De longe, a gente o reconhece. Basta ele imprimir os primeiros tons de uma canção que enxergarmos não só uma voz imponente, mas toda a herança e ancestralidade que ele possui. O filho de Minervina é de fato um marco e um patrimônio musical da Bahia. Estamos falando do soteropolitano, cantor, compositor e ativista brasileiro, Lázaro Jerônimo Ferreira, o ‘Lazzo Matumbi’ – quinto artista da mais nova edição do Estúdio iBahia.
Considerado um expoente da música negra baiana, Lazzo completa em 2021, 40 anos de carreira. São mais de 10 discos de sucesso e ainda assim, ele não para. Em entrevista com iBahia, o artista confessou quando e como começou a cantar. Além disso, ele descreveu com detalhes que ser vocalista nunca foi um sonho próximo e que foi o som dos atabaques que o conquistaram no início.
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"Eu sempre conto que minha história musical começa a partir de minha mãe. Eu, com 12 anos, acompanhava ela tocando no prato e cantando nas festividades de São João, no bairro da Garibaldi, onde ela nasceu e onde minha avó morava...O meu olhar pra música sempre foi um olhar muito mais carinhoso, por conta desse exemplo da minha mãe. Quando eu comecei, eu não comecei pensando em cantar. Eu comecei pensando em tocar percussão", explicou ele.
O amor que recebeu da família sempre foi algo marcante para Lazzo. Ele faz questão de sentir e de ter toda a carga emocional necessária para criar e ficar satisfeito com o que apresenta ao público.
"Eu acredito que com 20 anos é que eu tive o despertar realmente de ser artista, de me tornar artista. Eu disse: 'poxa, eu gosto do que eu faço, me emociona muito e me faz bem’. É como se eu sentisse minha alma lavada no momento em que eu tô mexendo com música”, registrou o artista.
E muito desse comportamento aliado ao ‘sentir’ é possível ver no seu novo disco chamado de ÀJÒ. Em Iorubá, a palavra significa jornada e nos terreiros de candomblé significa união. Quando questionado sobre essa junção, o baiano ficou emocionado.
“Para mim, foi um mergulho - que coincidiu com a comemoração de 40 anos – a minha história, onde eu tinha o maior prazer de fazer e prepara algo do tamanho, respeito e gratidão a todas as pessoas que andaram comigo até os dias de hoje ”, relatou.
Ao todo, são 12 faixas autorais e com participações especiais de BNegão, Luedji Luna e Larissa Luz, que já passou pelo Estúdio iBahia. O disco completo, você pode conferir neste link.
‘Se ligue no Ilê Aiyê'
Falar da história do Ilê Aiyê é também falar diretamente da construção musical de Lazzo Matumbi. Ele foi cantor do bloco afro entre 1978 e 1981; e foi lá que o artista começou a esmiuçar seu lado ativista.
Para ele, o Ilê desempenhou um papel crucial na afirmação da sua identidade e da questão racial que já era uma inquietação dele.
"No Ilê Aiyê foi realmente a consagração porque eu estava entre amigos e irmãos, em um bloco que tinha como objetivo buscar sua afrodescendência, buscar a autoestima da comunidade negra, fazer um levante de liberdade, então eu acho que teve uma junção que fez com que, naquele momento, eu me encontrasse", explicou Lazzo.
Após ecoar muitos sucessos no grupo, Lazzo se despediu do Ilê em 1980 e na sequência já deu start a carreira solo.
Musicalidade
Lazzo é exigente com tudo que apresenta e é por isso que ele tem influenciado muitas gerações. Em entrevista, e com poucas palavras, ele resumiu como ter conhecimento dos ritmos é importante para a formação dele como artista profissional.
"Quando eu conheci o reggae, eu fui muito influenciado por conta do ritmo ser muito contagiante e da proximidade com o samba...E o que me deixou mais encantado foi a similaridade musical com o conteúdo que era parecido mais ou menos com que a gente já exercia no bloco afro. Então, isso pra mim foi uma 'coisa' assim que me tomou. Bob Marley, Jimmy Cliff eram as pessoas que eu tinha como referência no início, apesar de ter Marvin Gaye e Rei Charles como referência também", pontuou ele.
O compositor disse ainda que não se sente pronto ou completo. Escutar outros ritmos, artistas, estudar musicalidade e até mesmo voltar ao passado para resgate são ações que ele pratica com muita frequência.
"Até hoje, até agora, eu trabalho na lapidação do Lazzo Matumbi. Eu fico o tempo todo querendo me melhorar, o tempo todo querendo aprender e faz as coisas da melhor maneira possível...Às vezes, eu uso um pouco da frase de Marcelo D2 dentro da minha própria musicalidade, dentro da minha própria essência musical, 'eu vivo em busca da batida perfeita', me descobrindo cada vez mais."
Pandemia X Família
Não é novidade que a pandemia da covid-19, afetou muitos artistas. Mas, Lazzo tem uma experiência de destaque e segundo ele ‘especial e dolorida', e com muitos aprendizados. Isto porque entre 2019/2020, a mãe do cantor chamada de Minervina faleceu.
"Eu fiz o caminho da gestação inversa. Eu cuidei de minha mãe assim bem próximo a ela, por 9 meses, sem sair do lado. Dando comida, banhando, acarinhando, cuidando, levando pra médico, até o momento em que ela fez a passagem. Isso pra mim foi um processo de isolamento necessário e proteção ao meu mais velho, que era ela", destacou o artista.
Já em relação ao contexto global, ele continuou:
"Foi um momento de mergulhar dentro de cada um de nós pra se preparar para o que vem porque ainda não terminou. Então, é necessário que nós tenhamos um pouco de discernimento de como a gente está se colocando no mundo...Eu espero que todo mundo se imunize de uma forma legal, bacana. Que a gente consiga encontrar a cura para todos e todas, pra que a gente possa amanhã, logo logo, ali na esquina, se encontrar e celebrar a alegria e a vida. E de uma forma poderosa, com a coisa mais sublime que existe na terra, que é a música. E eu como faço parte disso, quero estar presente para doar meu canto e minha música com maior prazer e ver que a gente pode com esse movimento todo se juntar e construir um mundo melhor para todos nós", finalizou.
Confira o Estúdio iBahia com Lazzo Matumbi
Confira o clipe 14 de maio do artista
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Redação iBahia
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