Os portões da Arena Fonte Nova só abririam ao meio-dia, mas a aposentada Dizia Souza, 71 anos, chegou ao local seis horas antes. Tudo por Irmã Dulce, a freira baiana canonizada há uma semana no Vaticano como Santa Dulce dos Pobres.
A celebração deve reunir cerca de 55 mil pessoas no estádio de futebol, com shows, uma apresentação teatral e uma missa conduzida pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger. Os ingressos, gratuitos, esgotaram no início do mês, no segundo dia de distribuição.
- Cheguei antes de o sol nascer - contou Dizia, que caminha com o auxílio de um andador por conta de uma artrose, com um sorriso no rosto.
A soteropolitana era a primeira da fila. Foi levada pelo filho, que combinou de buscá-la no mesmo lugar à noite. O evento deve ser encerrado às 19h.
Sob um sol escaldante - ao meio-dia fazia 28ºC, com 75% de umidade relativa do ar -, Dizia explicava que o esforço se deve ao tamanho da benfeitoria que a baiana "fez na Terra".
- Estamos aqui para reverenciar nossa primeira santa. Em todo lugar que ela passou, plantou a semente do bem - declarou.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Portal iBahia (@portalibahia) em 20 de Out, 2019 às 11:14 PDT
Do lado dela, outra seguidora da santa também chegou cedo à Fonte Nova. No domingo passado, Adalgisa Santa Pereira, de 61 anos, estava no Vaticano junto a outros milhares de brasileiros que foram assistir à canonização, oficializada pelo Papa Francisco. De Cajazeiras, bairro pobre de Salvador, ela fez sua primeira viagem internacional. Os gastos chegaram a R$ 8.500.
- Valeu totalmente a pena. Ela é a primeira e única. Já nasceu santa. É um orgulho ter uma santa brasileira, baiana e soteropolitana - disse Adalgisa.
A celebração terá, entre as atrações, os cantores de axé Margareth Menezes, Saulo e Tuca Fernandes, além do padre Antônio Maria. Também haverá uma encenação do espetáculo "Império de Amor", que levará ao palco 650 atores para contar a história da santa. Fazem parte do grupo 550 crianças e adolescentes do Centro Educacional Santo Antônio (CESA), núcleo de educação das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), além de idosos. A primeira atração musical começou às 12h30.
Cada paróquia recebeu um lote de pelo menos 200 ingressos a serem distribuídos entre os fieis. Segundo a Osid, uma das organizadoras do evento, junto com a Prefeitura de Salvador, o Governo da Bahia e a Arquidiocese de Salvador, são esperados cerca de 9 mil pessoas de fora do estado.
A médica Ivanise Travassos, de 64 anos, conheceu a religiosa pessoalmente, quando atuou como voluntária na pediatria de um hospital das obras de Irmã Dulce, e também fez questão de chegar cedo para pegar um lugar "privilegiado". Além das arquibancadas, os organizadores colocaram centenas de cadeiras sobre o campo de futebol, protegido por placas. Ela avisou que só sairá no final, na hora da benção.
Na fila, a aposentada Celina Conceição, de 84 anos, disse estar "firme e forte", de pé desde as 7h da manhã.
- Estou cheia de energia, louvando e glorificando Santa Dulce - declarou.
Cena rara na fila, majoritariamente formada por mulheres mais velhas, Jackson Douglas Silveira, de 40 anos, estava com o filho adolescente, Michael Doulgas, de 15, esperando para entrar na arena. De Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, ele ganhou dois convites de um amigo que não pôde comparecer. O jovem contou que aproveitaria a celebração para conhecer mais a santa, que morreu 12 anos antes de ele nascer.
Com saúde frágil, Dulce se projetou pela capacidade de mobilizar centenas de forças, vindas de populares e figuras públicas, para ajudar quem precisava. Iniciado em 2000, o processo de santificação foi o terceiro mais rápido da história da Igreja Católica, atrás apenas do Papa João Paulo II (1920-2005) e de Madre Teresa de Calcutá (1910 - 1997).
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Redação iBahia
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