Desde 2004, todo dia 29 de janeiro é celebrado o Dia da Visibilidade Trans. A partir dessa data, a ocasião passou a ser utilizada para destacar a importância de dar visibilidade às pautas das pessoas trans. Quando os dados que envolvem a comunidade são analisados, é possível perceber o quanto as questões que envolvem a transexualidade precisam ser debatidas.
Segundo o relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Brasil teve 131 pessoas trans assassinadas em 2022. Com isso, pelo 14º ano, o país continua sendo o que mais mata esse público no mundo. Mesmo com os dados já alarmantes, o instituto explicou que o número de assassinatos pode ser ainda maior, já que não existem levantamentos oficiais sobre a violência contra a comunidade no país.
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Infelizmente, esse é apenas um dos reflexos do quanto a sociedade ainda é preconceituosa e precisa evoluir quando o assunto é respeito à diversidade. Em entrevista ao Fervo das Cores, do portal iBahia, a farmacêutica Laura Maria Santos do Nascimento, que é uma mulher trans, detalhou que diariamente precisa lutar por respeito.
“A gente vive com medo. Saímos de casa sem saber se vamos voltar. Por isso, muitas das vezes, nos calamos por causa da violência, para conseguir sobreviver. No meu ambiente de trabalho, por exemplo, é rotineiro eu ser atacada enquanto pessoa trans. Mesmo estando ali, trabalhando, não sou vista enquanto uma profissional. Infelizmente, as pessoas acham que a nossa vida é um livro aberto, onde elas não nos respeitam”, desabafou Laura, que iniciou o processo de transição de gênero em 2021.
Quando o assunto é visibilidade trans, a profissional ressaltou que o processo ainda está bem longe de alcançar um patamar que possibilite que as pessoas trans sejam vistas e incluídas respeitosamente na sociedade. “Eu acredito que a visibilidade existe no ponto de vista de luta, pois precisamos lembrar de todas as pessoas que já morreram lá atrás, além daquelas que vivem na rua, que buscam inserção no mercado de trabalho. Mas quando analisamos na perspectiva da sociedade, eu sinto que a gente não tem as mesmas oportunidades, que não há políticas públicas que garantam ações igualitárias”.
Laura Maria seguiu dizendo: “Uma pessoa trans não tem nem direito à educação, no sentido de que ela passa por tanta transfobia que não consegue terminar o Ensino Fundamental. Então, acho que a gente é invisível nesse ponto. Infelizmente, quando se pensa em mulher trans / travesti, o que vem à mente primeiro é algo relacionado a prostituição, pornografia, violência e mortes trágicas”.
Evolução
Ainda que de forma lenta, gradativamente é possível perceber uma evolução nas questões que envolvem o público LGBTQIAPN+ e, consequentemente, as pessoas trans. Seja por ações que incentivem empresas a contratarem pessoas da comunidade, como pela possibilidade de a pessoa mudar o nome e gênero nos documentos, sem a necessidade de uma ação judicial.
A farmacêutica Laura Maria lembrou que, antigamente, uma mulher trans precisava fazer ressignificação de gênero, ter um relatório psiquiátrico, para ser reconhecida. “Isso mudou muito. Então, a minha geração tem alguns ganhos, por causa de outras que lutaram lá atrás. Eu, por exemplo, em 2021 retifiquei meu documento e não precisei usar nome social”.
“Muita gente pensa que somos apenas aquela sopinha de letras – LGBTQIAPN+ - que está cada vez mais crescendo. Só que vem crescendo porque queremos garantir os espaços. Eu tenho o privilégio de ter curso superior, ter uma família que me apoia, mas isso não é uma realidade de todas. E é por isso que não podemos ficar na zona de conformo. Estamos sempre buscando novas conquistas e vitórias”, complementou.
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Elson Barbosa
Elson Barbosa
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