A Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) nasceu no dia 30 de setembro de 1982, e, neste ano, celebra 40 anos de existência. Com a regência e a curadoria artística do maestro Carlos Prazeres, desde 2011, a OSBA se deparou com uma série de desafios em 2020, a partir do cenário pandêmico da Covid-19, que parou o mundo.
E, em meio à crise sanitária e humanitária, a Orquestra, assim como inúmeras companhias culturais, precisou encarar a missão de se reinventar.
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Em entrevista ao iBahia, o maestro Carlos Prazeres compartilhou sobre o processo de estreitar laços com o público baiano, tanto presencialmente como virtualmente. Além disso, o músico não escondeu a emoção de retornar aos palcos com direito a plateia completa, e garante uma temporada especial em comemoração ao marco de 40 anos da OSBA.
Confira a entrevista do iBahia com o maestro Carlos Prazeres:
OSBA nos palcos virtuais e o retorno dos espetáculos presenciais
iBahia: A OSBA completa 40 anos de existência. E, nesse meio tempo, vem solidificando cada vez mais a relação com os baianos. Como foi lidar com o público nos últimos dois anos, período marcado pelo isolamento, distanciamento e sem espetáculos presenciais devido à pandemia da Covid-19?
Maestro Carlos Prazeres: "Nós, desde o início, resolvemos voltar a nossa atenção para o virtual, porque era a maneira de estarmos conectado com o nosso público. Dessa forma, tivemos uma oportunidade de solidificar o nosso público em todo o Brasil, porque o virtual não conta limites.
Então, conseguimos viralizar duas vezes, conseguimos vários projetos interessantes, que, inclusive, fizeram uma intersecção com a cultura negra. Também tivemos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Lenine, Geraldo Azevedo e outros artistas trabalhando diretamente com a gente virtualmente, ou seja, também aproveitamos para ampliar nossos horizontes artísticos com a música popular.
Conseguimos fazer, virtualmente, um conteúdo de música clássica muito interessante para a Orquestra, que a gente pode trabalhar com calma em momentos mais tranquilos da pandemia. Então, eu acho que de alguma forma a gente acabou vivenciando esse momento triste, dando todo o peso a ele, mas ao mesmo tempo, a gente conseguiu alcançar uma plateia maior ainda".
iBahia: Quando e como foi o retorno da OSBA aos palcos presenciais?
Maestro Carlos Prazeres: "A primeira apresentação presencial foi a 'OSBA na França', um programa bem cuidadoso, bem íntimo. Um programa sem muito alarde, que fizemos como se tivéssemos voltando aos poucos, com cuidado. Um programa muito delicado, francês, e com um olhar francês sobre a morte.
Um olhar também de uma forma elevada, de forma impressionista, digamos assim, e foi esse o olhar do concerto 'OSBA na França', foi assim que voltamos. Não voltamos de cara com o carnaval, de cara com um concerto muito espalhafatoso. A gente preferiu voltar com um concerto mais delicado.
A gente ficou muito feliz já no final do ano passado quando, mesmo de forma fracionada, a gente pode ter o nosso público de volta. A OSBA tem uma conexão muito importante, muito sólida com o seu público, a gente até apelida o público de público-crush. Eles já têm um nome, eles vêm empolgados, a gente tem um fã-clube, é a única orquestra do país que tem um fã-clube, que é super jovem.
E, acho que é muito interessante a gente buscar essa conexão cada vez mais forte. Então, voltar ao presencial foi um grande presente para a gente, a gente está muito emocionado. Com o próprio baile concerto, mais uma vez, a gente vê a Concha lotada e o público comungando com a OSBA".
Baile Concerto e potenciais homenagens para 2022
iBahia: O Baile Concerto aconteceu antes da abertura oficial da temporada e o homenageado da vez foi Moraes Moreira. Podemos esperar outras grandes homenagens a nomes da música baiana para a temporada de 2022-2023?
Maestro Carlos Prazeres: "Claro, podemos esperar sim. De uma forma ou de outra, com ou sem a presença deles, porque não sabemos como vai estar a agenda dessas pessoas, esse ano temos os 80 anos de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Então, é muito importante que a Orquestra Sinfônica da Bahia possa comemorar o aniversário desses dois ícones da história da música baiana. A OSBA não vai ficar de fora, com ou sem a presença deles, a OSBA vai homenagear Caetano e Gil esse ano".
Abertura da temporada de 2022-2023
No dia 11 de março aconteceu a abertura oficial da temporada 2022-2023 com a "Série Jorge Amado". Com a regência do maestro Carlos Prazeres e os solos do flautista Lucas Robatto, o programa contou com a "Sinfonia nº 1 em Dó menor, Op.68", de Johannes Brahms (1833-1897), e o "Concerto para flauta em Ré maior, Op.283", de Carl Reinecke (1824-1910).
iBahia: Como foi receber um público amplo para iniciar os festejos da Orquestra?
Maestro Carlos Prazeres: "A gente estava muito sedento, porque, mesmo anteriormente, fizemos apresentações com o público fracionado. E, dessa vez, a gente pode receber o nosso público em peso para assistir a abertura da temporada.
A gente ficou muito feliz porque foi um programa muito difícil e, ao mesmo tempo, mostrando que a OBSA está numa fase muito boa, muito virtuosa. É um programa que precisou ser feito, inclusive, para que a gente voltasse à nossa forma.
Como se diria nas linguagens do futebol, aquilo era um clássico, ou seja, a gente teve que jogar de maneira muito importante e decisiva. Estamos voltando aos poucos ao 'top' da nossa forma, afinal, foram dois anos parados. A gente sabe muito bem o que a gente ainda precisa correr atrás para a perfeição, mas eu acho que já começamos muito bem e apresentando momentos muito bonitos ao público".
10 anos de regência, 10 anos de história
O maestro Carlos Prazeres entrou em 2011 na OSBA sendo responsável pela regência e curadoria artística da Orquestra. O músico já acompanhou grandes nomes da música clássica, como Luciano Pavarotti, Montserrat Caballé, Nelson Freire, Milla Edelman, Dominique Merlet e Hélène Grimaud e apresentou-se ao lado de grandes companhias como o Ballet Kirov, Ballet Bolshoi (Rússia) e Ballet da Cidade de Nova York.
iBahia: Durante esses 10 anos de regência na OSBA, quais foram os momentos mais marcantes de lá pra cá?
Maestro Carlos Prazeres: "Posso dizer que alguns momentos foram muito marcantes. A turnê com o Gilberto Gil, em 2012, já começou sendo um momento marcante para mim. Posso dizer que a 5ª sintonia de Mhler também foi um momento muito marcante para a Orquestra, marcou o momento em que a Orquestra passou a ser gerida pela Associação de Amigos do TCA, isso foi muito importante para a gente entender esse momento como um momento de transformação vital na história da OSBA, o momento em que a sociedade civil passou a ministrar a OSBA.
Poderia colocar também alguns concertos que me marcaram muito. O último São João Sinfônico, em 2019, com a presença do João Cavalcanti, e também os 50 anos do TCA, que nós fizemos na Concha com o Gilberto Gil, Filhos de Gandhy, Baby do Brasil e Saulo. Esse concerto foi fenomenal, foi um concerto que me lembro com as melhores energias. Também a presença do Nelson Freire quando ele tocou aqui… Realmente, muito difícil elencar, ainda mais em ordem, momentos tão importantes".
A Orquestra Sinfônica da Bahia integra os corpos artísticos do Teatro Castro Alves (TCA). A companhia passou pelo processo de publicização em 2017, sendo gerida pela Associação Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA) desde então.
Para além disso, a OSBA segue como corpo artístico público, mantida pelo Governo do Estado da Bahia. Acompanhe a OSBA no Instagram e no YouTube, e se encante com os concertos da orquestra genuinamente baiana.
*Sob supervisão de Danutta Rodrigues
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Victoria Dowling
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