Sentir que pertence a algo, dar voz a um movimento, se identificar. Ao longo dos anos, a comunidade LGBTQIAPN+ conquistou seu espaço em um dos produtos de maior impacto cultural e influência na sociedade brasileira em horário nobre, a telenovela.
O caminho foi árduo e até chegar ao local que se encontra hoje, que ainda não é o ideal, não foi fácil. A sigla ainda é vista com preconceito e sua representação na mídia segue sendo motivo de polêmica e censura, mas desde a aparição do primeiro personagem LGBTQIAPN+ na teledramaturgia até o que é visto hoje, é possível dizer que houve evolução na representação e uma ampliação no debate.
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Estudos feitos por Fernanda Nascimento da Silva (2015), Leandro Colling (2007) e Luís Eduardo Neves Peret (2005), na área da comunicação social associada a teledramaturgia e a comunidade LGBTQIAPN+, se debruçam sobre o tema e trazem dados importantes sobre a representação da sigla nas novelas brasileiras.
Os primeiros registros de personagens LGBTQIAPN+ em telenovelas são da década de 70, sendo a primeira figura Rodolfo Augusto (Ary Fontoura), da trama ‘Assim na Terra como no Céu’, produzida pela Rede Globo e exibida em 1970/1971. Personagem secundário, Rodolfo Augusto era um costureiro com participação ativa nos desfiles de Carnaval da trama, por onde acontecia a interação dele com o núcleo principal. Augusto acaba sendo assassinado pelo filho da sua melhor amiga, Ricardinho, interpretado por Carlos Veneza.
Quatro anos depois, na novela 'O Rebu', Conrad Mahler surge como um marco para a representatividade LGBTQIAPN+ na teledramaturgia. Interpretado por Ziembonski, o personagem foi o primeiro a ter sua orientação sexual explorada na trama, no entanto, teve a imagem estereotipada.
Já o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo foi transmitido em 1985 na novela ‘Um Sonho A Mais’. A cena foi protagonizada por Ney Latorraca e Carlos Kroeber, porém, devido à rejeição e censura, o folhetim precisou reduzir a aparição de alguns personagens. Na trama, Ney interpretava cinco personagens, um deles uma mulher.
A partir da década de 90, a teledramaturgia passa a ter mais personagens LGBTQIAPN+, porém, dentro da caixa do estereótipo e com representações censuradas, como o casal vivido por André Gonçalves e Lui Mendes, Sandro e Jefferson respectivamente, em A Próxima Vítima (1995) trama de Silvio de Abreu. Por causa do seu personagem na novela, André Gonçalves chegou a relatar em entrevistas que foi perseguido e espancado nas ruas. Apesar de uma clara rejeição do público, o casal teve um final feliz na novela.
Entre 2000 e 2022, mais de 60 personagens LGBTs surgem nas telenovelas da Rede Globo. Entre eles dois casais lésbicos, Clara e Rafaela vividas por Aline Moraes e Paula Picarelli na novela 'Mulheres Apaixonadas' (2002), de Manoel Carlos, e Leonora e Jenifer, interpretadas respectivamente por Mylla Christie e Bárbara Borges em 'Senhora do Destino' (2003) de Aguinaldo Silva.
O público tem contato também com a primeira representação de uma personagem bissexual com Cláudia Abreu vivendo a vilã Laura, que teve um caso com Dora Lima, interpretada por Renata Sorrah.
Em 2005, o público se frustra ao não ter acesso ao final feliz de Júnior (Bruno Gagliasso) com Zeca (Erom Cordeiro) em 'América' de Glória Perez. O casal chega a terminar a trama junto, no entanto, o beijo entre os personagens foi cortado da edição final da novela.
De acordo com Silva (2015), mais da metade do número é apresentado para o público como gay camp, isto é, ficaram marcados para os telespectadores pelos traços exagerados. No entanto, o período compreende também o momento em que os enredos começam a se aprofundar, tendo a adoção como um dos temas mais trabalhados pelos autores ao longo dos anos, assim como a transsexualidade. A nova década também marca a primeira cena de sexo gay, exibida e 2016.
Para marcar o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, o iBahia trouxe uma lista com alguns dos casais e personagens de destaque da teledramaturgia das últimas décadas. Confira:
Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picareli) - Mulheres Apaixonadas (2002)
Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) - Amor à Vida
Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) - América
Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller) - Em Família
Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) - Babilônia
André (Caio Blat) e Tolentino (Ricardo Pereira) - Liberdade, Liberdade
Ivan (Carol Duarte) e Claudio (Gabriel Strauffer) - A Força do Querer
Britney (Glamour Garcia) e Abel (Pedro Carvalho) - A Dona do Pedaço
Luccino (Juliano Laham) e Otávio (Pedro Henrique Müller) - Orgulho e Paixão
Camila (Anaju Dorigon) e Valéria (Bia Arantes) - Órfãos da Terra
Lica (Manoela Aliperti) e Samantha (Giovanna Grigio) - Malhação Viva a Diferença
Leonora (Mylla Christie) e Jenifer (Bárbara Borges) - Senhora do Destino
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Redação iBahia
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