Todo final de ano é a mesma coisa. O incentivo para as compras chega a ser constrangedor e ter looks completos e novos para as festas é quase uma "obrigação". Embora os brasileiros estejam comprando consideravelmente menos por causa da crise econômica que se instalou, muita mamãe ainda se vê meio perdida na hora de orientar as compras dos filhos adolescentes, público facilmente atingido pelo mercado fashion.
Na contramão do exagero consumista, Letícia Santana, 14 anos, criou há três anos o blog Borboleta Vintage para falar de moda e tudo que ela abrange, como cultura, arte e história e, sem pretensão, virou referência para outras meninas em Salvador. Ela conta que, como toda mulher, gosta de consumir moda, mas que desde pequena aprendeu com a mãe a ter limites. "Diversas vezes, quando íamos ao shopping, minha mãe dizia para mim e minha irmã que não compraríamos nada. Acho essencial ensinar isso à criança desde cedo. Não adianta querer mostrar os limites do consumo já na metade do caminho, quando nossos conceitos já estão formados", destaca a blogueira.
Letícia Santana, a borboletinha vintage. Foto: Gabriela Dinigre |
Letícia admite que hoje raramente faz compras, por receber muitos presentes de marcas e lojas, mas enfatiza que, mesmo assim, antes já não tinha um perfil consumista. "Num mundo em que o que define uma pessoa é o que ela tem ou deixa de ter, é complicado para muitas meninas entender sobre consumo consciente. Isso mexe com a cabeça de uma pessoa e ela passa a achar que realmente é inferior por não ter roupa X ou celular Y. Acredito que o maior responsável por esse sentimento seja a busca incessante pela aceitação de um determinado grupo. O tal do status também é algo muito presente! Querer ter aquilo só para dizer que tem e que pode, sabe?", pontua Letícia.
O que fazer então, na prática, além de dar bons conselhos, para ajudar as meninas e meninos a terem um guarda-roupa versátil, enxuto e, principalmente, critérios na hora de ir às compras? Para Amanda Dragone (minha irmã caçula!), consultora de estilo e blogueira do Rasgando Seda, o importante é levar em consideração o estilo de vida dos filhos e ser exemplo para eles. "Não adianta exigir essa consciência dos jovens, ainda em formação, e viver com o cartão de crédito no limite e o guarda-roupas abarrotado. Além disso, a mamãe pode acompanhar os filhos durante as compras e ajudá-los a montar os looks. Um bom momento para educar e ainda garantir esse tempo de qualidade", explica.
A blogueira e consultora de estilo Amanda Dragone. Foto: Uran Rodrigues |
Amanda dá ainda outras dicas legais para driblar o consumismo exagerado e o acúmulo de peças:
* Levar em consideração o estilo de vida - Não adianta ter um uma coleção de sapatos de salto alto se no dia a dia você prefere o conforto das sapatilhas. O segundo passo é refletir sobre o seu estilo pessoal. Nem sempre a camisa branca é um coringa no seu acervo. Analisar o que as roupas que você mais ama e usa têm em comum é um bom começo para listar as suas peças essenciais. Ainda mais quando nos referimos à fase da adolescência, que é cheia descobertas, influências, modismos e autoafirmação. Nesse período, é muito importante que as meninas e meninos se sintam à vontade e sem muitas regras para desenvolverem seu próprio estilo. E tenho uma dica prática para que essas experiências não ultrapassem o orçamento das mães: cada peça de baixo precisa combinar com pelo menos cinco peças de cima (o jeans não entra na brincadeira, ok?). A conta é simples e ajuda qualquer pessoa a ter um guarda-roupas mais enxuto e coordenado, para fazer novas e criativas combinações.
* A motivação para a aquisição das peças - Dois fatores devem motivar a compra de uma peça: necessidade e identificação. Ter um guarda-roupas enxuto, consumir menos e de forma mais consciente não pode nos fazer abrir mão de ter peças que nos encantam. O limite está em levar em consideração o seguinte: se você já tem duas mochilas que gosta muito e amou uma terceira, aconselho que guarde seu dinheiro e aproveite as peças que já tem.
* Fazer compras de maneira consciente - É fundamental comprar sem prejudicar o orçamento. Faça sempre boas escolhas, ou seja, não compre diante de dúvidas ou se deixando levar pelas "oportunidades". É mais interessante comprar menos, pagando um pouco mais pela peça que você amou, fazendo valer o investimento.
* Praticar o desapego - A prática do desapego começa de dentro para fora. Entender o que te motiva a iniciar esse processo é essencial para que a transformação aconteça. Um forte motivo que me levou a descartar muitas coisas foi o autoconhecimento. Eu era super indecisa na hora de comprar uma roupa. Não por insegurança, mas por não conseguir avaliar se aquele investimento valeria realmente a pena. Depois de me desapegar de tudo aquilo que não me representava mais, naturalmente passei a não querer que entrasse no meu guarda-roupas algo que eu gostasse menos do que o que já existia lá dentro. Comecei a comprar menos e aproveitar mais o que eu tinha, porque pude ver com clareza apenas o que me fazia bem.
* Tornar natural a prática do desapego - Para facilitar o processo, você pode começar, por exemplo, por objetos com que tenha menor vínculo emocional. Desde o início existe muita reflexão e sentimento envolvidos. A questão é que depois de descartar, organizar, e colher os benefícios dessa mudança, aprendemos a lidar com as nossas escolhas e ampliamos a consciência sobre o papel dos objetos em nossa vida. Então, o não-acúmulo se torna natural.
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