icone de busca
iBahia Portal de notícias
MÚSICA

Bethânia revive infância e tradições do país no CD Meus Quintais

No disco, Maria Bethânia canta o interior do Brasil, para reverenciar o caboclo, os índios e o povo brasileiro

foto autor

06/06/2014 às 10:41 • Atualizada em 02/09/2022 às 3:53 - há XX semanas
Google News iBahia no Google News
O novo álbum de Maria Bethânia, Meus Quintais (Biscoito Fino), é uma viagem pessoal ao passado da intérprete. Para montar o repertório, a cantora de 67 anos lembrou-se de sua infância em Santo Amaro, quando ouvia, na voz de Dona Canô, músicas que caracterizam o interior do país, como a moda Lua Bonita (Zé Martins/Zé do Norte), que foi incluída na trilha sonora do clássico do cinema nacional O Cangaceiro (1953). A canção, que resulta em uma das mais belas gravações do disco, já havia sido registrada nas vozes de Dona Canô e Caetano Veloso num documentário sobre Bethânia, Pedrinha de Aruanda (2007), de Andrucha Waddington. “Mas foi na versão de Raul Seixas (no álbum A Pedra do Gênesis, de 1988) que eu me inspirei. Aquela gravação é extraordinária”, empolga-se Bethânia, que elogia também a versão de Inezita Barroso.
Velha índia O que motivou Bethânia a gravar Meus Quintais foi, segundo a própria cantora, “a vontade de cantar o homem do Brasil, o caboclo, o dono da terra, os índios”. Num intervalo entre um show e outro, teve o impulso de ligar para Chico César e convidá-lo para participar do trabalho. O amigo paraibano não hesitou e compôs, em homenagem a Bethânia, Arco da Velha Índia, que tem alguns dos versos que mais a encantaram: “O arco da velha índia/ É corda vocal insubmissa”. “Chico é um compositor iluminado. Joguei uma sementinha para ele e recebi duas canções. O pensamento dele tinha muito a ver com meu projeto. O Arco da Velha Índia é um dos poemas mais bonitos que já recebi”, elogia Bethânia. Chico César é o autor também de Xavante, sobre os índios, por quem Bethânia revela muito interesse: “O índio me inspira. Gosto do corpo nu deles, gosto de eles terem poucos pêlos e de eles saberem se esconder. Acho tudo isso bonito, me comove”. O envolvimento tão íntimo de Chico César com o trabalho acabou gerando uma pontinha de inveja em outra velha parceira de Bethânia: Adriana Calcanhotto. A cantora e compositora gaúcha mandou um e-mail para a amiga, cujo título era “Ciúmes do Chico César”. Em resposta à mensagem, a baiana convidou Calcanhotto para também se integrar ao projeto. Adriana então fez mais uma canção sobre o tema com o qual ela mais tem intimidade: o amor. A composição, embora estivesse à altura de suas outras belas criações, não era exatamente o que Bethânia queria naquele momento, já que sua intenção era cantar algo que mostrasse o Brasil. Iara Bethânia se sentiu à vontade para pedir à amiga algo mais específico, que tivesse a cara do Brasil: uma canção que falasse de Iara, a sereia da Amazônia que enfeitiça os homens e os leva para o fundo dos rios. Logo, nasceu Uma Iara/Uma Perigosa Yara. A canção logo conquistou Bethânia: “Adriana me disse que ainda ia fazer umas mudanças, mas, para mim, estava pronta. E achei lindo. Iara é a nossa sereia morena de olhos negros, ao contrário da europeia que é loira de olhos azuis e também é linda. Mas Iara é nossa”, brinca. O baiano Roque Ferreira é quem assina o maior número de composições: quatro, incluindo aí uma parceria com Paulo César Pinheiro, Folia de Reis. A canção, dedicada ao mais velho dos irmãos homens de Bethânia, Rodrigo, é uma referência às folias que Bethânia ouvia quando criança em Santo Amaro. Entre os instrumentos, o piano ganha um destaque especial no trabalho, com a participação de dois dos maiores pianistas brasileiros: André Mehmari e Wagner Tiso. O primeiro abre o álbum, em Alguma Voz, composição de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro. Tiso está em Dindi, de Tom Jobim (1927-1994) e Aloysio de Oliveira (1914- 1995). Bethânia já havia cantado Dindi com Vanessa da Mata, num show em homenagem a Tom Jobim, mas não havia gravado o clássico. No repertório, há apenas uma regravação: Mãe Maria (Custódio Mesquita e Davi Nasser), que Bethânia já havia cantado no álbum Pássaro Proibido (1976). Infância Para Bethânia, o clima de gravação era também o de um quintal, como aquele em que, durante sua infância, ela brincava com Caetano. Entre os irmãos mais velhos, era o mais próximo de sua faixa etária. “Era um privilégio tê-lo para brincar comigo. A gente se adorava e se dava muito bem. Gostávamos de observar o silêncio. Foi no quintal que aprendi o significado da água, da folha, do vento e onde aprendi a errar e acertar”. Mas, mesmo com tantas boas lembranças da infância e dos quintais, Bethânia garante que não sente falta daqueles tempos, que faz questão de carregar com ela. E a melancolia que em alguns momentos permeia o disco não tem relação alguma com nostalgia, segundo a cantora. A saudade de Dona Canô, claro, ela não nega. No encarte do disco, mais um trabalho caprichado do designer Gringo Cardia, está uma linda foto de Bethânia com a matriarca dos Velloso, em que a mãe descansa a cabeça no ombro da filha. A cantora lembra bem do dia em que a foto foi tirada. “Era a festa de 100 anos de minha mãe e a cidade toda (Santo Amaro) festejou a visita de Nossa Senhora. Minha mãe ficou muito comovida e, apesar de a gente aparecer de costas na foto, pra mim, é nítido que estamos sorrindo”. Matéria original: Correio 24h Maria Bethânia revive infância e tradições do país no álbum Meus Quintais

Leia também:

Foto do autor
AUTOR

AUTOR

Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!

Acesse a comunidade
Acesse nossa comunidade do whatsapp, clique abaixo!

Tags:

Mais em Música