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Uso de gírias do “baianês” pode atrapalhar na entrevista de emprego

Hábito faz com que muitos utilizem expressões que não se aplicam à situação formal de uma entrevista

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23/10/2011 às 11:36 • Atualizada em 28/08/2022 às 10:02 - há XX semanas
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Se você, assim como eu, é baiano, não fique ‘retado’ com o que eu vou contar aqui, pois não fui eu que inventei essa ‘bestagem’. É que eu acabei de descobrir que aquele ‘cara’ que vai entrevistar você pro seu trabalho novo vai ficar de ‘butuca’ no seu baianês, assim como tem gente de pescoço ‘espichado’ pro meu lado, querendo saber que ‘miséra’ eu tanto escrevo. ‘Oxente’, não tá acreditando, não? Pois ‘se ligue’, que agora eu vou lhe contar tudo, pra você não ‘receber a galinha pulando’ depois! Se você está estranhando a linguagem tão despojada do começo deste texto, imagine o que pensa um recrutador quando escuta o bom baianês do candidato a uma vaga de emprego. Não que seja feio nem errado falar a nossa língua do jeito arrastado e gostoso que só o baiano sabe. O problema é que o hábito faz com que muitos baianos utilizem expressões que não se aplicam à situação formal de uma entrevista de emprego. Junto com os erros gramaticais, de concordância e até de ortografia, as expressões regionais utilizadas em excesso ou de maneira imprópria são apontadas por especialistas até como fatores de exclusão do candidato durante um processo seletivo, a depender do cargo em questão. “Já ouvi de uma candidata que ela estava ‘plantando um pezinho de cá-te-espero’, e outra falou que estava ‘virada no istopô’ com a antiga chefe. Isso é capaz de fazer o entrevistador levantar a sobrancelha diante de linguagem tão peculiar”, exemplifica Moisés Frutuoso, gerente da unidade central do Sinebahia. Na opinião de Frutuoso, o problema maior nas entrevistas é o pleonasmo, vício de linguagem onde ocorre redundância na expressão. “O baiano fala muito ‘repetir de novo’, ‘grande maioria’, ‘manter o mesmo’, ‘saí fora’, sem falar nas muletas: ‘e aí’, ‘tipo assim’, ‘a nível de’, indicando que o candidato tem um vocabulário restrito”. Ele aponta que o regionalismo influencia nos erros de português, pois muitas vezes não se utiliza plural ou concordância de forma adequada. “Não há dúvida de que em uma situação formal deve prevalecer a linguagem culta, mas o entrevistador deve ficar sensível à forte questão cultural baiana. Desde que as palavras não sejam de baixo calão, não vejo problema”, enfatiza o escritor Nivaldo Lariú, autor do famoso Dicionário de Baianês, que já está em sua quarta edição e alcançou as 200 mil cópias. “O baianês é uma tradição popular, e não há como se divorciar do baianês estando na Bahia”, arremata Lariú, que é de Itaperuna (RJ), mas fala como todo bom baiano. Na dúvida, melhor evitar Na opinião de Hildenízia Chagas, gerente do Serviço Municipal de Intermediação de Mão de Obra (Simm), o regionalismo existe em qualquer lugar, não é uma questão só da Bahia. “O que precisamos é chamar a atenção das pessoas para o fato de que uma entrevista de emprego não combina com informalidade nem intimidade”, pontua Hildenízia. De acordo com ela, todo mundo tem uma maneira de falar, vestir e se comportar no ambiente profissional, e este comportamento formal deve ser levado para a entrevista de emprego. “Mas, nos finais de semana e momentos de lazer, quem quiser pode usar seu vestido curto e falar suas gírias com os amigos”, acrescenta. E em tempos de globalização econômica, Hildenízia destaca um fator ainda mais importante para o candidato pensar duas vezes antes de soltar o baianês. “Atualmente, muitas empresas selecionam candidatos em diversos estados. Se a seleção for feita na Bahia para uma empresa de fora, o selecionador pode não entender algum termo do baianês. Numa entrevista de emprego só se deve utilizar os termos que o outro conhece”, orienta. Concordância, gerúndio, ortografia e pontuação Não é só o excesso de baianês que pode tirar você do processo seletivo. Os especialistas ouvidos pelo CORREIO afirmaram que os erros de português continuam assombrando os candidatos a uma vaga de emprego. “O erro de português não passa despercebido nem nos profissionais que têm experiência. A depender da vaga em questão, se o candidato falar errado, não dá para deixar passar. Mas o peso maior para os erros de português é no caso de empregos que têm contato direto com o cliente, como telemarketing e vendas”, aponta Rafaela Matias, assistente de Recursos Humanos da First RH, empresa de recrutamento e seleção.
A consultora em RH Jozete Bezerra comenta que, como trabalha com pessoas com alto nível de escolaridade, não percebe muitos erros durante a entrevista. “Em compensação, surgem muitos erros na escrita. Misturam os tempos verbais e desrespeitam as regras de concordância e pontuação”, enumera Jozete. “Muitos confundem ao grafar palavras com s, z e ç. Já recebi um currículo no qual o dono escreveu várias vezes“você” com ç. Como ele concorria a uma vaga na área financeira, não deu para relevar”.

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