A teledramaturgia sempre teve o papel de refletir o que está acontecendo na atualidade e debater assuntos que sejam de interesse do público, ou até mesmo apresentar novas abordagens para mostrar uma nova forma de pensar.
Porém, algumas tentativas na representação LGBTQIAPN+ acabaram caindo no cesto do preconceito e simplesmente foram cortadas, censuradas ou apresentaram personagens caricatos que serviam apenas como capachos dos principais.
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No Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, o iBahia separou 5 casos de tramas que apresentação problemas na representação, para a reflexão do público.
Confira:
Leila e Rafaela - Torre de Babel (1998)
Na trama de Sílvio de Abreu, as personagens Leila e Rafaela, vividas por Silvia Pfeifer e Christiane Torloni, sofreram com a rejeição do público e tiveram um trágico final feito pelo autor para tentar reverter uma queda de audiência.
Um atentado, previamente apontado na sinopse da trama, acabou matando o casal para dar conta da intolerância do público com um casal lésbico no horário nobre.
Em entrevista ao "Na Telinha", em 2020, Silvia relembrou a rejeição do casal e disse nunca ter percebido a rejeição na época.
“Nunca ouvi qualquer coisa a respeito da minha personagem, da personagem da Christiane ou mesmo sobre a relação entre as duas. Não cheguei a sentir na pele, mas é claro que, nos grupos de estudo e de avaliação da novela, [o preconceito] deve ter vindo à tona", disse.
Júnior e Zeca - América (2005)
No ano de 2005, Gloria Perez explodiu com o fenômeno de audiência "América", mas a trama acabou pecando na retratação de um casal gay para o público do horário nobre.
O romance dos dois demorou a ser desenvolvido e só começou a ser real na fase final da novela das nove. Um beijo dos dois, o primeiro gay na TV, deveria ter ido ao ar no último capítulo, mas foi cortado por decisão dos diretores do canal.
"O romance entre o Júnior e o Zeca era tão bonito que o beijo merecia ter ido ao ar. A história de amor dos dois foi construída de forma delicada. Mas a direção da emissora achou que a cena não devia passar, porque poderia chocar a maioria de seu público. Talvez chocasse, porque o Brasil é muito mais preconceituoso do que demonstra ser", disse a autora sobre o corte no livro "Autores, Histórias da Teledramaturgia".
Crô - Fina Estampa (2011)
Na trama de Aguinaldo Silva o problema não foi aceitação do personagem, que acabou caindo no gosto popular, mas sim a representação de um gay que apenas servia de capacho da antagonista e escape cômico.
O personagem de Marcelo Serrado fez tanto sucesso que acabou indo para nos cinemas, mas anos depois, com a reprise de "Fina Estampa" em 2020, por conta da pandemia de Covid-19, o público criticou a representação do "gay chaveirinho" ou "gay pet", que só existe para ser um capacho de uma mulher hétero.
O caso acontece em outras tramas como "Totalmente Demais", "Império" e "Insensato Coração", porém o caso mais lembrado é o de Crô, justamente pela repercussão.
Crô não existia na trama, a não ser para servir Tereza Cristina (Christiane Torloni) e gerar gargalhadas do público. No final da novela ele até chegou a ter um "amante secreto" que deveria ser desvendado pelo público, o colocando em um lugar de que não merecia uma história de amor.
Clara e Marina - Em Família (2014)
Na trama de Manoel Carlos o romance de Clara e Marina, personagens de Giovanna Antonelli e Tainá Müller, caiu no gosto do público e elas chegaram a ter um casamento com quase tudo o que se tem direito.
Nove anos depois, a atriz Tainá Müller escancarou uma problemática que era visivel na trama, mas ficava apenas no imaginário de quem assistia e percebia.
As cenas de carinho entre as duas eram praticamente flashs na trama. “Na nossa época o beijo era cronometrado. Tinha que contar ‘1, 2, 3’ e não abrir a boca para beijar. Sofri muito com essa história na época de ‘Clarina'", explicou recentemente.
"Achava um absurdo, na real. Entendo que o Brasil é um país conservador, mas não normalizar o afeto entre duas pessoas do mesmo sexo só faz a manutenção do preconceito”, completou a atriz.
Clara e Helena - Vai na Fé (2023)
O caso mais recente de uma falha na retratação de um casal LGBTQIPAN+ em uma novela aconteceu em "Vai na Fé", atual sucesso na faixa das 19h da Globo.
O casal Clara e Helena, vivido por Regiane Alves e Priscila Sztejnman, teve um beijo cortado em capítulo recente. As cenas mostraram apenas as duas se olhando e cortaram brucamente o momento de intimidade.
O caso revoltou internautas e a autora Rosane Svartman precisou de explicar. “Da parte do público, não percebo tabu. Mas não é a aceitação das pessoas que dita o que se pode ou não mostrar numa novela. Há a classificação indicativa, existem outras instâncias que eu, como autora, não acompanho", disse ao Fórum Eplay.
A declaração foi rebatida por internautas que acompanham a trama. "Manda outra que essa de classificação indicativa não cola, bora sair cortando então as cenas dos outros casais", escreveu uma conta.
Redação iBahia
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