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'Bruna Surfistinha' vira médium e filha de santo

Foi no terreiro que ela teve alento após a morte do pai, em 2011, com quem não falava desde que saiu de casa

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16/02/2016 às 10:59 • Atualizada em 01/09/2022 às 10:59 - há XX semanas
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Famosa como Bruna Surfistinha, quando era garota de programa, Raquel Pacheco foi batizada na Umbanda. A moça agora é filha de santo e médium da Casa de São Lázaro, em São Paulo. De acordo com a colunista Eliane Trindade, da Folha de São Paulo, foi no terreiro que Raquel teve alento após a morte do pai, em 2011, com quem não falava desde que saiu de casa. Confira o relato dela à coluna: "Cheguei ao terreiro de forma inusitada. Não tinha contato com meus pais desde que tinha saído de casa, em 2002. Em agosto de 2001, tive um sonho com minha mãe. Ela aparecia sentada na sala, ao redor de várias caixas de papelão, onde guardava livros e objetos. Percebi que ela chorava querendo contar algo. Acordei assustada, com angústia. Eu era casada na época e disse ao meu marido: 'João, aconteceu alguma coisa com meu pai'. Ele disse que era só um sonho. Contei para as minhas amigas, mas todo mundo me tranquilizava. Uma delas frequentava a Casa São Lázaro e me chamou para tomar um passe. Só que eu tinha um pé atrás com a Umbunda, aquele preconceito de mexer com bicho, macumba. Na sexta, eu ainda estava muito angustiada, precisava falar com um guia espiritual. Minha amiga me levou à gira (sessão espiritual) de exu. E eu sempre tive pavor de exu. Morria de medo de Pombagira. Quando vi a corrente de médiuns, comecei a me emocionar, me arrepiei toda", conta.
"Senti uma paz que há muito tempo não sentia. Tomei passe com exu mirim (entidade que se apresenta como criança). Contei o sonho e ele pediu o nome completo dos meus pais, escreveu em um papelzinho e falou: 'tia, aconteceu alguma coisa que não posso contar. Você vai ter que procurar sua mãe e saber por ela'. Na mesma hora eu disse: 'Meu pai morreu. Ele não falou nada e se despediu. 'Na segunda, quero a tia aqui de novo'. Passei o final de semana naquela: ligo ou não ligo. Tinha certeza de que tinha acontecido alguma coisa com meu pai. Ao mesmo tempo, me senti confortada, com uma sensação de que 'aqui é o meu lugar'. Na segunda, esperei o João chegar em casa e finalmente liguei para minha mãe. Ela estava com uma voz estranha, parecia dopada. Eu falei: "mãe". Ela respondeu: "Raquel"?. Durante a conversa ela não se referiu nenhuma vez como filha. Contei do sonho e também que tinha ido ao centro. 'O guia me pediu para entrar em contato com a senhora. Eu quero saber'. Foi quando ela falou: 'Infelizmente, o Eduardo desencarnou na segunda da semana passada", completa. "Meu sonho foi na terça, na data do enterro. Foi uma batalha que eu perdi. Sempre tive esperança de reencontrar meus pais, de pedir perdão. Minha mãe disse que me procuraria depois que passasse o luto. Já faz quase cinco anos e nada por enquanto. Eu fiquei muito mal. Pensei em me jogar da janela. Desespero mesmo. Aí veio aquela frase: 'Tia, vou te esperar na segunda aqui.' Cheguei ao terreiro chorando muito. Uma mãe de santo viu meu desespero, largou a prancheta e me deu um abraço de mãe. Um abraço que me colocou de volta no lugar e me mostrou o amor que eu podia encontrar ali. Naquela noite, tomei passe e o Caboclo me tranquilizou. Disse que meu pai estava amparado, na luz. Um mês depois, teve a despedida de uma auxiliar do pai Alexandre [Meireiles, pai de santo e líder da Casa de São Lázaro]. Foi a primeira vez que eu incorporei. Estava numa roda, quando caí no chão. Meu coração acelerou e Filha de Exu Papau pensei que fosse morrer. Os guias me ajudaram. Eu incorporei na Pombagira. E foi uma experiência deliciosa. No começo de novembro, Seu Sete [uma das entidades que Alexandre Meireles incorpora] me chamou e disse: 'Dona Raquel, está na hora de a senhora vestir o branco, entrar na corrente e fazer o desenvolvimento da sua mediunidade.' Foi emocionante a primeira vez de branco no terreiro. É uma experiência de paz. Sou filha de Oxum e fui batizada em 2013", relembra. "[...] A Casa de São Lázaro foi um recomeço, um reencontro comigo mesma. Considero que há uma Raquel antes e outra depois da Umbanda. Estou mais tranquila, feliz, em paz. O terreiro é um dos poucos lugares que eu me sinto Raquel mesmo. Nas correntes, os médiuns nunca faltaram com respeito comigo. Nunca me trataram como Bruna. Sou Raquel desde o primeiro dia. Claro que as pessoas da assistência me olham, muitas me perguntam: 'Ah, você é Bruna?'. Eu respondo: sou e tal. Pedem para tirar foto. A Umbanda preencheu um vazio muito grande dentro de mim: a falta de fé. Nunca tinha me identificado com uma religião. A cada gira, o médium acaba se conhecendo mais e valorizando mais a vida. Parei de reclamar dos meus problemas, de meus pais não me aceitarem. Tenho saúde perfeita, uma vida profissional bacana como DJ. Quando estou auxiliando os guias, vejo muito sofrimento. Gosto de fazer desobsessão. É puxar os obsessores das pessoas. Me faz muito bem ajudar e ver o processo de tratamento", finaliza.

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