|
---|
"A seleção que jogou a Copa da África do Sul, há dois anos, era melhor do que a que temos hoje", diz o eterno capitão |
A eterna alcunha de 'capita' precede o ex-lateral-direito Carlos Alberto Torres. Foi ele quem levantou a taça Jules Rimet ao final da Copa do Mundo de 1970, no México, que deu o tricampeonato mundial ao Brasil com a mais magnífica seleção da história do futebol. Aos 67 anos, Torres, sempre de forte personalidade, visitou na sexta-feira as obras da Arena Fonte Nova, já 55% concluídas, e bateu um papo com o Correio* sobre a Copa 2014, Seleção Brasileira, memórias e ainda elogiou os técnicos de Bahia e Vitória.
Como é chegar aqui e ver a Fonte Nova sendo reconstruída? Na realidade, é o primeiro estádio que vai servir de palco pros jogos da Copa do Mundo que visito. É uma surpresa bastante agradável porque a gente tá vendo que a coisa tá andando, ao contrário do que o secretário da Fifa falou, apesar de que a gente não pode deixar de dar uma certa razão a ele porque tem muita coisa aí que tá atrasada. Acho que, em algumas cidades-sedes, as obras já deveriam estar um pouco adiantadas.
Quando você vê a evolução das obras de um estádio como esse, é aí que dá pra sentir que a Copa realmente vai acontecer? A gente sabe que a Copa do Mundo será realizada de qualquer maneira aqui. Os estádios estarão prontos. Mas eu fico, como desportista, contente quando vejo essa mobilização da cidade em torno da construção de uma nova arena. Quando vejo a modernidade dos estádios na Europa, fico feliz de chegar no meu país e ver que vamos ter, pelo menos, dez superestádios para receber qualquer evento no futuro.
Quais suas maiores lembranças da antiga Fonte Nova? Tenho grandes lembranças, como jogador e como treinador. A maior delas é quando o Pelé estava pra fazer o milésimo gol, quase que ele fez aqui, né (Bahia 1x1 Santos, 16 de novembro de 1969)? O zagueiro (Nildo Birro Doido) tirou a bola em cima da linha, foi xingado pelos torcedores. Depois como treinador, tive algumas participações. A lembrança é sempre bacana porque, como tive a sorte de jogar em grandes times como Santos, Fluminense e Botafogo, sempre foram eventos que o estádio estava cheio.
Com essa saída de Ricardo Teixeira da CBF, qual sua expectativa pra esses "novos tempos" do futebol brasileiro? É a melhor possível. O Ricardo, no início, fez uma grande gestão na CBF. Hoje ela é uma fortaleza no futebol mundial. Mas depois ele ficou naquela, se achando o rei da cocada preta, sem dar atenção maior às federações, aos clubes, ao futebol feminino... Lamento que tenha chegado a esse ponto e, inclusive, ocasionado o afastamento dele da CBF.
O estádio tá ficando pronto, mas e a Seleção Brasileira? Tem que começar a ficar pronta (risos). Infelizmente, a realidade é que nós não temos hoje uma seleção. Digo isso sem medo. Não temos uma seleção para que qualquer pessoa de bom senso diga 'nós vamos ser campeões do mundo'. De repente, até venha a ser. A seleção que jogou a Copa da África do Sul, há dois anos, era melhor do que a que temos hoje e ficou nas quartas de final. Não sou eu que vou dizer que hoje, quando ninguém consegue escalar a Seleção, o Brasil está no caminho certo. Não tá.
Ainda mais que seleções como Alemanha, Espanha e Holanda estarão com a mesma base que fez bom papel na África. É verdade. Tem algumas seleções na Europa que estão num caminho mais adiantado que nós. A história das Copas do Mundo mostra que o time pra ser campeão do mundo tem que ter uma experiência numa copa anterior. No próprio Brasil de 70, vários jogadores como Pelé, Gérson, Tostão, Jairzinho, Brito, estiveram na Copa da Inglaterra e trouxeram uma experiência, boa ou não, para a Copa.
A gente tem dois treinadores no Bahia e no Vitória, Falcão e Cerezo, que são ex-jogadores, representantes de um tempo que o Brasil jogava um futebol bonito, vistoso. Você acha que esse pode ser o caminho para que a gente crie uma base melhor, com mais gente que entende do jogo? Com certeza absoluta eles ajudarão o desenvolvimento do futebol aqui na Bahia. Quando você tem pessoas famosas e de capacidade reconhecida, como são os casos de Falcão e Toninho Cerezo, o futebol baiano será, de uma forma extraordinária, ajudado pela presença deles aqui. Seria bom se isso pudesse acontecer em outras praças.