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Alan correu ao lado de Antônio Zeicon, da Triação |
O burburinho da arena de largada aumenta a adrenalina. Fila pra pegar chip, aquecimento, disputa por espaço. A noite mal dormida da véspera - dizem os veteranos que não é privilégio dos estreantes - reforça a sensação de insegurança. Mas logo aparecem outros conhecidos, alguns amigos, outros que apenas me reconhecem do jornal. Os incentivos se multiplicam.
SAIBA TUDO SOBRE A MEIA MARATONA DA BAHIA E VEJA FOTOS DO EVENTO NA NOSSA PÁGINA ESPECIAL Chip amarrado no tênis, número de peito posicionado, é hora de encontrar lugar na largada. E não é fácil. O funil lembra a corda do Chiclete. Não posso dizer que foi uma experiência inédita pra mim, pois já estive em outras provas como repórter, mas estar no meio daquela multidão de corredores me dá outra dimensão da grandeza das corcorridas de rua. É outro mundo. Ao lado de Antônio Zeicon, escalado pela Triação para me acompanhar e ditar o ritmo da minha prova, vou lá pro fundo, fico dando voltas na área de aquecimento até a multidão dispersar um pouco e largo na manha, no meu ritmo. Sol na cara, sem boné nem óculos escuros, muito menos protetor solar. Coisas para lembrar na próxima prova. Quando o portal de largada vai ficando para trás, a rua fica mais larga, o embrulho no estômago diminui, a pulsação vai voltando ao normal. Agora é comigo. Basta fazer o que foi treinado. Subidinha inicial para testar as pernas e logo depois aquela descida para embalar. Nos primeiros pontos de hidratação, bebo mais que de costume. Fico com receio da tal dor de facão, derramo o resto na cabeça e descubro uma sensação bastante prazerosa.
Retardatário - A roupa encharcada - estreei uma bermuda térmica, presente de um grupo de colegas de trabalho, mesmo contrariando as dicas de não usar nada com que não tenha treinado antes - refresca todo o corpo. Os quilômetros vão passando e o ritmo, traçado por Zeicon, gira em torno de 6m45s por quilômetro. Estou tão à vontade que nem vejo a sede do Bahia passar. No retorno dos 5 quilômetros, me surpreendo. "Achou que era mais longe?", pergunta Zeicon. Pior que achei. O retorno me enche de gás, agora sei que já cruzei a metade do percurso. É hora de tentar melhorar o tempo. O 'pace' (tempo gasto para percorrer cada quilônetro) chega aos 6m10s. Pela minha sombra acompanho o ritmo da prova. Na silhueta esguia, enxergo a recompensa de dois meses de preparação. Agora, estou ultrapassando os retardatários. Vários deles. "Viu como foi bom segurar o ritmo na ida?" lembra Zeicon. Estratégia.
Emoção - Último quilômetro e Zeicon me bota mais pilha. "Vamos acelerar pra chegar bonito!". Tô dentro. A menos de 500 metros da linha de chegada, vejo minha mulher e minha filha no passeio. "Muito bem, completou", diz Cinara. Falta pouco, não falta nada, falta a vida toda. O misto de sensações quase me leva às lágrimas. A etapa cumprida só me faz pensarem quanto tempo perdi e quanto ainda posso ganhar em saúde, longevidade... felicidade.
Sim! - A ideia de ser o personagem do Correio* começou a ser amadurecida desde o ano passado, após a primeira edição. Eu sempre tratei o assunto com algum receio, meu editor, Eduardo Rocha, botou muita 'pilha', mas havia dúvidas quanto às minhas chances de completar a prova. Certa feita, o diretor de redação, Sérgio Costa, me perguntou: "Você tem a mesma disciplina de Daniela (Leone, a personagem de 2011) pra cumprir o desafio?" Naquele momento eu não tinha resposta. Deixei a pergunta no ar. Hoje, com orgulho, encho o peito e digo: sim! Eu consegui! E, pra encerrar, vou para frasear Chico Xavier: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".
CONFIRA TODA A SAGA DO REPÓRTER ALAN RODRIGUES PARA CORRER OS 10KM Matéria original: Jornal Correio* Conclusão de 10km encerra um ciclo de transformação; agora é vida nova