Quando todo mundo já considerava encerrada a discussão clubística - que seguiu ao reconhecimento pela CBF dos vencedores da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, como campeões nacionais, feito em 2010 -, eis que a entidade resolve alterar o já tumultuado ranking de vencedores do futebol brasileiro.
Sem muitas explicações, a CBF transformou a até então desconhecida Copa dos Campeões Estaduais, de 1937, como título nacional análogo à Série A do Campeonato Brasileiro. E com isso, o clube mineiro agora é tricampeão (1937, 1971 e 2021) e voltou a ser considerado o primeiro campeão nacional. O Galo possuía este posto até a validação dos torneios disputados entre 1959 e 1970 e que lhe foi tomado pelo Esporte Clube Bahia, vencedor da primeira edição da Taça Brasil (1959).
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Além de retirar uma das mais emblemáticas conquistas do Tricolor Baiano de ser o primeiro campeão brasileiro, o agora reconhecido “feito atleticano’ promete colocar mais lenha na fogueira entre os clubes, pois a Copa dos Campeões Estaduais foi criada pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), precursora da CBF, em 1920.
Em sua primeira edição, o título foi conquistado pelo Paulistano (SP), que deveria então, pelo mesmo critério, ser o primeiro campeão brasileiro. Depois, houve edições em 1931, com triunfo do Botafogo (RJ) em um torneio que teve somente um único adversário; outro em 1937, com vitória do Atlético-MG; e em 1967, quando o Bangu (RJ) levantou a taça. Se considerarmos apenas a edição vencida pelo Alvirrubro de Moça Bonita, já teríamos um fato insólito nas estatísticas, pois haveria neste ano de 1967 inacreditáveis três campeonatos brasileiros, com o Palmeiras vencendo duas vezes e o clube carioca conquistando o torneio que agora veio à tona.
Não demora para que o Esporte Clube Rebimboca da Parafuseta de algum canto do país encontre em seus registros a disputa de um torneio com mais um time de outro estado e também exija a sua inscrição no panteão dos campeões nacionais. Ou seja, os clubes agora devem sair à caça de um campeonato qualquer que venceram para serem o próximo primeiro campeão brasileiro.
Como o Atlético-MG se tornou tricampeão?
A homologação do torneio ‘post mortem’ vencido pelo Atlético-MG como título nacional baseou-se nos requerimentos feitos por diversos clubes e que deram origem à resolução de 2010 que alterou o ranking de conquistas e a ordem dos campeões. Como não existia requerimento formalizado pelo clube mineiro sobre o torneio agora conhecido, a análise ficou inviável à época, mas a apresentação de um dossiê e outros pareceres jurídicos mudou esse quadro.
Que fique claro que não está se retirando o mérito do Atlético-MG ter vencido um torneio importante daquela época, mas é preciso relembrar que, naquele período histórico, o profissionalismo e o modelo amador conviviam juntos e eram motivos de debates acalorados desde a década de 1920.
Em alguns estados da federação havia, inclusive, a existência de mais de uma entidade organizadora de campeonatos e não havia recursos nem logística de transporte para que a maioria dos clubes pudessem sair de suas regiões. Todo esse cenário se refletia também na Seleção Brasileira, que era convocada ou representada numa partida ou campeonato por uma equipe paulista ou carioca, a depender dos alinhamentos políticos nos centros decisórios do país.
Para se ter uma ideia, na Copa dos Campeões Estaduais de 1937, só participaram clubes que migraram para o modelo profissional, como os campeões estaduais Fluminense (Guanabara, então capital federal), Atlético (MG), Rio Branco (ES), e como convidados o Aliança (representando a cidade de Campos - RJ) e a Liga Esportiva da Marinha (RJ), ambos eliminados na fase preliminar.
A Portuguesa de Desportos representou o futebol paulista porque os principais clubes do estado (Corinthians, Palestra Itália, Santos, Juventus e o recém-fundado São Paulo) ficaram fora da competição porque romperam com a Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA) e passaram a integrar a Liga Paulista de Futebol (LPF). Em sua campanha, o Atlético-MG foi goleado na estreia por 6 a 0 pelo Fluminense, empatou em 1 a 1 com o Rio Branco e, na sequência, venceu a Portuguesa por 5 a 0, o Fluminense por 4 a 1, o Rio Branco por 5 a 1, e novamente a Portuguesa, desta vez por 3 a 2, ficando com o título.
Consta no documento da CBF, que a Conmebol e a Fifa devem ser notificadas da decisão “para devidos fins” e, ainda, que o reconhecimento não vai provocar mudanças em rankings de clubes mantidos pela entidade, em especial o Ranking Nacional de Clubes (RNC), assim como os mantidos pelas entidades sul-americana e mundial.
Silvio Tudela
Silvio Tudela
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