Há cerca de dois anos, pelo fuso horário, estaríamos acompanhando o início dos XXXII Jogos Olímpicos da Idade Moderna, em Tokyo - evento que foi adiado por um ano em função da pandemia de Covid-19. As lembranças nem bem se foram e já estamos a praticamente dois anos de Paris 2024, com início em 26 de julho. Desde o seu nascimento, lá na Antiguidade Clássica, a competição em si e a forma de entendimento do esporte mudaram muito. E mais coisas devem acontecer nos próximos anos.
Em seu conceito mais completo, o esporte é entendido como um conjunto de exercícios físicos praticados metodicamente sobre a forma de jogos individuais ou coletivos - com observância de regras específicas e sem finalidade utilitária imediata, objetivando acima de tudo desenvolver a força muscular, a resistência, a agilidade, a destreza e a coragem.
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Para quem se dedica ao seu estudo, o esporte nasce do natural e irreprimível desejo de expansão do ser humano, buscando a perfeição estética dentro do equilíbrio e harmonia das formas, além da saúde física e do desenvolvimento muscular.
Na Grécia antiga, o esporte era também uma consagração aos deuses através dos Jogos Olímpicos, os quais foram realizados pela primeira vez no ano 766 antes de Cristo, próximo ao Monte Olimpo, reverenciado como a Morada dos Deuses. No conceito daquela época, só poderiam competir atletas de moral irrepreensível, já que a luta tinha contornos sagrados e o vencedor era coroado por louros, como uma celebração. Após séculos de sucesso e prestígio, os Jogos Olímpicos iniciaram a sua decadência, principalmente, a partir das críticas dos filósofos gregos que declararam guerra à crença num possível patrocínio sagrado.
Já com conotação política, em Roma, os deuses acabaram sendo substituídos pelo Imperador e os atletas trocaram o desfile em Olímpia, saindo festivamente do Senado Romano em direção ao Circus Maximus ou ao Coliseu. Os constantes e exaustivos treinos com o oferecimento de prêmios tornaram-se então chamarizes para escravos e gladiadores que transformaram as lutas gímnicas (ligadas ao corpo nu) em cruéis exercícios de sangue sob roupas de guerreiros. Segundo os historiadores, cabia ao Imperador o derradeiro gesto: polegar para cima significando vitória e liberdade; e polegar para baixo representando derrota e morte na arena.
Como a decadência do Império Romano, o pensamento cristão se apoderou do esporte e os slogans dos fiéis se fundiram com os dos atletas, usando palavras como fé, lealdade, decisão, honra, coragem e dignidade. Nesse mesmo período e por quase 1000 anos, a cavalaria medieval se fortaleceu e tomou forma de embate esportivo como um culto às artes nobres e os valores cristãos se fortaleceram em detrimento do corpo, conforme pregação do apóstolo Paulo: “ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós, que vos foi dado por Deus, e que vós não sois os senhores de vós mesmos”. Temendo o pecado e a maldição do inferno, a já então poderosa Igreja Católica tentou esconder o corpo humano e proibiu qualquer manifestação de culto idolátrico ou de fisiculturismo, a fim de não despertar desejos pecaminosos.
O esfacelamento do Catolicismo perante a Reforma Protestante, no decorrer do Século XVI, o fim da Inquisição e o surgimento da máquina a vapor amenizaram o caráter religioso do esporte e pesquisadores passaram a estudar o desporto a partir de uma visão mais científica.
Na Alemanha, já pelo Século XIX, Friederich Jahn prega o esporte, e sobretudo a ginástica, como forma de educação física a fim de disciplinar e robustecer os jovens. Seus estudos deram o início à visão do caráter bélico do esporte. Na mesma época, praticamente, na Suécia, Henrik Ling desenvolve um estudo a fim de documentar científica e anatomicamente o corpo humano, inaugurando o caráter físico biológico do esporte. E na Inglaterra, Thomas Arnold amplia um método de treinar jovens, usando a responsabilidade e as paixões dos jogos para movimentos em equipe e introduz, de forma mais clara, o caráter competitivo do esporte.
Toda essa trajetória da educação física vislumbrou na paixão pelo esporte uma forma de se obter vigor físico, saúde e beleza, aliando a inocente competição a uma forma de “evoluir” os atletas para semideuses, guerreiros violentos, fanáticos religiosos, operários alienados e até como máquinas de guerra já no Século XX. Na virada do milênio e nestas primeiras décadas, os atletas e os esportes passaram a ser vistos como uma grande fonte de renda e capazes de gerar envolvimentos mais que simbólicos e políticos. Aos poucos, vemos a entrada da tecnologia no corpo dos esportistas, através de chips, roupas e acessórios especiais etc., em busca de quebrar recordes cada vez mais difíceis e talvez não demorará muito a termos atletas mesclados com robôs nas competições.
A conferir...
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Sílvio Tudela
Sílvio Tudela
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