Nesta segunda-feira (23), a cantora e violonista baiana Márcia Castro apresentará um
pocket show, ao lado de artistas nacionais como o rapper Renegado (MG) e as cantoras Luê Soares (PA) e Lia Sophia (PA), no lançamento do edital Natural Musical Bahia onde artistas, imprensa e formadores de opinião estarão reunidos, a partir das 19h, no suntuoso Solar Cunha Guedes. Todos os artistas que participarão do evento foram contemplados pelo edital regional do Natural Musical. Márcia Castro lançou seu segundo disco da carreira solo, 'De Pés no Chão', dia 26 de março, no Teatro Castro Alves.
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Márcia Castro fará pocket show, no Solar Cunha Guedes |
O envio gratuito de propostas de pessoas físicas e jurídicas estarão disponíveis a partir
do dia 8 de maio e vão até dia 18 de junho pelo site do programa. O projeto investe R$ 1 milhão no Estado da Bahia e tem a música como o foco principal das propostas, tais como gravações de CD, DVD, shows e festivais, ou ainda projetos de resgate e preservação da memória musical brasileira por meio de livros, filmes, pesquisas, acervos, palestras e workshops para formação artística.
Veja também: Natura cria edital e festival na Bahia Visite o canal de música do iBahia E para falar sobre a chegada deste importante programa de incentivo à produção cultural local, o iBahia bateu um papo com Márcia Castro, que ainda falou sobre a consolidação da sua carreira no eixo Sudeste, política de editais, cenário musical contemporâneo de Salvador e o papel do artista independente na séc. XXI.
Confira a entrevista: iBahia - Qual a principal importância de ter sido contemplada (na gravação e lançamento do CD 'De pés no Chão') em um programa de incentivo como o Natura Musical? O Natura Musical é uma plataforma que possibilita o acontecimento da nossa arte. Isso é o mais importante. Além de ser um programa sério, comprometido, não apenas com o patrocínio pontual, mas com o andamento da produção artística do patrocinado, facilitando nossas ações e criando mecanismos de continuidade. Acho que esse é um grande diferencial do programa.
iBahia - Como tem sido o retorno da turnê 'De Pés no Chão' pelo Brasil? Excelente. Já faz quatro anos que eu tenho criado um diálogo com o eixo Sudeste, principalmente São Paulo e, nesse sentido, o programa foi essencial para a consolidação dessa expansão. Patrocinando o meu segundo disco (e o seu lançamento nacional em Salvador), o programa deu gás para o surgimento de diversas outras oportunidades nesse novo momento. E muita coisa tem acontecido. Tenho agenda de shows em lugares que nunca toquei, como Porto Alegre e Belo Horizonte. Devo isso ao patrocínio do Natura Musical, que criou esse efeito em cadeia.
'Muita coisa tem acontecido. Tenho agenda de shows em lugares que nunca toquei' |
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Cantora Márcia Castro no lançamento do CD 'De Pés no Chão', no Teatro Castro Alves; gravação e show de lançamento foram patrocinados pelo edital regiona |
iBahia - Como você avalia o atual momento da música baiana? Temos novos e ousados projetos - como a Orkestra Rumpilezz, BaianaSystem, Sanbone Pagode Orquestra, entre outros - que vêm ganhando destaque fora das fronteiras da Bahia e do Brasil... Vejo que a música contemporânea baiana tem lutado para ser vista e tem renovado o seu potencial criativo, dialogando tudo que temos de Bahia com uma linguagem mais universal, coisa que não víamos há uns 5 anos, pelo menos. Temos artistas, além desses citados, como Marcela Bellas, Mariella Santiago, Bemba Trio, Manuela Rodrigues, Mariene de Castro, Dão, Dois em Um, Claudia Cunha, Ronei Jorge etc… Começa a se criar uma cena que, para mim, é uma das mais fortes do Brasil, mais originais. Por isso, é essencial o surgimento de parceiros para expandir as fronteiras dessa cena.
iBahia - Falando em programas de apoio à Cultura, em sua opinião, os artistas e festivais independentes brasileiros estão dependentes dos editais? Vejo que já estamos saindo da fase de "dependência absoluta". Os editais aqueceram um mercado e paralelamente já existem outros modos de continuar com o que se inicia nos editais. Mas óbvio que ainda são os editais públicos a nossa maior fonte de apoio Cultural.
'A música contemporânea baiana tem lutado para ser vista e tem renovado o seu potencial criativo' |
iBahia - A atual política de editais e programas de incentivos fiscais, que foi reforçada por meio de um grande debate público na gestão dos ministros da Cultura Gilberto Gil e Juca Ferreira, apesar de contemplarem a diversidade cultural do país, de certa forma não afasta a iniciativa privada de patrocinar projetos de demanda espontânea e burocratiza demais o fazer artístico? Não penso assim. Pelo contrário, penso que os editais mostram para as empresas o quão interessante pode ser incentivar projetos culturais. Para nós, é essencial. O Estado, como único provedor de patrocínio cultural, é um modelo caduco. E burocrático. As empresas estão passando por um processo de "educação" para esse tipo de investimento. E o Estado é o patrocinador indireto. Com todas as críticas, vejo que tivemos avanços significativos na divulgação dos nossos trabalhos. Isso é real.
'Os editais mostram para as empresas o quão interessante pode ser incentivar projetos culturais' |
iBahia - Hoje o artista 'moderno' muitas vezes vem assumindo diversos papeis: além do artístico, ele é o relações públicas, produtor, empresário, gestor de mídias sociais, inscreve projetos etc. Nesse sentido, como você vem tocando sua carreira? Essa nova lógica é um tanto cruel. São muitas funções que nos sobrecarregam dia após dia. São muitos emails, projetos, entrevistas, reuniões, mídias sociais…. Temos uma demanda que 24h não comportam... E a arte, em si, se delega ao último plano. Tento inverter essa lógica, desacelerar. O mundo anda muito louco. Criativo será aquele que conseguir subverter essa voracidade contemporânea e ainda assim existir dignamente com a sua arte. Tenho tentado. E tento passar essa mensagem com a minha arte.