"Nunca mais o despotismo regerá nossas ações" é o que enfatiza o Hino a 2 de Julho. Celebrado há 199 anos, a letra foi criada em 1926 por Ladislau Titara, um dos personagens da Guerra da Independência.
Figura lembrada pelo feito, mas pouco pela história, o poeta chegou a participar das batalhas, inclusive como secretário do General Labatut.
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O jornalista e pesquisador Jorge Ramos explica que Titara serviu inicialmente no front da Guerra, mas passou para uma nova função na Secretaria do Exército por ser uma "pessoa intelectualizada".
"Ele teve acesso a informações sobre toda a luta armada. Ele ia estudar Medicina quando a guerra estourou na Bahia, mas mudou de ideia e se alistou", conta o integrante da Diretoria do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
A letra ganhou melodia com o músico cachoeirano José Barreto, que participou da Orquestra da Ajuda, uma das primeiras corporações musicais. Assim como Titara, Barreto serviu na guerra. Acredita-se que os dois autores tenham se conhecido no Exército.
"Os dois autores estavam alistados no Exército. Titara era alferes e José Barreto era soldado. No início, antes de Titara ser deslocado para a Secretaria do Exército, ele foi escalado para servir de vigia no Fortinho do Paraguaçu, que fica próximo a Maragojipe. E Barreto, como cachoeirano que era, serviu também ali perto. Os dois se inscreveram como voluntários", revela o pesquisador.
A letra do Hino ao 2 de Julho foi apenas um dos inúmeros poemas escritos por Ladislau Titara sobre a Independência, sempre enfatizando os atos heróicos dos baianos.
"Sobre o 2 de Julho Titara escreveu quase uma dezena de poemas e a letra do Hino a 2 de Julho é apenas um deles. Ele é autor, inclusive, de uma obra monumental: 'Paraguassu - Epopeia da Guerra da Independência na Bahia'. É um livro de difícil leitura, pois além de narrar em versos tudo o que viu, ou soube da guerra, [ele] mistura muitos termos latinos, os fatos são narrados de trás para frente e não na ordem direta", ressalta Jorge Ramos.
Os segredos do Hino
Em uma breve análise da letra já é possível perceber o teor patriota e a ênfase à glória das batalhas, o esforço e o sacrifício dos baianos pela Independência.
Ao longo dos anos, várias letras foram criadas, sempre com a mesma estrutura musical. O Arquivo Público da Bahia conserva uma dessas versões.
A primeira vez que os versos foram apresentados foi em 1928, para festejar o aniversário da vitória da Independência.
Uma das curiosidades em relação à letra do hino está presente no refrão - "Nunca mais o Despotismo / Regerá nossas ações / Com tiranos não combinam / Brasileiros corações" - que se repete em diversos poemas feitos por Titara.
Outro segredo também se esconde nos versos seguintes.
"O 'de trás para frente' (ou ordem inversa) está no verso 'Com tiranos não combinam / Brasileiros corações'. Pela ordem normal teria de ser: 'Corações brasileiros não combinam com tiranos'. Mas a 'licença poética' concedida aos que criam permite tudo...e ficou bom!", destaca o membro do IGHB.
‘Brilha mais que o primeiro’
Há quem diga que os versos mais conhecidos da letra do hino sejam os primeiros: "Nasce o sol a 2 de Julho, brilha mais que no primeiro...". Baianos que entoam a canção por vezes buscam entender a que sol a letra se refere. Seria uma referência ao 7 de setembro de 1822, quase um ano antes da Independência do Brasil na Bahia?
O jornalista e pesquisador Jorge Ramos esclarece que o verso, na verdade, é uma alusão aos dias anteriores ao 2 de Julho.
"Chovia bastante no Recôncavo, e após o período chuvoso, no dia 2 de Julho, o sol voltou a brilhar". 'Nasce o sol / ao 2 de Julho / Brilha mais que no primeiro...'. Aí o poeta refere-se ao dia anterior ("Primeiro de Julho")", explica.
Patrimônio
Em 2010, o Hino a 2 de Julho foi institucionalizado como o oficial do Estado da Bahia. O jornalista ressalta que a lei assinada pelo então governador da época, Jaques Wagner, ampliou a dimensão da canção e a importância para a cultura da Bahia.
"A lei que considerou o Hino a 2 de julho como símbolo oficial do Estado da Bahia foi o reconhecimento de uma situação de fato. A Bahia nunca possuiu um hino, embora muitos considerassem que o Hino ao Senhor do Bonfim era o hino da Bahia, pelo menos informalmente. Mas não era. E, a partir de então, o Hino [a 2 de Julho] tornou-se muito mais conhecido, porque antes era executado somente durante as comemorações da Data Magna da Bahia. Agora não, em qualquer época do ano, em solenidades oficiais ou não, na posse de autoridades, na abertura do ano legislativo e dos trabalhos do Poder Judiciário, em congressos e eventos, em estádios de futebol", conclui.
Confira a letra do hino completa abaixo e cante junto!
Nasce o sol a 2 de julho;
Brilha mais que no primeiro;
É sinal que neste dia;
Até o sol é brasileiro;
Nunca mais o despotismo;
Regerá nossas ações;
Com tiranos não combinam;
Brasileiros corações;
Cresce, oh! Filho de minha alma;
Para a pátria defender;
O Brasil já tem jurado;
Independência ou morrer;
Nunca mais o despotismo;
Regerá nossas ações;
Com tiranos não combinam;
Brasileiros corações;
Salve, oh! Rei das campinas;
De Cabrito e Pirajá;
Nossa pátria hoje livre;
Dos tiranos não será.
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Nathália Amorim
Nathália Amorim
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