Praia, sol, acarajé... Você sabe que todos esses elementos fazem parte de Salvador, não é? Mas quer saber outro que também tem a cara da capital baiana? O cafezinho! Ou melhor, os carrinhos de café que circulam pela cidade.
O iBahia foi para as ruas para fazer uma viagem pela história da tradição que garante a presença do famoso menorzinho. Bora ali?
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Para esse passeio, acompanhamos Cris, que vende café há 19 anos em diversos bairros, mas começou sua trajetória na Lapa. Ela acorda todos os dias às 2h30, para preparar a mercadoria e chegar no ponto de venda às 6h.
De acordo com vendedora, o começo da sua trajetória foi muito difícil, além da dificuldade financeira, Cris relata que precisou sair da terra natal, em São Felipe, interior da Bahia, para tentar 'ganhar a vida' em Salvador.
"Olha, a minha trajetória de vida era pouco difícil. Sou natural de São Felipe e vim [para Salvador] em busca de uma qualidade de vida melhor, de uns estudos, de um trabalho, mas devido à dificuldade, foi complicado para conseguir um emprego, então foi aí que comecei a trabalhar com café", disse Cris.
Os clientes de "Cris Café" pagam entre R$ 2 a R$ 12. São 12 horas de trabalho, de segunda a sexta-feira. A moradora do bairro da Boca da Mata tem muito orgulho do trabalho que faz e tem no repertório mais de 102 tipos de café, que vão do tradicional preto até uns diferentões com álcool.
"Eu trabalho com preto, leite, nescau, canela, capuccino, mesclado, amendoim, abacaxi, gengibre, hortelã, manjericão, apimentado que vocês irão gostar e muito amor", enfatizou a ambulante.
E não é de hoje que tomar café do carrinho acontece, essa tradição faz tão parte do cotidiano baiano, que é considerado um patrimônio da cidade de Salvador.
Segundo Ricardo Carvalho, professor e historiador, patrimônios não são apenas tradições antigas e que remetem ao passado, mas sim, costumes que ganham forma com o povo e para o povo.
"Mesmo sendo mais contemporâneo [os carrinhos de café] fazem parte do que nós somos, né? Está incorporada a fisionomia cultural da cidade do Salvador, está no nosso cotidiano. Então, isso é importantíssimo para os vendedores de café e para beleza da cidade, pois nós somos um povo que valoriza aquilo que está incorporada na nossa cultura", explicou o estudioso.
E já que estamos na Bahia, tudo aqui respira arte, não é? Prova disso é que a própria tradição dos carrinhos de café ganhou até um evento para premiar o veículo mais bonito.
O concurso 'Salvador Vai de Cafezinho' tem como objetivo a preservação do ofício dos vendedores de café da capital baiana, buscando o reconhecimento como patrimônio cultural. Para isso, uma série de iniciativas são feitas, incluindo oficinas, documentários, aulas, programas de capacitação, desfiles com premiação e exposições dos participantes destacados.
De acordo com Edvard Passos, idealizador do concurso, essas ações são dedicadas a celebrar e valorizar tanto os vendedores de café quanto seus característicos carrinhos, que são verdadeiras obras de arte ambulantes.
"Eu me dei conta de como já tinha muito tempo que os cafezinhos estava sem um projeto cultural que contemplasse eles, né? Então, ainda na pandemia eu coloquei a proposta do 'Salvador Vai de Cafezinho' que começou como um projeto com três vertentes: o desfile com premiação, oficina do carrinho de café e uma terceira ação que é reunir os vendedores em uma espécie de associação", afirma o produtor cultural.
Para Cris Café e seus clientes, o reconhecimento como patrimônio cultural imaterial dos carrinhos de café será uma forma de ter um olhar maior para essa prática tão soteropolitana e cultural.
Aline Gama
Aline Gama
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