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"Ele estava na hora e no lugar errado", diz mãe sobre chacina

Apenas quatro dias depois de bandidos matarem quatro pessoas em Cajazeiras VIII, mais cinco perdem a vida de forma semelhante na Avenida Peixe

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11/01/2013 às 9:22 • Atualizada em 02/09/2022 às 4:32 - há XX semanas
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Os moradores da Travessa Juazeiro comentavam, cada um do seu jeito, sobre o mesmo assunto. Alguns pareciam mais assustados. É que, antes de serem testemunhas de uma matança, também tiveram que abrir suas portas no meio da madrugada.
“Saíram batendo na porta de todo mundo antes de pegar quem queriam”, relatou um morador. Se referia aos cerca de dez homens armados, que, por volta das 2h de ontem, mataram cinco pessoas na Avenida Peixe, localidade entre os bairros da Liberdade, Pero Vaz e Caixa d’Água. Esta foi a segunda chacina no estado em quatro dias. Na segunda-feira, quatro foram mortos em Cajazeiras VIII. Mas, quem os assassinos procuravam na Avenida Peixe? “Michele. Perguntavam por Michele”, revelou uma moradora. De acordo como a Polícia Civil, Michele Pereira dos Santos, 22 anos, e todas as outras vítimas, eram envolvidas com o tráfico. O ataque teria sido de um bando rival que disputa pontos de drogas na região. No entanto, moradores e parentes relatam que o funcionário de uma transportadora Flávio Henrique Santos Souza, 17 anos, não tinha envolvimento com a criminalidade. Depois que os bandidos bateram à sua porta e arrombaram, o rapaz foi baleado quando tentava exibir a carteira de trabalho assinada há dois meses. As outras vítimas estavam todas na mesma casa, onde Michele foi encontrada. Ela, o irmão, Lucas Viera Santos Reis, 13, e o primo deles, Marivaldo Silva de Almeida Jesus, 17, além de um rapaz aparentando ter 20 anos, de prenome Marcos, foram retirados do imóvel e baleados na rua. Os matadores ainda obrigaram Michele e o irmão a se abraçarem e depois atiraram à queima-roupa contra a dupla. Lucas morreu na hora. Segundo testemunhas, ainda viva, Michele teve a cabeça esmagada com uma pedra. Num descuido dos criminosos, Marcos correu e procurou refúgio exatamente na casa em que Flávio estava, mas também acabou morto dentro do imóvel. Já Marivaldo, apesar de baleado, fingiu-se de morto e foi socorrido logo em seguida, após o bando deixar o local comemorando. Segundo parentes de Marivaldo, no trajeto ao Hospital Ernesto Simões, onde morreu horas depois, o rapaz mencionou os nomes de Nêgo Lindo, Faraó, Lucas e Rambo, como alguns de seus algozes. A tragédia poderia ser maior. Um casal, conhecido como Mickey e Mine, foi dominado pelo grupo, mas foi poupado porque a arma de um dos bandidos falhou. As investigações estão sob a responsabilidade do delegado Odair Carneiro, da Delegacia de Crimes Múltiplos (DCM). A assessoria de comunicação da Polícia Civil, que confirmou se tratar de crime relacionado com o tráfico, informou que o delegado não está autorizado a falar sobre as chacinas da Avenida Peixe e de Cajazeiras VIII. O CORREIO também procurou o delegado Artur Gallas, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), e o delegado-chefe, Hélio Jorge, mas eles não foram localizados. MáscarasAinda de acordo com testemunhas, pelo menos três carros com vidros escuros e sem placas chegaram à Avenida Peixe. Dos veículos, desceram homens armados que se posicionaram na entrada e saída da Travessa Juazeiro. Alguns integrantes do bando foram apontados por testemunhas como sendo homens altos, fortes, que usavam coletes e máscaras do tipo “brucutu”. Eles se intitulavam policiais. Procuravam por Michele, namorada do traficante David, que está preso, e uma parente, mulher do traficante Napuco, morto ano passado pela polícia. David e Napuco, dizem os moradores, eram responsáveis pelo tráfico na Rua Juazeiro, que vinha sendo comandado por Michele. A traficante tinha como seus “aviões” o irmão e o primo. A primeira vítima da chacina foi Flávio. O rapaz acordou com os barulhos dos supostos policiais, que o ordenavam abrir a porta. “Eles quebraram o cadeado do portão com um alicate e depois arrombaram a porta com pontapés. Flávio já estava de pé, na sala, e pegou a carteira de trabalho para mostrar que era uma pessoa de bem. Quando virou-se, foi baleado”, contou uma cunhada do rapaz.
Flávio virou-se para mostrar a certeira de trabalho e acabou morto
Flávio dormia na casa da namorada, Rosemeire Araújo, 22, e seguiria de manhã para o trabalho na JF Transportadora, em Pirajá. A namorada não estava no imóvel, revirado pelos assassinos. Em seguida, o grupo armado arrombou a casa de Michele e a retirou junto com o irmão, o primo e Marcos. Uma moradora comentou que era constante o movimento de traficantes e usuários na casa de Michele e que Lucas e Marivaldo eram “aviões”. De joelhos Sob a mira das armas, contou a moradora, Michele, Lucas e Marivaldo ajoelharam no chão. “Foi quando eles pegaram Mickey e Minie, que chegavam na hora com cervejas e cigarros”, contou a mulher. Foram obrigados a se ajoelhar próximos aos três. Como a arma de um dos bandidos falhou, o casal testemunhou as mortes. Após atirar nos três, um dos homens aproximou-se do rosto de Michele. “Perguntou sobre a mulher do traficante Napuco. Como Michele não respondeu, ele pegou uma pedra e jogou várias vezes na cabeça dela”. Marivaldo esperou o bando sair e, cambaleando, pediu socorro. Mas não resistiu aos ferimentos. Os pais de Flávio estiveram na Avenida Peixe ontem. Abalados, garantiram que o filho não era envolvido com o crime. “Ele estava na hora errada, no lugar errado. Um rapaz de bem. Tinha carteira de trabalho e vivia uma vida normal”, declarou a mãe, Selma Ferreira dos Santos. Os parentes de Michele, Lucas e Marivaldo disseram não saber o motivo das execuções. Estudo aponta aumento de 669% no número de mortes de jovensTodos os mortos da chacina da Avenida Peixe eram jovens. O mais novo tinha 13 anos. O mais velho, 22. Crimes como esse confirmam, na prática, estudos que consideram uma epidemia os homicídios de crianças e adolescentes em Salvador. Levantamento que consta no Mapa da Violência 2012, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, mostra que o número de assassinatos de jovens entre um e 19 anos cresceu 669% de 2000 (58 mortes) para 2010 (446 mortes). A variação é a segunda maior do país entre as capitais, perdendo apenas para Natal (837,5%). A taxa de assassinatos para cada grupo de 100 mil crianças e adolescentes é também assustadora. De acordo com o mesmo estudo, a taxa na capital baiana subiu de 6,3/100 mil (2000) para 58/100 mil (2010), o que fez Salvador passar da 24ª para a 4ª posição no ranking das capitais. Há ainda o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), divulgado em dezembro do ano passado pela secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) e pela ONG Observatório de Favelas, do Rio. Dos dez primeiros municípios no ranking, quatro são baianos. Itabuna, no Sul do estado, lidera com 10,59 mortes para cada mil jovens, número três vezes maior que a média brasileira, de 2,98. Salvador aparece na 5ª posição (8,76 mortes para cada mil jovens), seguida de Feira de Santana (8,39) e Vitória da Conquista (8,13). O relatório de Homicídios na Adolescência no Brasil foi elaborado a partir de registros de 2009 e 2010 das polícias Civil e Militar, além de estatísticas do Ministério da Saúde, calculados pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Polícia ainda não conhece autores da chacina de Cajazeiras VIIIA polícia ainda não localizou os culpados pelas mortes de quatro pessoas no dia 7 deste mês, no bairro de Cajazeiras VIII. A primeira chacina do ano ocorreu também de madrugada, quando homens armados arrombaram três casas. Na primeira, assassinaram Jorge Silva Cerqueira, 50, e o filho, Rafael Borges Cerqueira, 19. A 400 metros dali, em duas residências diferentes, executaram Ítalo Ribeiro de Souza, 17, e João de Deus Oliveira, 56. Na ocasião, policiais da 13ª Delegacia (Cajazeiras), que iniciaram as investigações, disseram que o crime estava relacionado com a briga pelo controle de pontos de drogas na região. Os assassinos seriam da localidade de Jardim Esperança, na Estrada Velha do Aeroporto, que procuravam por Igor Pereira, o atual chefe do tráfico em Jardim das Mangabeiras. No local, funcionava uma boca de fumo, onde João de Deus, que já foi preso por tráfico, fazia todo o trabalho de embalagem da droga, vendida a varejo por Rafael. Os policiais ainda não sabem qual é o envolvimento do pai de Rafael com o tráfico de drogas. Os moradores de Jardim Esperança e Jardim das Mangabeiras vivem em um local de disputa do tráfico. Doti controla a primeira e Igor Pereira a segunda. Os investigadores têm poucas informações sobre Doti, apontado como um ‘novato’ no meio policial. Já Igor tornou-se líder quando, há cerca de seis meses, quem comandava o tráfico nas Mangabeiras, conhecido como Café, foi morto em confronto com a polícia. Matéria original Correio 24h "Ele estava na hora e no lugar errado", diz mãe de vítima de chacinha

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