Um grupo de indígenas mantém, há mais de 25 horas, um protesto na BR-101, no extremo sul da Bahia, para exigir a soltura de Welington Ribeiro de Oliveira, o cacique Suruí Pataxó. Ele foi preso em uma ação da Força Nacional de Segurança. Durante a manifestação, o caminhão de uma empresária foi depredado e incendiado.

O protesto ocorre na altura de Itamaraju, próximo ao Parque Nacional do Monte Pascoal. Até esta terça-feira (8), a rodovia segue totalmente bloqueada e o engarrafamento já supera os 20 km.
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A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou ao g1 que a manifestação é pacífica, mas que houve violência na segunda-feira (7). Uma empresária de 40 anos, identificada como Elaine Tschaen Schneide, foi agredida por indígenas ao tentar furar o bloqueio. O caminhão dela foi danificado com paus, e ela foi retirada do veículo e levada até os policiais. Além disso, o rosto dela foi marcado com urucum, tinta vermelha feita com sementes do urucuzeiro.
Em depoimento nas redes sociais, Elaine explicou que tentou seguir o fluxo de outros veículos, mas foi cercada por uma multidão que bateu no vidro do caminhão e enfiou lanças no veículo. Ela também relatou que teve seu celular quebrado. "Puxaram meu cabelo, me jogaram no chão e me empurraram. Eu implorei, pedi desculpas, disse que não fiz por maldade, só queria ir para casa, pois tenho um bebê", contou.
A empresária registrou boletim de ocorrência (BO) por dano e ameaça.
Prisão do cacique

O cacique Suruí Pataxó e outras duas pessoas foram presos no dia 2 de julho pela Polícia Federal (PF) após serem flagrados com armas no território indígena de Barra Velha, zona de tensão agrária em Porto Seguro.
A Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) repudiou a prisão, afirmando que o cacique é defensor dos direitos humanos e sofre ameaças de morte há anos.
O g1 entrou em contato com a Polícia Federal (PF) para saber se o grupo estava armado e qual o crime específico pelo qual o cacique foi autuado, mas não obteve resposta.

O Conselho de Caciques do Território Indígena Barra Velha de Monte Pascoal também se manifestou, denunciando que a prisão foi conduzida sem mandado e teve caráter "claramente político e persecutório".
A abordagem, segundo a entidade, visou incriminar o cacique por ser uma liderança na luta pelos direitos dos povos indígenas. A nota também destacou que os três presos, entre eles dois adolescentes, sofreram tortura física e psicológica durante o deslocamento.
A Apoinme revelou que as autoridades fizeram cinco paradas durante o trajeto, todas marcadas por agressões verbais e ameaças, configurando "grave violação dos direitos humanos".
Nota do Ministério da Justiça e Segurança Pública
O Ministério da Justiça e Segurança Pública confirmou os fatos ao g1 Bahia e disse que a atuação da Força Nacional na região prioriza a preservação da vida e o respeito à cultura e aos direitos dos povos indígenas. O órgão afirmou que os agentes são treinados para atuar em contextos de alta complexidade, com foco na resolução pacífica de conflitos e na proteção dos mais vulneráveis.
O Ministério também reiterou seu compromisso com a luta dos povos indígenas e afirmou que está à disposição para o diálogo com todas as comunidades envolvidas.
Reforço policial na região
Os agentes da Força Nacional de Segurança Pública chegaram a Porto Seguro no dia 28 de abril, após uma série de conflitos entre indígenas e fazendeiros da região. O grupo permanecerá no município por 90 dias, conforme anunciado no dia 17 de abril, dois dias antes do Dia dos Povos Indígenas.
A Força Nacional é composta por policiais militares, bombeiros, policiais civis e peritos, sendo acionada em situações de emergência.

Redação iBahia
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