"Quem curte ostentação não quer apenas beber champagne...", diz

Na crista da onda, o Canal Luxo e Sofisticação resolveu explicar a diferença entre o que é ter um comportamento de luxo e o que é ostentar. Para isso, entrevistamos o jornalista e especialista no mercado de luxo, o paulista Claudio Prado Jr., que explicou este e outros assuntos. Saiba um pouco mais sobre o que é realmente luxo, como está o cenário baiano para os consumidores do segmento, qualidade de vida e poder de compra. iBahia - Qual a diferença básica entre luxo e ostentação?

Claudio Prado Jr. - É muito comum associarem o luxo à ostentação, mas Luxo é um padrão de produtos e serviços que buscam a perfeição, a exclusividade e a confecção artesanal com o máximo de conhecimento possível do que está sendo oferecido ao seu cliente alvo, no caso os consumidores de alto poder de compra. Luxo também remete a um estilo de vida de alta qualidade, à sensações inesquecíveis e experiências exclusivas que não dependem apenas de dinheiro, mas sim de realizações pessoais. Ostentação é o uso do dinheiro para adquirir produtos ou serviços que apenas demonstrem o gasto excessivo para que esta pessoa tente se posicionar como rico, milionário ou alguém que simplesmente esbanja dinheiro sem a menor responsabilidade. Por exemplo: uma barra de ouro pendurada em um cordão grosso de ouro no pescoço de alguém não é um produto de luxo, é um exagero e um excesso tanto visual como social.

"A Bahia é um dos cinco mercados mais valiosos para o luxo", afirma Claudio Prado Jr.

iBahia - Com essa onda modista de ostentação, existe uma separação entre os dois conceitos. Como identificar um comportamento de luxo de um comportamento de ostentação?

CPJ - Muito fácil, como disse anteriormente a única preocupação de quem ostenta é tentar passar uma imagem de bem-sucedido, aquela pose de “o dono da balada”. Quem curte ostentação não quer apenas beber champagne, quer que todo mundo veja a garrafa chegando com aquelas velas acesas, espalhando fogos de artifício para todo lado. E claro, dentro do camarote exclusivo e muitas selfies para postar no Facebook, aliás quem ostenta adora uma rede social e posta com uma velocidade impressionante, já pensando em quantas curtidas vai ter. Já o comportamento de luxo, evita esta exposição, até porque a discrição é chique e quem realmente tem prosperidade na vida, não precisa ficar mostrando aos quatro cantos do planeta.

iBahia - Como se diferenciar os ostentadores dos "luxuosos"?

CPJ - Todo mundo gosta das pessoas que tem atitudes positivas, educadas e cordiais, isso independe de luxo, mas é um ponto muito forte em quem vivencia o luxo. A educação em minha opinião é um diferencial tremendo já que uma pessoa educada não vai passar do seu lado com o som do carro no último volume, fato que é normal entre os ostentadores que costumar equipar seus carros com equipamentos de som automotivos que em muitas vezes superam o valor do próprio carro. Quer se destacar no segmento do luxo? Seja reconhecido por sua boa educação e por seu conteúdo, sua cultura pessoal.

Ibahia - O que é viver realmente uma vida de luxo?

CPJ - Todos nós temos um patamar de sonhos a serem realizados na nossa vida, e a realização destes sonhos remetem a poder ter uma vida de luxo. Uma vida de luxo para uns pode ser sair dos grandes centros e viver em um bangalô em frente a praia com a pessoa amada. Para outros é a de se cercar de tudo o que a tecnologia e o conforto podem oferecer. Em ambos os casos, o luxo indica dar ênfase na sua qualidade de vida.

iBahia - O mercado de luxo do Brasil hoje atende a necessidade do seu público? Existe realmente este público? Nos aponte pontos positivos e negativos desse mercado?

CPJ - Cerca de 70% das marcas de luxo mais representativas do planeta já são vendidas no Brasil, e é importante dizer que estas marcas não vem para um país a toa. Elas pesquisam anos a fio estes mercados e só após a certeza do potencial de clientes é que apostam por aqui. O público consumidor de luxo no Brasil cresce ano a ano, justamente porque a estabilidade de nossa moeda nos últimos anos permitiu que pessoas do mercado de prestação de serviços, comerciantes e novos empresários tivessem muito crescimento financeiro em seus empreendimentos e passaram a configurar como potenciais consumidores de alto padrão. Além disso, o cartão de crédito no Brasil ainda é um facilitador da classe média aos produtos de luxo, pois em geral são adquiridos em parcelas mensais. E as marcas de luxo adoram isso, porque seja o mais rico ou o mais esforçado em comprar, ambos acabam por engordar as finanças das marcas. Leia também Extravagância ou não, carros podem chegar a 14 milhões de reais Evento pretende discutir e capacitar empresários para o mercado de Luxo

Em relação a pontos positivos e negativos, essencialmente os positivos são o acesso dos brasileiros a tudo que é feito com o máximo de qualidade e que serve como influenciador do padrão de qualidade e comparação, e no lado negativo, o Brasil tem ainda uma taxa de importação desmotivadora que faz com que uma bolsa de luxo que custaria 2 mil reais em qualquer país, aqui custe 6 mil reais, e isto restringe demais as vendas.

iBahia - Existe realmente luxo no Brasil? Tem informações sobre a Bahia em especial?

CPJ - O luxo no Brasil e seus consumidores existem há décadas, mas recentemente este mercado explodiu e quem ganha com isso somos nós. É mais um segmento para geração de empregos e trabalho, para compras diferenciadas e para consumo qualificado. Como esta prosperidade econômica se espalhou por todo o país, o luxo deixou de ser focado apenas na cidade de São Paulo e as marcas de luxo começaram a expandir seus horizontes. A Bahia é certamente um dos cinco mercados mais valiosos para o luxo, pois tem um grande volume de pessoas dentro da faixa de alto consumo e com altíssimo desejo de acesso a produtos exclusivos. Além disso, tem um setor turístico de luxo, que atrai pessoas de todo o mundo. O público baiano de luxo, é reconhecido por consumir barcos de luxo, carros de luxo, conhecer muito bem os produtos de luxo, pela produção de eventos sociais para público A, e é exigente em ter atendimento personalizado, e como mercado tem despontado com enorme destaque nos setores de mercado imobiliário de luxo e alta gastronomia.