A cinebiografia da cientista brasileira Joana D’Arc Félix de Souza terá uma roteirista negra na equipe. De acordo com o diretorAlê Braga , o roteirista Alvaro Campos e a atriz Taís Araújo , que também produz o filme, o nome da profissional só não foi anunciado ainda devido à suspensão dos repasses da Ancine ao setor audiovisual.
— É chato anunciar que as pessoas estão no filme sem ter um contrato. Por enquanto, os nomes que divulgamos são os de quem criou o projeto — afirma Braga.
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Nesta semana, o projeto, que ainda é embrionário, atraiu atenção do público após Taís decidir não interpretar mais a protagonista, por ter a pele mais clara que a de Joana. A atriz explica que ainda não há um nome decidido, e que a equipe considera realizar testes de elenco. Porém, conforme antecipado pela colunista do GLOBO Patrícia Kogut, ela preparou uma lista de atrizes que considera apropriadas para viver a pesquisadora de 55 anos que teve uma infância pobre, enfrentou episódios de racismo e conseguiu se tornar PhD em química em Harvard.
— Eu entendo a ansiedade das pessoas (sobre a nova protagonista) . A única coisa que eu posso dizer é que essa atriz existe, que está no mercado e que não sou eu. Falam que eu desisti, mas estou mais no filme do que antes. O que mudei foi de papel, e a minha função como produtora do filme ganha ainda mais relevância — defende Taís.
Entre os nomes listados por ela, estão Dani Ornellas, Erika Januza, Indira Nascimento, Jennifer Dias e Cris Vianna.
— Há muitos outros nomes no país todo. Essas são as que me vêm à cabeça porque as conheço pessoalmente — ressalta.
A atriz, que seguirá com um outro papel no filme, ainda conta que foi convidada para codirigir a produção, algo que preferiu não assumir.
— Tenho desejo de produzir, de conceituar. Já a direção não é o que mexe comigo — explicou.
Segundo Alê Braga, o nome de Taís como protagonista surgiu como uma escolha natural no momento em que ela entrou na produção. Ele ressalta, contudo, que está de acordo com a decisão da atriz.
— A primeira pessoa que me falou que havia um problema conceitual foi a própria Taís. Uma coisa legal é que, com a história da Joana, todo mundo está aprendendo muita coisa. Ela me explicou, e eu pensei que fazia sentido, fui buscar mais informação sobre o colorismo — contou o diretor.
Cuidado com o colorismo
O colorismo é um termo usado para definir a discriminação racial que varia de acordo com o tom da pele, afetando de forma mais aguda os negros que têm a cor mais escura. Por isso, são comuns críticas à escolha por atores de pele mais clara para viver personalidades que, na vida real, são negros retintos. No ano passado, a atriz Fabiana Cozza renunciou ao papel de Dona Ivone Lara em um musical após queixas de que a escolha “embranqueceria” a sambista. No exterior, outro casting controverso foi o de Zoe Saldana para viver a cantora Nina Simone em “Nina” (2016).
ara o roteirista Alvaro Campos, o papel de Joana “vai ser um dos melhores para uma atriz em 2020”. Ele explica que, como o roteiro passa por várias etapas da vida da cientista, atrizes de diferentes idades vão viver a protagonista:
— Embora a Taís esteja correta, é muito generoso da parte dela abrir mão.
Ele e Braga já tinham trabalhado juntos na HQ “O outro lado da bola”, sobre futebol e homossexualidade. A ideia de levar a história de Joana para as telas surgiu depois de Braga produzir um documentário sobre a pesquisadora, que aprovou a iniciativa. O diretor comentou o fato de algumas das críticas recebidas terem como alvo a condução do projeto por um homem branco:
— É direito de todo mundo levantar projetos interessantes. Seria errado se a equipe inteira fosse de brancos, sem conversar com ninguém que tenha a vivência — diz Alê Braga.
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Redação iBahia
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