Ser jogador de futebol já não é o único sonho possível para meninos e meninas no Brasil. Pelo menos foi o que acabou descobrindo Felipe Santana de Azevedo, de 22 anos, conhecido por Salvador e pela Bahia como Yoga MC. Ao lado de outros rappers, ele é uma das referências quando o assunto é MC de batalha de rima e uma das "caras" do trabalho feito por artistas de freestyle no estado.
"Quando eu era moleque eu achava que queria ser jogador de futebol, mas acho que eu só queria isso porque todo moleque queria. Conhecer as batalhas e a cultura hip hop me fez perceber que dá para mudar de vida com isso. Me deu perspectiva", afirmou Felipe, em entrevista ao iBahia.
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Foi em 2017 que Felipe começou a participar ativamente nas batalhas, mas já estava no mundo da música fazia tempo. Também compositor, ele não conseguia enxergar a música como um caminho possível, até ser apresentado às batalhas.
"Eu ia para a casa de um amigo depois da escola e ele me mostrava vídeos de MCs como o Emicida, MC King, lá do Distrito Federal, e eu me perguntava se eles faziam aquilo na hora. Depois disso, eu pensei em tentar", conta ele.
De uma brincadeira com os amigos, Felipe começou a levar as batalhas mais a sério se inspirando nos artistas que este movimento revelou. "O que me inspirou mesmo foi ver os vídeos da galera que já fazia e os exemplos de pessoas que começaram nisso e já estão em outro momento da vida delas, como o Emicida e o Orochi", conta ele.
Prático, de Felipe para Yoga o caminho foi simples. O que tem a melhor sonoridade? Qual o nome que poderia melhor se encaixar no cenário? A escolha do chamado "vulgo" foi uma decisão premeditada, assim como a decisão de trilhar o caminho das batalhas de rima.
Apesar de ter dois álbuns musicais já lançados, Yoga está focado nas batalhas e tem participado de eventos toda a semana. A oportunidade de ir para o Duelo de MC's Nacional fortaleceu esse compromisso.
Desclassificado na seletiva estadual após perder na final para o Japa MC, no dia 18 de novembro, Yoga conseguiu outra oportunidade na repescagem da competição. A batalha aconteceu online, no dia 26 de novembro, e reuniu representantes de todo o Brasil.
Ao lado do Japa MC, Yoga irá representar a Bahia no Duelo de MC's Nacional, que acontece no domingo (3), no Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Apesar das dificuldades estruturais para a realização da fase de repescagem, o MC e o sonho passaram para o nacional. Para ele, que está indo para essa competição pela primeira vez, a responsabilidade de representar a Bahia e a vontade de dar seu melhor são as sensações que permeiam o momento.
"A sensação é de responsabilidade porque tem vários manos e minas que fazem isso aqui [e] como eu que estou indo para lá eu sinto a responsabilidade. Preciso mostrar que a gente faz um bagulho de qualidade aqui também", conta.
Esse aspecto se reflete na vida de Yoga, que precisa estabelecer prioridades para continuar vivendo esse sonho. Estudante de artes na Universidade Federal da Bahia (Ufba), o MC precisou trancar o curso para seguir com o fluxo de viagens estabelecido pela rotina enquanto rapper de freestyle.
"Eu tranquei porque não dava para cursar o semestre com as viagens, então é assim que eu venho conciliando (risos). Mas essa [rotina] de ficar viajando para batalhar pede que a gente abdique de algumas coisas, como estar perto da família e dos amigos. [De certa forma], é um preço a se pagar pelo corre que a gente está fazendo", relata o MC que, apesar das dificuldades, conta com o apoio de amigos e da família.
'Todo mundo quer ter um nacional'
O valor do nacional, para o MC, passa pela valorização do trabalho dos rappers nordestinos e do que é feito na Bahia, por isso a participação na competição é uma etapa importante.
"[O nacional] é o ápice. As maiores batalhas do país acontecem no eixo Sul/Sudeste, então participar do nacional podendo fazer as seletivas no nosso estado e [competir] com MCs do Brasil todo é muito importante", comenta Yoga, que lembra das vitórias do baiano Laricio Gonzaga e do cearense MCharles e de como esses exemplos são inspirações até hoje.
"Todo mundo quer ter um nacional. É o que a gente tem", pontua.
A mudança na cena das batalhas de rima na Bahia, que hoje movimentam um grande grupo de pessoas no estado, é um aspecto positivo para que o nacional já não seja um dos principais títulos a se almejar.
"A cena está crescendo muito e acho que isso atrai patrocínio e investimentos. Aqui muita gente acompanha as batalhas, mas não necessariamente sabe onde é. [Por isso], acredito que vai chegar um momento em isso vai ficar tão grande que já não vai ficar escondido."
O Duelo de MC's Nacional será transmitido online, a partir das 15h, no canal do Youtube do Família de Rua, uma das organizadoras do evento.
*Sob supervisão do repórter Alan Oliveira
Iamany Santos
Iamany Santos
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