A revelação de um acordo negociado, em total sigilo, por seis meses, entre a Conmebol e os presidentes de três federações candidatas a sediar a Copa do Mundo de 2030, mudou os rumos do futebol dos próximos anos.
Numa grande jogada política e financeira, a FIFA decidiu, de forma surpreendente e com um ano de antecedência, que Argentina, Uruguai e Paraguai vão sediar as partidas de estreia de suas seleções e que o restante do Mundial do Centenário será disputado em Portugal, Espanha e Marrocos, que faziam parte de uma candidatura conjunta que competia em pé de igualdade com os sul-americanos.
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Nessa rasteira dos países da Bacia do Prata, quem saiu no prejuízo foi o Chile, que ficou fora do acordo e desejava sediar o evento em parceria com os vizinhos sul-americanos.
Sem poderio econômico para competir com os ricos países europeus, que querem ver a Copa do Mundo de volta ao Velho Continente, e mergulhados em instabilidades políticas e crises financeiras, os cartolas sul-americanos aceitaram a oferta como um prêmio de consolação.
Numa saída política e costurada pela Conmebol, fizeram valer a moeda de troca pela eleição de Gianni Infantino para a presidência da FIFA e contentaram-se com muito pouco, quando poderiam ter brigado acirradamente pelo Mundial de 2030.
Ao mesmo tempo em que atendeu aos interesses da cartolagem sul-americana e contemplou Portugal e Espanha como países-sede na Europa, a FIFA completou sua geniosa manobra incluindo Marrocos na competição, satisfazendo os desejos africanos de receber o evento, após 20 anos.
Com todo mundo feliz politicamente e antevendo uma ampliação de sua renda em mais de US$ 1 bilhão com a passagem de 32 para 48 seleções já em 2026, segundo um estudo interno de alguns anos atrás, a decisão também exime a FIFA de abrir uma árdua concorrência sobre quem deve sediar o Mundial de 2034.
A jogada de mestre da entidade consolida o que há décadas era pura especulação: a realização do torneio em uma das potências emergentes do Oriente Médio ou conjuntamente entre Ásia e Oceania. E nesse cenário, a mais que trilionária Arábia Saudita aparece como favorita, após se tornar nestes últimos anos um verdadeiro polo de atração dos melhores atletas e técnicos para seu campeonato nacional.
Se em 2026, a Copa do Mundo volta ao país mais rico do mundo e avança transversalmente pelos vizinhos e, em 2030, incendeia as torcidas mais apaixonadas do planeta separadas pelo Oceano Atlântico, é praticamente certo também que a qualidade técnica do torneio vai cair, pois equipes mais fracas serão classificadas e certos jogos não devem ser tão atrativos. Isso inclui até mesmo o enfraquecimento das Eliminatórias, pois mais equipes disputarão o torneio e três equipes já entram diretamente em 2026 e seis em 2030.
Apesar da grandiosidade anunciada, dirigentes esportivos éticos, jornalistas de credibilidade e torcedores apaixonados pelo futebol criticaram a atitude da FIFA.
Em resumo, viram na decisão uma absurda falta de ligação com a história do evento, muita ganância envolvida, e a triste constatação de que o futebol se transformou, sem pudores, em uma mercadoria qualquer.
Mais que isso, uma Copa do Mundo disputada em seis países por três continentes desestimula aqueles torcedores que, tradicionalmente, viajam acompanhando suas seleções pelos jogos. Com esses formatos, agora terão não apenas de cruzar fronteiras, como em 2026, mas um oceano inteiro, em 2030.
Em documentos transmitidos mundialmente e divulgados nas redes sociais, os dirigentes dos países escolhidos e membros do Conselho da FIFA reforçaram que a decisão histórica transmite uma grande mensagem de união, paz, tolerância e inclusão.
Para além do blá-blá-blá, com a FIFA mais rica do que nunca num esporte que vive seu apogeu financeiro, a decisão anunciada muda para sempre a história das Copas do Mundo e confirma que o torcedor e o futebol não estão sendo levados em consideração.
Sílvio Tudela
Sílvio Tudela
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