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Tabus, Tretas e Troças

A força, os embates e as contradições da poderosa Leila Pereira

Decisão de não apoiar eleições na CBF foi vista com surpresa, por causa de sua trajetória de defesa da transparência e renovação do futebol brasileiro

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Sílvio Tudela

26/05/2025 às 9:00 - há XX semanas
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Empresária poderosa, mulher de voz firme e gestora de pulso no ambiente ainda hostil do futebol masculino, Leila Pereira ocupa desde 2021 a presidência da Sociedade Esportiva Palmeiras — sendo a primeira mulher a comandar o clube em mais de 100 anos de história. À frente de um dos maiores clubes do Brasil, ela também é CEO da Crefisa e da Faculdade das Américas (FAM), patrocinadoras que viabilizaram boa parte da reestruturação financeira e esportiva do Palmeiras nos últimos anos.


				
					A força, os embates e as contradições da poderosa Leila Pereira
​Foto: Reprodução / Instagram

Desde que assumiu a presidência alviverde, Leila Pereira se destacou não apenas pelos títulos, mas pela sua figura midiática e postura frontal, característica que a levou a confrontar dirigentes do futebol brasileiro, práticas viciadas de bastidores, o machismo estrutural e, inclusive, o racismo e a misoginia de setores da torcida e da imprensa. “É difícil para um homem do futebol ver uma mulher no poder”, disse em entrevistas, ao comentar as resistências que enfrentou. De fato, sua ascensão contrariou o status quo de uma elite predominantemente masculina e conservadora.

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Mas Leila Pereira também é uma personagem complexa — e, como tal, suscetível a contradições.

Recentemente, ela se viu no centro de uma polêmica ao não apoiar o pedido de novas eleições na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) proposto pela maioria das federações e clubes, mesmo após revelações de irregularidades e disputas internas que colocaram em xeque a legitimidade da entidade.

A decisão da dirigente foi vista com surpresa por parte da opinião pública, especialmente considerando sua trajetória de enfrentamento e suas declarações em defesa da transparência e renovação do futebol brasileiro. Até porque a última vez em que a CBF teve dois concorrentes na disputa foi em 1989, quando Ricardo Teixeira derrotou Nabi Abi Chedid, então vice da CBF. A incoerência foi notada pela imprensa e opinião pública: como alguém que diz combater “os vícios do futebol” poderia apoiar a manutenção de um sistema que claramente os reproduz?

Leila Pereira definiu seu posicionamento de apoiar o nome mais forte nos bastidores após a decisão de Ednaldo Rodrigues informar ao Supremo Tribunal Federal que não tentaria mais retornar ao seu cargo depois de vários recursos judiciais.

Estratégia nos bastidores

A decisão de Leila Pereira parece passar por uma equação complexa de interesses políticos, institucionais e comerciais. Como presidente de um clube fortemente ligado a patrocinadores — e com um histórico de boa relação com a cúpula da CBF — a dirigente pode ter seguido uma estratégia própria de preservação do capital político em troca de estabilidade e influência em decisões futuras, como distribuição de cotas e calendário.

Além disso, ao evitar um racha aberto com a atual e futura direção da CBF, mantém margem de negociação em um cenário que ela, pragmaticamente, pode considerar ainda imprevisível. Trata-se de uma estratégia de poder, mas que a coloca em uma posição vulnerável frente a sua base de apoio — torcedores e parte da imprensa — que esperam dela uma postura alinhada à ética e à renovação que ela própria defendeu em outras arenas.

O dilema de uma liderança feminina no futebol masculino

Verdade seja dita, Leila Pereira representa uma ruptura simbólica e real no futebol brasileiro. Sua presença incomoda setores que historicamente comandaram os bastidores do esporte. Mas, ao mesmo tempo, ela se vê imersa nesse mesmo sistema e, em certos momentos, opta por jogar conforme suas regras, mesmo que isso lhe custe coerência. Seu desafio, agora, parece ser o de equilibrar poder e princípio. De manter sua postura combativa, sem deixar que o pragmatismo político a descaracterize. Porque, para além dos títulos e dos embates, a história que ela escreve ainda está em aberto — e cada decisão pesa não apenas no presente do seu clube, mas no futuro do futebol que ela tanto diz querer transformar.

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