Pelo bem do futebol, o Campeonato Brasileiro precisa ser paralisado! E uma boa parcela de árbitros está disposta a dar esse grito de liberdade por não aguentarem mais tamanha indiferença e pouco caso por parte do presidente da CBF que, em respeito ao futebol, deveria ter vergonha na cara e renunciar.
Este trecho da nota da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (ANAF), que foi divulgada com o nome do presidente da entidade, Salmo Valentim, na semana que passou, revela que a relação entre os apitadores e a CBF não é das melhores e que essa briga pode ser longa. Esta manifestação da ANAF aconteceu logo após John Textor, dono da SAF do Botafogo, apresentar, na CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, os relatórios da Good Game que, segundo ele, embasam as acusações de resultados forjados nas partidas dos campeonatos passados.
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Verdade seja dita, o início do Campeonato Brasileiro, logo em sua primeira rodada, já foi marcado por grandes polêmicas de arbitragem e segue em alta temperatura pelas intensas movimentações nos bastidores. Mas nada indica que pode parar porque as tais provas ainda não apareceram e os interesses econômicos devem falar mais alto. Além disso, as duas principais associações de árbitros do país estão em lados opostos e também brigam pelo poder de ser a única instituição com credibilidade para falar sobre a categoria.
Mesmo sem a adesão da maioria dos árbitros do quadro nacional e rompida com a Confederação Brasileira de Futebol desde 2022, a ANAF deseja paralisar o torneio por entender que a competição está em xeque, há árbitros insatisfeitos e dispostos a protestar nas próximas rodadas.
A entidade acusou Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, de não pagar os salários dos profissionais do apito do futebol feminino, e Wilson Seneme, presidente da comissão de arbitragem da instituição, de ser despreparado e não apresentar nenhum projeto desde que assumiu o cargo.
Em suas redes sociais, bem antes de defender a paralisação, a ANAF criticava as intenções do CEO do Botafogo: “Questionar a atuação dos árbitros no campo de jogo por uma falta não marcada, um pênalti deixado de ser assinalado ou uma advertência aplicada de maneira equivocada é uma coisa, afinal de contas somos seres humanos. Agora, dizer que na arbitragem brasileira há árbitros que se ‘vendem’, é uma acusação gravíssima que põe em xeque não só a categoria, como também toda a estrutura da CBF.”
Para botar mais lenha na fogueira, o Botafogo enviou ofício à CBF pedindo que Raphael Claus fosse retirado da escala do clássico de domingo, contra o Flamengo, bem como a árbitra de vídeo Daiane Muniz. O clube também solicita que o juiz não seja escalado para jogos do clube ou de qualquer equipe enquanto a CPI, que tramita no Senado, não acabar.
Em resposta, a Associação de Árbitros de Futebol do Brasil (ABRAFUT), que é parceira da CBF e se diz a única autorizada a falar em nome da categoria, emitiu nota para a imprensa e disse, em outras palavras, que as graves e reiteradas ilações proferidas por John Textor ainda não foram alicerçadas e corroboradas por qualquer prova, e que o mesmo cita dois dos mais respeitados árbitros do Brasil, América do Sul e do mundo, sem o mínimo de responsabilidade ou prova, apenas por opinião pessoal baseada em subjetividades. Nas redes sociais, em nota oficial, convocou o Sindicato dos Atletas a contestar as acusações de John Textor.
Na sequência, a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas aprovou requerimento para que os árbitros Raphael Claus, Daiane Muniz, Wilson Seneme, Ednaldo Rodrigues e outros importantes nomes do esporte nacional sejam ouvidos como testemunha. Em seu requerimento, o senador Jorge Kajuru (PSB-GO), presidente da comissão, citou lances com a dupla na equipe de arbitragem nos jogos Flamengo 2 x 1 Botafogo e Vasco 4 x 2 Fluminense, ambos pelo Campeonato Brasileiro do ano passado, e Palmeiras 2 x 2 Corinthians, pelo Campeonato Paulista de 2024.
Na outra ponta, em entrevista a um programa de televisão, Leila Pereira, atual presidente do Palmeiras, chamou John Textor de "idiota" por conta das acusações e ainda ironizou o empresário ao lembrar da virada alviverde sobre o alvinegro, no Campeonato Brasileiro do ano passado: “Eu acho que ele ficou louco por causa disso. Tudo começou no 4 a 3, pode ter certeza disso, ele não esquece disso. Não esquece!”.
As arbitragens brasileiras vistas de fora
No início de março, um relatório da Sportradar, empresa líder global em tecnologia esportiva, apontou o Brasil como o país com maior número de jogos suspeitos de manipulação pelo segundo ano seguido. Foram 109 eventos, todos no futebol, sendo 94 em torneios de federações estaduais e 15 em competições da CBF. A República Tcheca, segundo país na lista, tem 67 partidas.
Na verdade, nem o mais fanático torcedor consegue afirmar com exatidão quantas vezes seu time foi supostamente prejudicado (e muito menos beneficiado) pela arbitragem, mas sempre tem sua lista preferida para justificar o resultado de seu time no placar final. Os acertos ou erros são sempre questionados pelas inúmeras interpretações que são feitas pelos árbitros de campo e de vídeo, comentaristas, juízes, treinadores, atletas e dirigentes.
Silvio Tudela
Silvio Tudela
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