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MÚSICA

Aos 12 anos, rapper MC Soffia enfrenta racismo com música

Para cantora, o rap sempre foi sinônimo de força e resistência. Por isso, nada mais natural que usá-lo a favor de sua causa

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Redação iBahia

01/11/2016 às 15:10 • Atualizada em 28/08/2022 às 7:11 - há XX semanas
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Como qualquer criança de 12 anos, MC Soffia adora jogar futebol, brincar de boneca, andar de skate e pedalar. Mas, desde o ano passado, ela tem chamado atenção de todo o Brasil por um motivo menos óbvio: cantar contra o preconceito racial sofrido por muitas meninas e meninos como ela.
Negra, nascida na periferia de São Paulo, Soffia começou a cantar aos 6 anos. Para ela, o rap sempre foi sinônimo de força e resistência. Por isso, nada mais natural que usá-lo a favor de sua causa e defender em músicas como Menina Pretinha, uma das mais conhecidas do seu repertório, que tem orgulho da sua cor. “Foi aos 10 anos que eu comecei a escrever, a falar nas minhas músicas sobre algumas coisas que eu pensava e me incomodava”, diz a rapper mirim.

				
					Aos 12 anos, rapper MC Soffia enfrenta racismo com música

Seja com black power e lacinho ou com longas tranças coloridas, MC Soffia tem conquistado o país ao cantar rap contra o preconceito racial (Foto: Divulgação)

Tudo começou por influência da mãe, a produtora cultural Kamilah Pimentel. Foi ela quem apresentou à filha muitos dos artistas que hoje são referências para Soffia e também quem a orientou a não ceder diante do racismo, realidade que a garota conheceu bem cedo. “Hoje eu não ouço mais coisas sobre o meu cabelo ou sobre eu morar na periferia, mas eu ainda sofro com o racismo porque não vejo crianças negras na TV, não vejo o povo negro representado, só como empregado ou escravo”, critica Soffia. Ganhando o mundoO som de protesto de MC Soffia já está alcançando diversos cantos do país. Além de São Paulo, a garota, que ainda não lançou seu primeiro disco, já se apresentou em cidades como Rio de Janeiro, Maceió, Belo Horizonte e Brasília. E a lista só cresce: hoje, Soffia chega pela primeira vez a Salvador, cidade que ela sempre sonhou conhecer. “Será minha primeira vez aí e eu estou muito ansiosa. Só conheço Salvador pela TV e pelo que minhas avós dizem. As duas já foram passear aí e falam muito bem da cidade”, conta.
O show da cantora acontece no Pelourinho, um dos cartões-postais da cidade, intimamente ligado à história do povo negro. “Eu já ouvi dizer que os negros escravos eram castigados no Pelourinho, mas não sei muito sobre o lugar, quero conhecer. E também quero ver o mar”, confessa.
Para a mãe de Soffia, as viagens são um aprendizado. “Sempre oriento ela a fazer pesquisas sobre tudo. Quando a gente gravou o clipe Menina Pretinha, lá na Pedra do Sal, no Rio de Janeiro, ela pesquisou todo o contexto relacionado ao lugar. Descobriu que é um lugar de resistência negra, principalmente pela arte, através do samba. Isso tem a ver com nosso trabalho social e de militância”, resume Kamilah.
CarreiraA preocupação em até onde a precoce carreira artística deve ir para não atrapalhar os estudos nem a infância da garota é seguida à risca pela mãe. Para tudo tem horário, inclusive, para ceder entrevista à imprensa - Soffia conversou com o CORREIO no único dia da semana que tem uma pausa nas atividades da escola, onde estuda em período integral. “Na minha escola, as turmas não são divididas por séries. A gente não copia o que o professor escreve, nem ficamos presos em uma sala de aula. É muito legal”, descreve.
A mãe completa: “Tem essa preocupação de conciliar a infância com o lado artístico, porque como eu que cuido da carreira dela, é mais fácil equilibrar. Ela brinca muito, durante a semana frequenta a escola em turno integral, há finais de semana em que ela trabalha, outros em que ela passa com o pai. E ela chega a ter um mês inteiro sem nenhum compromisso”.

				
					Aos 12 anos, rapper MC Soffia enfrenta racismo com música

MC Soffia e a madrinha Karol Conká na abertura da Olimpíada Rio 2016 (Foto: Divulgação)

Soffia também comemora a possibilidade de, por conta dos palcos, estar próxima a seus ídolos. A rapper curitibana Karol Conká é uma delas e chegou a batizar a carreira da garota. Em agosto, as duas cantaram o empoderamento feminino durante a abertura das Olimpíadas do Rio 2016, no Maracanã. “Foi uma emoção enorme! Fiquei muito nervosa no dia, tremi demais, mas, depois disso, o palco não me assusta. Entro nos shows bem tranquila”, compara a cantora, que antes já havia se apresentado na Virada Cultural de São Paulo.
Para a mãe, essa relação entre fã e ídolos é muito interessante e positiva. “Os artistas têm muito carinho com a Soffia, a Karol Conka é um exemplo para ela. Tem a Ludmilla, a Lellêzinha do Dream Team do Passinho, todas elas são muito admiradas por Soffia”, conta Kamilah.
E a recíproca é verdadeira. Para Lellêzinha, Soffia é a criança que ela queria ter sido. “Eu falo para ela: ‘cara, eu queria ter sido você!’, porque se eu tivesse esse pensamento, essa estrutura familiar, essa atitude, eu seria outra criança. É muito importante ter a MC Soffia como inspiração das gerações que estão vindo aí”, diz.
E o recado de MC Soffia tem mesmo chegado às crianças e adolescentes. “Muita gente me diz que começou a aceitar o cabelo depois de ouvir minha música. Isso é muito importante. Meu público é todo mundo”, finaliza. Protagonismo negro é tema de encontroO Mês da Consciência Negra em Salvador será aberto com o Encontro & Africanidades, evento que discute o protagonismo negro. Hoje, às 20h, a noite será de festa na Praça Tereza Batista, no Pelourinho, com shows da rapper paulista MC Soffia, do grupo de funk carioca Dream Team do Passinho e do coletivo de DJs baianas Ovelhas Negras. Amanhã, o dia será de debate no Candyall Guetto Square. A programação começa às 10h, com a mesa #NaRoda Mulheres ARTivistas em 3 Gerações. O encontro reúne as cantoras Juliana Ribeiro, Tássia Reis, Lellêzinha e MC Soffia. Na ocasião, ainda será lançado o livro Negra Nua, da poeta Mel Duarte e acontecem uma feira empreendedora com 18 expositores e uma festa de encerramento. A renda obtida com a bilheteria do show será revertida para o Desabafo Social, organização criada em Salvador, em 2011, e que luta pela educação e pelos direitos humanos.

				
					Aos 12 anos, rapper MC Soffia enfrenta racismo com música

Dream Team do Passinho participa do Encontro & Africanidades; amanhã, Lellêzinha, única mulher do grupo, integra debate (Foto: Foto: Bob Wolfenson/ Divulgação)

Para Hiltinho, do Dream Team do Passinho, participar de um evento com essa missão condiz com o trabalho que o grupo vem estabelecendo. “O que o Africanidades proporciona faz muito parte do nosso dia a dia e vem complementar nossa agenda. Além de levar alegria e energia, principalmente para jovens e crianças, a gente também quer tratar de questões reais, nossas, que têm a ver com o lugar de onde a gente vem, o que a gente é, questões que estão ligadas à nossa negritude”, opina. Estética Além da coreografia e da música, o Dream Team do Passinho é conhecido também pelo figurino, sempre muito colorido e cheio de acessórios. “A gente sempre se preocupou com o visual e queríamos resgatar um african style, com essa coisa das cores e das batas, mas sem perder o espírito de rua, que é de onde a gente vem, do baile, da favela”, conta. Para Lellêzinha, que vai participar do debate ao lado de outras mulheres artistas e ativistas de diferentes gerações, a discussão estética está imbricada na questão do empoderamento negro e, sobretudo, feminino. “Eu passava química no cabelo desde muito nova, por conta daquela cultura de que cabelo crespo e cacheado não era bom. Teve um dia que eu cansei e decidi deixar meu cabelo na moral, real. Hoje, represento várias linhas de cosméticos voltadas para cabelos cacheados”, conta. O Encontro & Africanidades conta com apoio do CORREIO, que assina o lounge Afro Fashion Day e promove um bate-papo com MC Soffia, amanhã, às 11h, no Espaço Conceito Bazar, no 2º piso do Shopping da Bahia.

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