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Salvador tem tarde de Oriente com iranianos legítimos e fajutos

Embaixada do Brasil em Teerã, capital do Irã, calculou a vinda de entre quatro e cinco mil pessoas, mas parecia muito mais.

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26/06/2014 às 9:29 • Atualizada em 02/09/2022 às 4:05 - há XX semanas
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“Do you speak english?”, perguntamos a uma típica iraniana, de traços fortes, olhos grandes e lenço cobrindo a cabeça. Esquecemos de que estávamos no Brasil. “Não, não, eu sou de Sergipe mesmo. De Aracaju”, desfaz-se o equívoco. A estudante universitária Sanara Doralice, 23 anos, estava sendo pintada no rosto com as cores do Irã por um índio pataxó de Porto Seguro.
Na Bahia do sincretismo e da pluralidade cultural, um jogo de Copa do Mundo entre Irã e Bósnia foi a porta aberta para a mistura de comportamentos, atitudes, singularidades e até equívocos. “Estou torcendo para o Irã porque é um país culturalmente muito rico. Não tenho essa visão que a mídia nos quer fazer crer”, explica Sanara, observada por um torcedor do Bahia que se dizia - e vestia-se como tal - sheik árabe.
Com a invasão iraniana que se viu na quarta-feira (25), melhor desfazer logo esse mal-entendido. “Iranianos são mulçumanos, mas não é por isso que são árabes. É totalmente diferente”, ensina Ali Matour, 39 anos, apressado para chegar ao portão sul da Arena Fonte Nova. Matour mora em Londres e parecia encantado com a cidade. “Vocês têm belas praias, um belo centro histórico. Aqui é muito melhor que Belo Horizonte”, comparou.
Perto dali, evangélicos pentecostais gritavam o nome de Jesus para a galera que reza em direção a Meca. “Se é para adorar, se é para glorificar, tem que ser a Jesus”, berrava uma das crentes. Um deles exibia o cartaz: “Keep Calm and Jesus loves you”. Bíblias em árabe eram distribuídas nos arredores do estádio. “Olha, temos uma visão contrária à crença deles. Eles precisam conhecer a verdade”, disse Maria Assis, 70 anos, da Igreja Batista.
Dona Maria parecia assumir o discurso clichê. “No país deles ocorrem atrocidades e a violência tomou conta”, disse, talvez esquecendo-se de olhar para o próprio país. Mas, no final das contas, tudo acabava em confraternização. Ao entregar um panfleto com a “fitinha de Jesus” para um muçulmano, a evangélica Rosália Silva da Hora, 50 anos, ganhou de presente uma faixa com as cores do país do Oriente Médio. “O pessoal do Islã mandou eu orar por eles e ainda tirou foto comigo”, contou, toda feliz, dona Rosália.
Povo - Não nos entenda mal. Os bósnios estavam lá, mas eram uma absoluta minoria. A embaixada do Brasil em Teerã, capital do Irã, calculou a vinda para o Brasil entre quatro e cinco mil pessoas. Mas, nos arredores e dentro da Fonte Nova, parecia muito mais. Da saída do metrô, do Dique do Tororó, da Ladeira do Pepino ou de Nazaré, iranianos surgiam de todos os lados. Nas conversas com esse pessoal tão bonito e diferente de nós, dois temas se destacavam.
O primeiro diz respeito ao povo brasileiro e sua hospitalidade. “Vocês são o melhor povo do mundo. São pessoas muito amigas e receptivas. Vocês são o melhor povo do mundo”, repetia o exagerado Abomzar Nategh, 31 anos. “Sinto que aqui vocês sabem diferenciar as coisas sem preconceitos com outros povos”.
O segundo aspecto era justamente a ansiedade que eles têm em desfazer a imagem que o mundo tem do Irã. “A mídia fala das questões políticas do governo e de forma genérica. Nós gostamos de celebração, assim como os brasileiros. A Copa é uma oportunidade para mostrar isso”, disse Sara Shahidi, 34 anos, uma das dezenas de iranianas de beleza intrigante que não esqueceram de destacar os avanços da liberdade feminina no Irã.
“Apesar de as mulheres ainda não poderem frequentar estádio no meu país, elas adoram futebol. Temos conquistado boas posições e cargos importantes”, observou. Mas, na Bahia das festas de largo e do Carnaval, nem é preciso se explicar tanto.
Prova disso era um grupo de amigos que ensaiava paródia na porta do estádio. “Salamaleico é nosso / Meu bom Alá também / Nós somos do Oriente Médio / Que nunca ganhou de ninguém”. Os visitantes não se incomodam. É Copa do Mundo. Matéria original: Jornal Correio* Salvador tem tarde de Oriente Médio com iranianos legítimos e fajutos na Arena Fonte Nova

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