Meninos são de Marte e meninas são de Vênus. A máxima que ajudou a vender milhões de livros, e transformou a obra do autor John Grey em um bestseller, também pode ser entendida nas peculiaridades relatadas por homens que encaram o desafio de serem pais de meninas. Apesar de um estudo divulgado pelo americano Journal of Personality and Social Psychology apontar mais afinidades psicológicas do que incompatibilidades reais, na guerra dos sexos, os pais defendem que no dia a dia, são perceptíveis características específicas da maioria das mulheres: mais doces, sensíveis e carinhosas.
Pai de Isabella ressalta amizade e companheirismo na relação com a filha |
"Quando chego em casa que ela me abraça e me beija, vejo ali a sensibilidade que faz parte do sexo feminino. Acho uma delícia. Causa até um desconforto com a mãe", brinca o advogado e empresário, Juracy Borges, pai de Clarice, de 2 anos. Ele ainda explica que por ser uma menina, os cuidados são realmente maiores comparados aos meninos. "Acredito que quando ela ficar mais velha, a proteção será redobrada. Farei questão de levar e buscar nos lugares e prepará-la para o mundo. Se hoje a situação está caótica, imagina quando ela for adolescente, daqui a 12 anos?", indaga. No item proteção, o auxiliar administrativo, Caio Henrique Outeiro, também não fica atrás. Pai de Maria Eduarda, de 2 aninhos, assume seu lado super protetor. "Certos tipos de brincadeiras que envolvem sua integridade física me deixam apreensivo. Quando vejo que ela pode se machucar, não tem jeito, corro atrás e a contenho. Se fosse um menino, acho que não teria tanto cuidado. É aquela imagem de que o homem é mais resistente fisicamente", confessa. Assume que a proteção abrange várias esferas, como o 'mimar' e o 'dengo'. "Se ela cai, até o jeito de eu ir lá levantá-la é diferenciado. Ajudo, beijo, dou côlo. A vejo como um ser mais delicado, que requer essa proteção especial", resume.
Eles querem ser pais de meninos?
Aos 19 anos, o engenheiro e músico Alexandre Santana, descobriu que seria pai. "Foi uma surpresa para todo mundo. Estava começando a faculdade, com tudo pela frente. Aquilo iria mudar o rumo da minha vida", revela. Isso ocorreu há quase 12 anos. Hoje, diz que a filha Isabella é a sua melhor amiga. "É minha companheira. Gosta de tudo que eu gosto, das músicas, dos meus amigos, dos programas. Temos uma relação de muito diálogo e amizade", diz. Alexandre ficou com filha quando ele se separou da esposa, há 10 anos. "Ela trabalhava e não tinha com quem deixar a criança. Decidimos que Isabella ficaria comigo, até porque eu tinha a ajuda de meus pais e uma estrutura melhor naquela época", justifica. Quanto ao fato de ser menina, quando ele descobriu, administrou tudo com muita naturalmente. "O fato é que não seria essa pessoa que sou hoje, se não fosse a Isabella. Devo muito a minha filha e não mudaria nunca o fato de ter vindo uma menina".
Caio Henrique explica que hoje é um homem melhor e quer ser exemplo para a filha |
A conclusão de Caio Henrique não é muito diferente. Ele imaginou a vida toda ser pai de um menino. "Sempre pensei que um filho seria melhor para dividir a vida, ensinar a ele o que meu pai me passou, fazer coisas de "menino". Enfim, mas aí veio a Maria Eduarda e imediatamente tudo mudou. Pensei que teria que ser o exemplo de homem que eu gostaria que ela tivesse, como namorado, marido. A partir dali, até meu comportamento com a mulheres mudou. Tinha que ser o modelo masculino que desejo para ela no futuro. Além de ser outra pessoa hoje, sou um homem melhor também".
Muito diálogo para encarar os desafios
Juracy Borges diz criar a filha para ter personalidade e conquistar seu próprio espaço |
Entre os pais entrevistados, uma atitude é unânime: o diálogo. Quanto mais elas crescem, maiores são os desafios da sua criação. No dia a dia, os pais relatam que o único problema prático é para pentear o cabelo. Alexandre sempre recorre as primas, namorada e amigas. No mais, todos eles dizem que se saíram bem no quesito dar banho, higienizar e brincar. Lidar com a sociedade machista é uma dos problemas mais preocupantes desses "homens-pais". Juracy, apesar da filha ser um bebê ainda, já sabe que tem que criá-la de modo que ela saiba se defender. "Sei que preciso mostrar, que ela precisa ter personalidade, lutar para ser respeitada dentro do princípio de igualdade de direitos. Que ela tem capacidade e competência iguais ou maiores a qualquer outro, inclusive homens". Ponto de concordância também para Caio Henrique. Para ele, a filha precisa ser independente, lutar por seus objetivos. "Quero que ela tenha sua própria vida. Não desejo que ela cresça na sombra de nenhum homem ou se sinta inferior a ele. Ela precisa ir atrás do que quer", pontua. No caso de Alexandre que já tem uma filha pré-adolescente, a clareza do diálogo já começou. "Sou engenheiro civil e no meu universo tem muitos homens. Entretanto as mulheres que existem são tão competentes ou mais que a maioria deles. Isso tento passar para a minha filha. Que ela pode ser quem ela quiser, ser tratada de igual para igual e se fazer respeitar como mulher e profissional", conclui e todos eles aconselham: "Queiram também ser pais de meninas. Vocês vão se surpreender".
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