações culturais que surgiram a partir dessa matriz afro-brasileira. Como foi para você lidar com essas questões a partir do momento em que você passou a trabalhar próxima de Carlinhos Brown e das musicalidades com origem nos terreiros de candomblé?

Vou te falar uma coisa: eu tenho bagagem para falar sobre isso! Quando a gente tem um chamado, ou a gente obedece ou a gente não vai conseguir caminhar. Eu demorei de entender. Na verdade, eu obedeci sem entender. Eu comecei a entender quando o próprio Deus se revelou a mim, abrindo minha mente. Eu tive que quebrar essa coisa da religiosidade, porque eu já fui religiosa, mas não me considero mais. Então, quando entendo que a Bíblia diz que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho para morrer, foi para morrer por todos. Não foi somente para pentecostais, somente para o espírita, somente para candomblecista… Foi para toda a humanidade. Então, pude entender que, poxa, quem sou eu para interferir no amor de Deus?

A religiosidade que, sim, tem aquela coisa de aqui pode, aqui não pode, mas eu venci a religiosidade. E existe algo muito interessante, que é a fé – e eu preciso respeitar sua fé. Se você acredita em algo, eu tenho que respeitar, porque se eu não tiver respeito para com outra fé, não vou conseguir viver. Vou estar sempre brigando e falando que o que você acredita é do diabo? Não, para com isso! A morte de Cristo foi para todos. Então, quando Deus me trouxe para estar aqui no Candeal, para poder estar na Timbalada, comecei a entender a missão de trazer a minha voz para esse lugar, de poder defender, de poder cantar músicas em iorubá…

Isso foi um baque para muita gente, mas através disso muita coisa foi rompida na visão de muita gente. Minha família mesmo, não entendia e hoje já entende e olha para alguém e fala: “pô, respeito a fé tal pessoa também”. Antes, não tinha essa visão, porque existia um sistema religioso que queria dizer: “não, só eu sou salva. Não, só eu tenho Deus. Só eu tenho, você tem o diabo”. E não é nada disso, pô! Todo mundo tem Deus no coração, todo mundo busca uma luz na sua vida.

Marcelo Argôlo*
Jornalista e pesquisador musical que acompanha o cenário musical baiano desde 2012. Mestre em Comunicação pela UFRB, ele é autor do livro Pop Negro SSA e mantém ainda o Instagram @popnegroba sobre a música pop negra da Bahia.

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