Estarão contados os dias de Abel Ferreira no futebol brasileiro?

Apontado como um dos favoritos ao posto de novo treinador da Seleção Brasileira, ele desdenha de quase todos aqueles que não fazem parte do tal "pacto" que ele sempre invoca. Abel Ferreira tenta insistentemente provar que os rivais não sabem jogar esportivamente, que os juízes não apitam com competência e isenção, que os torcedores de seu time não sabem como torcer e que os jornalistas não entendem nem mesmo o que perguntam. Mas, desde sua chegada ao Palmeiras, em outubro de 2020, o treinador português transformou o clube paulista em uma das potências do futebol sul-americano.

Com um estilo pragmático e uma abordagem tática consistente, o treinador português acumulou títulos, mas também protagonizou momentos polêmicos com jogadores, arbitragem, clubes adversários, torcedores e jornalistas. Em outras palavras, é ele quem gosta de pautar todo o ecossistema do futebol brasileiro.

Conquistas expressivas

Com contrato alinhado até o final do ano, importantes competições e o fantasma do Novo Mundial de Clubes da FIFA pela frente, a passagem do treinador português pelo time paulista é marcada por uma era de conquistas expressivas. Ele levou o clube ao topo do futebol continental ao vencer duas edições seguidas da Copa Libertadores da América, em 2020 e 2021, com vitórias sobre Santos e Flamengo, respectivamente. Também levou a Recopa Sul-Americana em 2022.

Além disso, conquistou a Copa do Brasil de 2020 sobre o Grêmio, demonstrando um impacto imediato. No cenário nacional, brilhou ao conquistar dois Campeonatos Brasileiros com campanhas memoráveis e reviravoltas emocionantes. Em 2022, assumiu a liderança na 10ª rodada para não mais largar e terminou oito pontos à frente do segundo colocado, o Internacional. Em 2023, protagonizou, na reta final, uma histórica virada após estar perdendo por 3 a 0 para o Botafogo, líder absoluto até então, assumiu a primeira posição na 34ª rodada e chegou ao título. O Grêmio foi o vice e o abalado Glorioso pelo 4 a 3 sofrido terminou em sexto lugar. Ainda conquistou a Supercopa do Brasil em 2023, consolidando ainda mais o domínio palmeirense no futebol brasileiro.

No tradicional e disputadíssimo futebol estadual paulista, Abel Ferreira garantiu três títulos paulistas consecutivos e sempre de virada no segundo jogo: contra o São Paulo na final de 2022, o Água Santa em 2023, e o Santos em 2024.

Conflitos e polêmicas

Apesar dos títulos, Abel Ferreira também enfrentou momentos de frustração. No Mundial de Clubes da FIFA, não conseguiu alcançar o título que o Palmeiras não tem em duas oportunidades, sendo derrotado pelo Tigres em 2020, na pior campanha de um clube brasileiro no torneio, e pelo Chelsea em 2021 na grande final. As campanhas na Libertadores da América de 2022 e de 2023 terminaram de forma decepcionante, com eliminações diante do Athletico e do Boca Juniors, respectivamente. Em 2024, caiu para o Botafogo, de quem havia sido o algoz no Campeonato Brasileiro do ano anterior. No Paulista de 2021, viu sua equipe perder o título para o São Paulo nos pênaltis, e em 2025, deixou escapar e a possibilidade de um inédito tetracampeonato frente ao arquirrival Corinthians. Os últimos desempenhos já são vistos para muitos como o fim da Era Abel Ferreira e uma sinalização para uma possível despedida do time alviverde.

Além dos desafios esportivos, o treinador português se destaca por sua intensidade e personalidade forte, o que o colocou em meio a diversas polêmicas. Houve episódios de atrito com jogadores de grande desempenho no time e sua relação com a arbitragem também é conturbada, com constantes reclamações e punições, com duros protestos contra o trabalho dos árbitros, especialmente pelo uso do VAR.

Os embates com clubes rivais também marcaram sua passagem pelo Palmeiras. A rivalidade com o Flamengo foi intensificada por trocas de farpas entre o treinador e dirigentes do clube carioca. Também criou polêmica ao afirmar que o Palmeiras havia eliminado o Atlético Mineiro, "o time da mídia" na Libertadores de 2021. Com a imprensa não foi diferente e Abel Ferreira demonstra impaciência em diversas entrevistas coletivas, respondendo de maneira ácida e ríspida a perguntas que considera irrelevantes sob o seu ponto de vista.

Mesmo com uma sequência vitoriosa de títulos, a relação com a torcida vive entre altos e baixos. Enquanto foi idolatrado por grande parte dos palmeirenses, também enfrentou críticas após eliminações dolorosas, como a queda diante do Boca Juniors em 2023 na principal competição continental. No entanto, seu estilo de jogo eficiente, a valorização de jovens talentos e sua postura competitiva consolidaram seu legado como um dos maiores treinadores da história do clube, que vê a sua passagem como uma nova Academia de Futebol, alcunha concedida por toda a imprensa brasileira e por torcedores de diversos times às equipes mais que vitoriosas do Palmeiras. A Primeira ocorreu na década de 1960, a Segunda nos anos 1970, e a Terceira na "Era Parmalat" em meados dos anos 1990.

O futuro de Abel Ferreira

Independentemente das polêmicas e dos questionamentos sobre sua continuidade, Abel Ferreira já deixou uma marca indelével no Palmeiras. Seu trabalho não se limitou aos títulos, mas também ao fortalecimento da identidade competitiva do clube e ao desenvolvimento de talentos como Endrick, Danilo e Estevão. Não à toa e bem ao seu estilo, escreveu em conjunto com sua equipe técnica formada por Carlos Martinho, João Martins, Tiago Costa e Vitor Castanheira, o livro "Cabeça Fria, Coração Quente" contando seus primeiros anos no time paulista. A obra teve 100% dos direitos de autor destinados às ONGs Amigos do Bem, Instituto Ayrton Senna e Projeto Cesta de Três.

Sinônimo de vitória, emoção e intensidade, o treinador, cotado por muitos como o melhor nome para assumir a Seleção Brasileira, já se tornou uma figura inesquecível para o torcedor palmeirense e para o futebol brasileiro, para desgosto dos adversários. Resta saber se o que já conquistou por aqui e o futuro resultado no Mundial de Clubes serão suficientes para mantê-lo no Brasil.

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