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Protagonismo e perspectiva

Batalhas de rimas abrem portas para jovens periféricos na Bahia

Ao iBahia, André Costa, idealizador da 'Batalha 3° Round' falou sobre articulação para realização das batalhas e do valor social do movimento

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Iamany Santos

05/12/2023 às 19:38 - há XX semanas
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Realizadas por jovens negros e de periferia, as batalhas de rimas são uma realidade em todo o Brasil. Além de ampliar perspectivas para jovens periféricos, elas são um dos "braços" do movimento Hip Hop e funcionam como espaço de produção cultural e artística. Esse cenário não é diferente na Bahia, onde a articulação para a realização dessas competições movimenta a economia e as comunidades.


				
					Batalhas de rimas abrem portas para jovens periféricos na Bahia
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Esse universo passou por um momento histórico no domingo (3). Kaemy, MC do estado de Goiás, tornou a primeira mulher na história da competição a conquistar o título. Além disso, a chegada do baiano Japa MC como semifinalista da disputa reforçou a potência do movimento fora do eixo Rio/São Paulo.

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Na Bahia, a seletiva estadual de 2023, organizada pela 'Batalha 3° Round', conseguiu reunir representantes de todas as regiões do estado.

Com atuação em 52 cidades baianas, para além de Salvador, a 3° Round conseguiu articular núcleos de batalhas e essa movimentação possibilitou uma seletiva mais justa e democrática. Em entrevista ao iBahia, André Costa, idealizador da 3° Round, contou que estabelecer um circuito sempre foi um objetivo da batalha.

"A terceiro já nasce como um circuito organizado. O objetivo é buscar o protagonismo de jovens negros e periféricos [e para isso] nós criamos um circuito que consegue agregar as batalhas de Salvador e do interior da Bahia", pontua André Costa, conhecido como Cosca.


				
					Batalhas de rimas abrem portas para jovens periféricos na Bahia
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Com esse circuito, foi possível estabelecer também um padrão e um conjunto definido de regras para as batalhas. Entre Cajazeiras, o Centro Histórico e a Federação, a capital baiana ferve com núcleos independentes de batalhas e essa articulação é essencial para estabelecer as competições.

"Por um período do ano essas batalhas trabalham em conjunto [conosco], tem um manual [ de execução] feito por nós. Quando elas entram no nosso circuito é preciso aderir as nossas regras de convivência", pontua Cosca.

A partir disso, a 3º Round consegue estabelecer padrões para além da estrutura da batalha. Falas homofóbicas e machistas, por exemplo, são proibidas nos eventos promovidos e fazem parte de um processo de "reeducação" dos Mc's e do público.

"[O objetivo] é que os Mc's realmente entreguem coisas criativas e não pederastia, homofobia e machismo através das rimas. Então, durante esse período essas batalhas devem seguir assim."

A história

Nascido na região da Suburbana, mais precisamente em Alto de Coutos, Cosca já atua nas batalhas de rimas há 13 anos. Também MC, o produtor de eventos já se envolvia com iniciativas do movimento Hip Hop e tinha interesse em ajudar a estabelecer a prática na Bahia.

A primeira "edição" de batalha promovida por Cosca aconteceu durante uma festa que ele fez com os amigo. Na ocasião, eles resolveram fazer uma batalha de rima e as pessoas gostaram tanto que eles precisaram repetir.

Com o objetivo de estabelecer a prática no estado de foram periódica, Cosca trocou muitas informações com os idealizadores da primeira batalha do Brasil, a 'Batalha do Real'. Fundada com a ajuda do baiano, Cesar Schwenck, essa competição revelou grandes nomes do Rap Nacional, como Marechal e Marcelo D2.

"A gente quis inserir [uma] batalha aqui muito pelo diálogo que estávamos tendo com o pessoal da Batalha do Real, lá no Rio de Janeiro, na Lapa, também idealizada por um baiano, o o Cesar Schwenck. Como ele era meu amigo eu perguntei como fazia e ele me mandou as regras", conta Cosca.

Com alguns percalços e mudanças de nome, a 3º Round conseguiu se estabelecer na Bahia se consagrando como a batalha mais antiga do estado, com mais de 10 anos de realização. Com a temporada iniciada sempre em março, no aniversário de Salvador, o grupo realiza edições das batalhas ao longo de todo o ano.

O ciclo se encerra em novembro, com a final da seletiva estadual que escolhe o MC baiano que irá representar o estado no 'Duelo de Mc's Nacional'. Atualmente, a organização do circuito de batalhas da 3º Round é feito por uma equipe de oito pessoas.

Criar condições para que os MC's possam viver das batalhas é um dos objetivos do grupo. Além da busca constante por editais e patrocínios, a organização já usou o método das inscrições para tentar custear as passagens e estadias de MC's, que vem do interior da Bahia.

Ainda que a profissionalização da prática continue sendo um horizonte, a comunidade envolvida no movimento tem possibilitado a realização das batalhas através do acolhimento dos artistas.

"A ideia do ano que vem é que o 3º Round consiga arcar com todos os custos", conta Cosca, que vê um futuro promissor para as batalhas de rima no estado.

Movimento negro, jovem e contemporâneo

As batalhas são, em sua essência, um movimento político e de resistência. Reforçando essa natureza, as edições da 'Batalha 3º Round' são sempre realizadas no Pelourinho, lugar historicamente marcado pela dor da população negra e afastado da realidade das pessoas que moram na periferia de Salvador.

"Começamos a temporada na Cruz Caída e [passeamos] pelos largos do Pelourinho. O objetivo é ressignificar a presença das pessoas pretas ali , como uma diáspora reversa. Ao invés de dispersar a gente une todo mundo ali. Ao invés de um lugar de dor, ser um espaço de celebração e de união"

Esse aspecto social e político é reforçado pela organização do evento com os MC's, em sua maioria jovens e negros, para ressignificar. "Uma frase que a gente sempre [repete] é 'novos futuros para os nossos', novos espaços, ocupar diferentes lugares da cidade, que vão para além da lógica das estatísticas, da TV e os jornais mostram."

Valor social e representatividade

Um dos maiores exemplos dessa representatividade e perspectiva é Laricio Gonzaga, atualmente com 27 anos, ele é o primeiro e único MC baiano a vencer o Duelo de Mc's Nacional. Hoje, o músico atua como host das batalhas do 3º Round e é exemplo para os MCs da nova geração.

Campeão nacional em 2014, com 18 anos, Laricio ficou longe das batalhas por um tempo devido a falta de retorno financeiro. "Eu parei porque precisava conseguir minha independência financeira", conta Laricio, em entrevista ao iBahia. O retorno dele a cena veio através de um convite feito por Cosca, que reconheceu na figura de Laricio a potência do movimento na Bahia.


				
					Batalhas de rimas abrem portas para jovens periféricos na Bahia
Laricio é o único baiano que possui um título nacional. MC conseguiu a conquista em 2014, quando tinha 18 anos. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Assim como para outros MC's, foi através das batalhas que Laricio conseguiu ampliar suas perspectivas sobre o mundo e as dimensões do próprio movimento. "Foi a primeira vez que eu sai do estado, andei de avião e vi o que era possível fazer [através desse movimento]. Vi que havia uma dimensão nacional e que haviam outras pessoas fazendo [ o que eu fazia]", relata.

Próximo dos artistas que participam das batalhas hoje, Laricio valoriza o aspecto social do movimento, que funcionou como válvula de escape para ele na adolescência. Grande conselheiro dos mais jovens, o MC ainda participa das batalhas e é admirado pelos colegas.

"Ele foi o mano que abriu as portas para todos nós. É um cara que está fora da mídia, mas a gente sabe a importância que ele tem. Ter ele no meio da gente é muito importante, pela perspectiva", diz Japa MC, um dos baianos que representou a Bahia na competição nacional de 2023 e um dos MC's mais reconhecidos do estado.

"Ele é paizão, um mestre. Ele estava lá [antes] e ganhou o que todo mundo que ganhar. Acho que a visão de nós todos é essa. É a representatividade, ele é daqui, participou das batalhas aqui e passou pelas mesmas coisas que a gente", afirma Yoga MC, que também um dos maiores representantes da Bahia.

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