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Belmonte preserva a tradição das filarmônicas

Em Belmonte um destaques culturais são as tradicionais filarmônicas. Grande sucesso no século XIX e nas primeiras décadas da segunda metade do século XX

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27/07/2014 às 16:00 • Atualizada em 28/08/2022 às 21:35 - há XX semanas
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A primeira Filarmônica, em Belmonte, foi a Sociedade Filarmônica XV de Setembro, ou Sociedade Filarmônica de Belmonte, fundada em 15 de setembro de 1895. Os seus seguidores a chamavam de Quinze, fazendo referência à data de sua criação. A outra era de uma das famílias mais poderosas de Belmonte, a Filarmônica Bonfim foi fundada pela família do coronel José Gomes de Oliveira, intendente municipal, entre os períodos de (1890-1896 e 1896-1899).
A intenção das filarmônicas, registrada em estatuto,tem como objetivo principal a cultura da arte musical, incluindo a criação e manutenção de uma escola de música para manter valorizado o seu corpo de estante. Em princípio, as filarmônicas não tinham caráter político. Mas na prática, o que se via era exatamente o contrário, porque elas, no transcurso do tempo, iriam marcar o compasso e dar o tom, não somente nas atividades culturais-recreativas, como também nos acontecimentos políticos.
Um acontecimento de caráter humanitário, relacionado com a Sociedade Filarmônica XV de Setembro, ocorreu na epidemia de varíola que assolou a cidade de Belmonte em 1910. A diretoria da filarmônica cedeu sua sede social para abrigo dos doentes. Por causa disto, o prédio ficou interditado por alguns anos. Em consideração ao ato generoso, o governo municipal, através da Lei n. 92, de 18 de dezembro de 1911, isentou-a de impostos.
Nos primeiros anos do século XX, a Filarmônica Bonfim foi desativada. A 07 de dezembro de 1914, numa reunião transformada em assembléia, foi constituída a primeira diretoria da Filarmônica Lira Popular de Belmonte, que incorporou 17 músicos da antiga Filarmônica Bonfim e seu instrumental.
Essas filarmônicas estavam vinculadas a grupos políticos diferentes, o que ocasionou verdadeiros duelos, não apenas de caráter artístico, como também com armas de fogo, por conta de uma dissidência que defendiam suas facções políticas. A Filarmônica de Belmonte, nos anos de 1930, tornou-se simpática ao grupo dos integralistas, formado por italianos e seus descendentes, enquanto a Filarmônica Lira Popular estava vinculada ao grupo político da família Gomes de Oliveira.
Segundo relatam as professoras Ariadne da Silva Rocha e Maria Adalcy Rocha Brazão Santana (1992), em uma monografia baseada em depoimentos de Faustiniano Henrique do Carmo (Senhorzinho da Lira), no ano de 1919, houve um confronto violento entre homens vinculados à Lira Popular e homens do Coronel Alfredo Matos, um dos poderosos da cidade, pessoa ligada à Filarmônica XV de Setembro.
Tudo começou quando o velho Acelino, pai do músico da Lira, Felismino Pereira dos Santos, foi espancado por homens do Coronel Alfredo Matos, o que deixou a população revoltada. À tarde do mesmo dia, os bandidos tentaram matar o presidente Aristóteles, o que levou os homens da Lira à reação, transformando a Rua XV de Novembro em verdadeira praça de guerra. Dias depois, um músico da Lira chamado Zeferino foi assassinado.
Passando por altos e baixos, essas sociedades musicais particulares iam marcando o cotidiano da sociedade belmontense, arrastando multidões às ruas, às praças, tanto nas festividades cívicas e religiosas, como nos acontecimentos políticos.
Outro grande momento dessas filarmônicas aconteceu em 16 de julho de 1948, dia de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Belmonte. O presidente da organização das festividades, considerando a importância da data festiva, que atraía, como atrai ainda, muitos visitantes, resolveu mandar construir dois coretos para apresentação das duas filarmônicas: a XV de Setembro e a Lira Popular.
Encerrada a festa religiosa, às 9 horas, com a bênção do S. Sacramento, por D. Eduardo, bispo da Diocese de Ilhéus, começaram as apresentações musicais. Cada uma das filarmônicas procurava apresentar o melhor do seu repertório, uma após a outra. A cada apresentação havia aplausos e vaias.
Às 5 horas da manhã, quando o bispo ia celebrar a missa, as duas filarmônicas estavam lá, exaustas, sem qualquer disposição de abandonar o posto, nem a pedido do líder religioso. Somente ao meio dia, foi que os presidentes das respectivas agremiações subiram simultaneamente aos coretos e desceram com os seus maestros, encerrando assim o duelo musical. Musical apenas porque foi encerrado em tempo: as armas estavam lá, embaixo dos coretos, prontas para qualquer emergência.
Em 1951, no governo de Regis Pacheco, a Lira Popular participou em Salvador das comemorações do centenário de Rui Barbosa, como representante das filarmônicas do interior da Bahia. Em 1961, já no governo de Juracy Magalhães, participou de um concurso de bandas do interior da Bahia, ¿Salve Retreta¿, classificando-se em primeiro lugar.
Desde década de 1970, as filarmônicas vêm perdendo o seu prestígio, em razão da popularização das bandas modernas, que têm influenciado na cultura musical, especialmente das gerações mais jovens.

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