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MÚSICA

Igor Kannário pede paz em seus shows

Após associação de sua música com atos de violência, cantor afirma que só quer falar da vida na favela e levar alegria às pessoas

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31/07/2014 às 19:02 • Atualizada em 01/09/2022 às 17:20 - há XX semanas
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Polêmica e música são dois elementos que não faltam na vida de Igor Kannário. O cantor, que nasceu e foi criado na Liberdade e ficou conhecido com o Príncipe do Gueto, já teve sua música associada, por algumas vezes, a atos de confusão e violência, que aconteceram em seus shows. O artista luta contra isso e para que as pessoas conheçam melhor suas ideias. Por outro lado, não se deixa abater e segue emprestando sua voz ao povo da favela, que se reconhece e espelha nele. A despeito da discriminação, sua legião de fãs só cresce e sua trajetória foi, recentemente, registrada em um documentário nacional. Com agenda de shows cheia, ele comemora o sucesso do CD 'Só Pra Balançar'. Também planeja gravar um DVD. No próximo dia 5, lança um site e, no dia seguinte, o clipe da música 'Sai da frente que lá vem a zorra'. Kannário não para. Está em constante movimento. Diz que ainda tem 90% de criança dentro de si. Apaixonado pela família, exalta a mãe e a filha Laura (10), como as mulheres de sua vida. Na entrevista a seguir, você conhece melhor quem é Igor Kannário, um menino sonhador, que decidiu viver de música, esbarrou em muitos obstáculos, mas não desiste. Ele que ir além!iBahia - Junto com a preparação do CD tem novo clipe vindo por aí? Igor Kannário - O clipe está pronto e vai ser lançado no dia 6 e, no dia 5, tem o lançamento do site, que vai ter tudo sobre a minha vida, agenda e o projeto 'Kannário nas Comunidades'. Com este projeto vou para dentro das comunidades, conhecer projetos culturais, os talentos que existem dentro da favela. A gente vai pegar isso e fazer divulgação "zero 800" no meu site para dar oportunidades a eles. Vou procurar talentos como eu dentro da favela. A ideia é ir em todas as favelas.
E o clipe? Como foi feito? A direção foi feita por mim e a produtora ShowMix já pegou o finalzinho das gravações e deu aquela guinada, finalizando o trabalho. O clipe está com um conteúdo muito bom. Foi feito no bairro em que eu sou nascido e criado, na Liberdade. Foi uma coisa que a gente fez na rua mesmo e eu fiquei surpreso, porque eu consegui reunir uma boa quantidade de pessoas, de fãs, para passar a mensagem do que queria. Quando eu assisti, falei: "valeu a pena ter todo esse trabalho". A música do clipe é 'Sai da frente que lá vem a zorra', mas é uma zorra boa, do bem. É tipo dizer: "sai da frente que lá vem assunto, lá vem o príncipe ali mais uma vez falando a realidade do seu povo". A letra diz: eu não sou de baixar a cabeça pra ninguém. A gente olha assim e pensa: "como esse cara não vai baixar a cabeça pra ninguém?". Tem gente que quando se decepciona ou quando alguma coisa não dá certo, costuma de entregar e desistir. O conteúdo da música é esse: não vou baixar a cabeça pra ninguém; só pra Jesus Cristo e minha mãe. Isso é para a galera tomar aquela força e pensar: se o Kannário está dizendo, a gente não pode se entregar por qualquer problema, vamos seguir em frente. Essa música é uma resposta ao preconceito contra a sua música e a associação do seu trabalho à violência?Acho que o preconceito acontece por todos os lados e a discriminação, também. É uma coisa que virou moda e a gente não tem controle. Cada cabeça é um mundo. Tem pessoas que se acham rei, Deus e acham que têm poder para discriminar o outro. Mas eu já estou acostumado. Digo que estou vivendo uma ditadura, aquela onda que meus avós me contavam.. Mas é como eu falei, a gente não pode se deixar abater por essas coisas. As polêmicas não sou eu que faço, elas vêm até mim e eu sempre tenho respostas para elas. Estou fazendo de tudo para parar com essa perseguição e discriminação, assim como a associação de dizer que a música do Kannário induz isso ou aquilo.
De que forma essa associação mexe com você?Na verdade, as pessoas querem me culpar por coisas que eu não tenho culpa. Antigamente, não entendia o porque e hoje entendo da minha forma: sou um artista que veio da favela, sem estrutura empresarial - hoje eu tenho um empresário, uma produtora, uma assessoria -, então, um cara simples do gueto, que botou na cabeça que queria ser artista e representar seu povo; Deus abençoou e eu consegui ganhar uma popularidade que muitos não têm. Consegui ter o amor de pessoas, que, na maioria das vezes, nem me conhecem pessoalmente, mas fuçam a minha vida para saber. Eu considero essas pessoas inteligentes, porque como elas vão falar de mim se não me conhecem, nunca ouviram minhas letras, nunca foram no meu show? Quanto ao julgamento, vou fazer o que? Jesus Cristo foi crucificado! Hoje eu dilui isso na minha cabeça. Mais uma polêmica? Beleza... Vou chegar ali e desfazer essa polêmica. Virei especialista em mostrar para as pessoas que não sou nada daquilo que elas falam. Muita gente associa só porque ouviu alguém falar e não foi no meu show, não conhece as minhas ideias. E a minha ideia não é essa, pelo amor de Deus. Como eu ia induzir essas coisas? Eu sou pai, entende? A minha onda agora é fazer com que essa galera pegue a visão sobre mim. Não precisa me respeitar e tirar o chapéu para mim, mas tirem o chapéu para o povo pobre da favela. Se você me respeitar, eu sou obrigado a te respeitar, mesmo que não mereça. Não quero ficar brigando com as pessoas, mas pelo meu povo eu faço qualquer situação e tenho certeza que eles por mim.
Sua relação com os fãs é muito forte. No facebook existem várias páginas de fãs em sua homenagem. Como explica essa ligação? Costumo dizer que eles são meus advogados maiores, eles são muito fiéis. Eles vivem a mesma vida que eu vivo. Também são discriminados, porque são meus fãs. As pessoas olham torto porque eles idolatram a mim. Já disse a eles que não precisa me idolatrar, porque só devemos idolatrar a Deus, mas fico muito feliz e agradecido. Às vezes, fico emocionado e até em êxtase, porque não faço nada demais, só sou o que eu sou. Não provoco e nem fantasio nada para que eles tenham esse carinho por mim. Só mostro o que eu sou, assim com simplicidade, humildade, parceiro, gente boa, sangue bom.
Por conta dessas polêmicas, você já chegou a pensar em mudar seu estilo musical?Não. Não existe isso. A gente precisa estar preparado para cantar qualquer tipo de música. O artista é obrigado a estar preparado para todas as ocasiões, mas estilo, personalidade é coisa que não se muda, vem de você, é tempero, essência. Eu não tenho que mudar. Eu canto a realidade do povo do gueto, mas sou preparado para cantar qualquer tipo de música. Não posso mudar algo que meus fãs são meus fãs por causa dessa linha. Eles viram em mim um representante, um espelho, um exemplo e a voz deles; o que eles queriam falar eu canto, então, não posso mudar; eu tenho é que melhorar!
Você fez um documentário sobre sua vida. Como foi isso? Foi uma felicidade muito grande ser convidado para gravar um documentário sobre a minha vida, da minha raiz, de onde eu vim e como tudo começou e como fui intitulado como o Príncipe do Gueto. Foi muito emocionante, porque estive em lugares que não ia há muitos anos, vi pessoas que não via há muito tempo - pessoas que acreditaram em mim bem lá atrás, quando a gente nem imaginava que tudo iria tomar essa proporção que tem hoje. Você ir no bairro em que já morou, na casa em que morou, onde sua mãe trabalhou, ver o lugar onde subiu no palco pela primeira vez... rapaz, é muito emocionante. Esse documentário foi da TV Cultura, um programa chamado 'Rei das Ruas'. Eles vieram para Salvador e foram três dias de gravações na rua e no estúdio. Fizemos também um minishow fechado para fãs e foi lindo, eles adoraram. Foi gratificante para mim.
Como foi sua vida na Liberdade? Vivi minha vida inteira na Liberdade. Vim passar a morar em Stela Maris há dois anos. Minha vida inteira foi na favela e favela de verdade, quartinho de R$ 100. Tem gente que mora na favela e mora bem, eu vivi a favela de verdade, aquela coisa bem batalhada. Foi puxado, mas tenho isso como aprendizado e experiência de vida. Se não tivesse passado isso, não teria vontade de chegar e querer ser o que sou. Nessa escola da vida tem dois caminhos: o do mal e do bem e nem todo mundo está preparado espiritualmente para viver o bem. Graças a Deus, eu estive preparado para seguir o bem e deixei uma mulher entrar na minha vida, chamada Música. Ela que fez todo esse reboliço na minha vida e foi aí que tive a vontade de dar orgulho para a minha família e minha mãe, tive vontade de crescer, de lutar, de conseguir meus objetivos. Quando tem problema no meio é aí que a gente precisa ter raça e atitude.
Como foi esse encontro com a música? Meu primeiro show foi dentro da comunidade. Foi estranho porque nunca tinha cantado na vida, nunca tinha pegado no microfone. Eu tocava bateria, depois toquei pandeiro, surdo, e depois virei backing vocal, e aí no show o cantor não foi e eu virei cantor. Todo me tremendo, nunca tinha visto meio mundo de gente na minha frente. Eu era músico, que é diferente de ser cantor. Isso foi em uma lavagem que teve na Liberdade e tive esse convite. A partir daí foi como um vírus na minha vida. Gostei da brincadeira e isso se tornou verdade, um trabalho e o sustento da minha família e de mais 32 pessoas da minha equipe. É um sonho que virou realidade.
E hoje, você tem um processo para criar suas músicas? Eu canto o que eu vivo e o que as pessoas que vieram de baixo vivem. Toda hora invento alguma coisa, tipo alienígena. Vivo de sons, ideias, criações. É preciso estar sempre com uma novidade, sair da mesmice e surpreender quem está de fora. Trabalho quase 24 horas, ontem mesmo dormi 5h da manhã. Levo a noite toda estudando, vendo vídeos, procurando novas ideias para poder apresentar coisas de qualidade. Faço questão de fazer do meu show um espetáculo. E como está o trabalho com o CD 'Só Pra Balançar'? É para não deixar ninguém parado. É muito eclético e vem com mensagens, passando a ideia da vida real para as pessoas.Tem uma regravação de 'Força Estranha', um pagodeiro cantando MPB. Fiz essa regravação para brincar um pouco com a música, com a nossa pegada do pagode. É uma música de Caetano Veloso, gravada pelo rei Roberto Carlos. O CD está sendo bem aceito, já está tocando muito nas ruas. Fico feliz porque a galera aceita e entende o que está sendo cantado. No CD, tenho parceiros, tem composições minhas, mas é um livro aberto.Fora a música, quais são seus outros interesses? Digo que sou aquele cara maluco, gosto de tudo. Gosto de teatro, cinema... Queria ter mais tempo e ser uma pessoa normal para fazer tudo isso. Quando você é famoso, é diferente. Isso foi uma coisa que eu tive que me acostumar, porque sou daqueles de empinar arraia na rua e hoje não posso fazer mais isso, mas também não gosto de ficar trancado, muito tempo quieto. Ainda tenho 90% de criança e criança quieta está doente.
Explica qual a origem do seu nome Kannário!Eu tive a oportunidade de conhecer o cantor Belo, em uma fase da vida em que cantei no grupo Patrulha do Samba. Estava dando entrevista em uma rádio com ele e meu empresário me apresentou como o novo cantor da Patrulha. Ele perguntou: "E canta mesmo?". A gente começou a cantar na entrevista e ele disse: "E não é que é um canário. A voz é boa, nem parece que sua sua. Voz de negro, de cara grande, forte". Ele sugeriu que usasse o nome Igor Kannário, voz de passarinho.
Você passou por quantas bandas até seguir carreira solo? Comecei no Eclipse do Samba, aquela onda de juntar dinheiro para ensaiar e tocava em qualquer lugar. Depois foi para Coisa do Samba, que só tinha os meninos de 13, 14 anos, e agente tinha que tocar com alvará do juizado de menor nas casas de shows. Em seguida fui para o Suingue do P, Patrulha do Samba e Bronkka. Aos nove anos de idade eu já cantava e são dois anos de carreira solo. Mas eu ainda não estou satisfeito. Quero mais. Quero chegar aonde nunca ninguém chegou, sem pisar em ninguém e precisar desfazer de ninguém. Quero romper as barreiras do preconceito. Não sou de frequentar igreja, mas tenho fé. Deus não está guardado debaixo de uma casa, está no nosso coração e a fé vem de dentro de você.
Algum significado especial para suas tatuagens? Adoro tatuagem. Tenho meu microfone, porque todo cantor tem que ter um no corpo. Tenho duas coroas, o rei e a rainha - minha primeira rainha é minha mãe, depois vem a minha filha e uma suposta mulher. No pescoço, "por isso uma força me leva a cantar", porque eu me identifiquei muito com a música 'Força Estranha', que tem tudo a ver comigo. Fiz o nome da minha filha, Laura e uma gueixa no braço. No meio do peito, estou pedindo paz para a favela. É meu hobby, adoro me riscar. Disse a minha que ainda vou fazer o rosto dela nas minhas costas, quando ela ver, chego em casa tatuado.
[youtube zLptuwPmTpk]

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