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O mais recente investimento do governo é a Via Expressa e custou cerca R$ 480 milhões |
A safra de grãos do Oeste que não sai para os mercados internacionais pelos portos baianos. Nos últimos anos, parte dos produtos que serviram para alavancar a economia da Bahia teve o atraso logístico e a infraestrutura defasada como os principais obstáculos para o desenvolvimento do estado.O prejuízo pode ser difícil de calcular, mas o custo de cada produto encarecido pelas dificuldades de se produzir no estado reflete no bolso. Produtores e especialistas afirmam que a Bahia teve sua economia afetada pela saturação dos portos, escassez de ferrovias, sobrecarga das rodovias, além de aeroportos incapazes de atender a demanda de cargas.Apesar do crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) baiano, que teve alta de 3,3% no primeiro semestre deste ano, acima da média nacional, de 2,6%, segundo o IBGE, a Bahia ainda mantém a concentração de sua economia na Região Metropolitana de Salvador, com poucas alternativas de transportes ligando as diversas regiões produtivas do estado. A pressão por eficiência na infraestrutura aumenta com o desenvolvimento dos cada vez mais fortes novos polos econômicos, com a chegada de investimentos em energia eólica, minério e celulose. Segundo o coordenador do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Marcus Galindo, apesar de não viver seu pior momento, o estado está longe de respirar aliviado. “Apesar de já ter havido uma melhoria efetiva de infraestrutura ainda não há o que comemorar. A maioria das obras ainda está em andamento, sendo que algumas ainda precisam de formatação ou de equação da operação”, explica. O mais recente investimento público no estado, a Via Expressa, inaugurada em 1º de novembro, em Salvador, consumiu R$ 480 milhões dos R$ 143,1 bilhões previstos para oxigenar a infraestrutura no Nordeste pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os 14 quilômetros de vias construídos em quatro anos foram planejados para permitir que veículos de carga cheguem ao Porto de Salvador vindos pela BR-324.adiamento Ainda para desafogar a malha rodoviária do estado, sobrecarregada diante da falta de opções de outros modelos de transporte, a expectativa recaiu sobre o edital de concessão dos 772 quilômetros da BR-101, entre Feira de Santana e Mucuri. Porém, o processo de concessão foi adiado para o ano que vem. O pregão, que seria realizado no segundo semestre deste ano, não tem nova data. O volume de investimento que não tem mais prazo de chegar ao estado beira os R$ 4,6 bilhões. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a empresa vencedora deverá duplicar toda a rodovia até 2019. “O sistema rodoviário na Bahia ainda precisa ser melhorado, e muito. Com o adiamento do leilão da BR-101, não se sabe como vai ficar essa questão das concessões”, explica o coordenador da Fieb.Duplicação Algumas rodovias, no entando, já começam a ser restauradas. Entre as que cortam a região do Polo de Camaçari, as etapas de duplicação e extensão transformam em canteiros de obras a BAs 535, conhecida como Via Parafuso, e a 093, no trecho entre Simões Filho até Camaçari. Essas obras são previstas nos contratos de concessão e prometem dar mais agilidade à malha da região. As estradas, por onde trafegam cerca de 85 mil veículos por dia, são a principal forma de escoamento da produção industrial do Polo, uma vez que as ferrovias na região são ineficazes. Na Via Parafuso, 80% das ações de duplicação de 25 km de estrada já foram finalizadas. Já na BA-093, a duplicação é prevista em uma faixa de 14 quilômetros. Já nas rodovias BA-524, a popular Canal de Tráfego, que liga o Polo até o Porto de Aratu, e na BA-512, as obras já foram finalizadas. Segundo a concessionária Via Bahia, cinco praças de pedágio foram instaladas, e o investimento em obras na região é de R$ 490 milhões, segundo relatório da Fieb.Como parte dos investimentos em torno da instalação do Estaleiro Enseada Paraguaçu (EEP), no Recôncavo Baiano, estão previstas obras nas rodovias que dão acesso aos municípios de São Roque do Paraguaçu, Nazaré e Salinas da Margarida. Na BA-534, cerca de cinco quilômetros estão em fase final de recuperação. O valor da obra, que prevê ainda uma ponte, está estimado em R$ 42,4 milhões. Outra ponte, sobre o rio Baetantã, tem previsão para conclusão em outubro de 2014. Ainda está prevista requalificação do trecho da BA-001 que passa pela rodovia BA-543. Fora dos trilhos A Ferrovia Oeste-Leste (Fiol) teve investimento de R$ 7,43 bilhões do PAC para a construção dos seus 1.527 quilômetros de extensão, mas já acumula uma série de problemas antes mesmo de ter seu primeiro lote entregue. A obra, que já foi orçada em R$ 6 bilhões, sofreu uma série de atrasos e foi interrompida diversas vezes. Na quinta-feira, o Tribunal de Contas da União voltou atrás e recomendou ao Congresso que retivesse o repasse de recursos para as obras do lote 5. Enquanto a Fiol não fica pronta, produtores do Oeste ficam reféns dos caminhões e rodovias. “O frete fica caro, trava o crescimento da produção, acaba com as estradas”, afirma o assessor da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) Luís Stahlke.
Portos defasados No transporte marítimo de cargas, os terminais de Aratu e Salvador estão há mais de uma década operando abaixo da demanda, elevando os custos para as empresas que utilizam esses portos, encarecendo os fretes e perdendo em competitividade para outros estados. “Os portos baianos não atendem a capacidade de movimentação de cargas demandadas pelos usuários. A economia da Bahia é muito maior do que nossos portos conseguem atender”, explica o diretor-executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa.Segundo Villa, o cronograma da Secretaria Especial de Portos (SEP) prevê concluir em novembro as análises obtidas durante a audiência pública realizada em outubro, e daí devem submeter ao Tribunal de Contas da União (TCU) e, em seguida, fazer licitação em dezembro, em 2014. “Nós sugerimos aumentar a capacidade dos equipamentos, ampliação e construção de píers no Porto de Aratu, além de um segundo terminal de contêiner em Salvador. A expectativa é de que o estado alcance R$ 2 bilhões de investimentos privados”, afirma. Até lá, os grãos e minérios baianos continuam a ser escoados por terminais particulares ou pelos portos de Santos (SP), Vitória (ES) ou Pecém (CE).O complexo Porto Sul, em Ilhéus, que deverá ser integrado à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), no papel, servirá para escoar a produção de grãos do Oeste e minério. O complexo ainda não tem prazo para o início das obras devido aos atrasos em licenciamentos ambientais. Apesar de atualmente possuir licença prévia, duas audiências públicas serão realizadas em dezembro para discutir os impactos da construção.