Gay, ator, pai, casado, apaixonado pelo trabalho e pela família. Esse é Carmo Dalla Vecchia. Atualmente com 51 anos, o artista, responsável por grandes sucessos nas telinhas e no teatro, falou publicamente sobre a sexualidade dele em junho de 2021, quando anunciou o relacionamento de mais de 15 anos com o autor João Emanuel Carneiro.
Com muita transparência – e hoje tranquilidade -, em conversa com o Fervo das Cores, do iBahia, Carmo afirmou que falar abertamente sobre a orientação sexual trouxe uma mudança interior, que, consequentemente, o transformou.
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“Quando decidi falar sobre a minha sexualidade foi a forma que eu encontrei de me livrar do meu próprio preconceito, de encontrar o meu espaço dentro da minha vida, da sociedade”, destacou.
'Sair do armário é uma coisa pessoal'
Apesar do que muitos imaginam, a homossexualidade do ator nunca foi ocultada quando o assunto era questionado. No entanto, ele buscava alternativas para que a pauta não tomasse uma grande proporção.
“Eu sempre deixei minha sexualidade muito clara. Porém, por muito tempo eu não quis tornar isso um grande assunto, porque ainda não estava pronto, ou talvez pelo fato de precisar me aceitar ou por medo de perder meu trabalho, já que normalmente os papéis que eu desempenhava nas novelas eram de galãs...”.
Essa insegurança, inclusive, era alimentada por profissionais de cargos superiores. “Dentro do meu próprio trabalho existiam pessoas importantes que me diziam que se eu declarasse a minha sexualidade não seria aceito em projetos”, lembrou.
Apesar das questões internas, Dalla Vecchia disse: “Eu nunca menti. Qualquer pessoa que minimamente me conhecia sabia do meu relacionamento. Inclusive, me orgulho em não ter negado sobre o assunto, independentemente para quem fosse”.
Durante o bate-papo, o ator enfatizou que o processo de “sair do armário” – termo dado para as pessoas que assumem a orientação sexual – é muito pessoal e precisa ser respeitado.
“Cada um de nós tem uma história, ‘apanhou de uma forma’. Ou não ‘apanhou’ também. Todos sabem as suas dores, então não se pode obrigar alguém a sair do armário. Cada um faz o que quer, e está tudo bem”.
No caso dele, aconteceu quando percebeu que a própria história poderia servir de inspiração, principalmente para tirar da mente das pessoas o preconceito já estabelecido de que gay tem o mesmo estereótipo, padrão, história.
“Eu me vi com chance de tocar o coração de outras pessoas e mostrar que a minha natureza pode não ser tão diversa assim. Quando eu vi que eu tinha uma chance de dar um exemplo do que as pessoas consideram o 'correto', o que também é um preconceito, com família, casado, trabalho, eu decidi falar sobre isso”.
Acolhimento público x críticas
Com quase 700 mil seguidores nas redes sociais, Carmo expõe assuntos sobre pautas LGBTQIAPN+, mostra parte da rotina ao lado da família e encanta os admiradores.
Diferentemente do que acontece com muitos, ele foi acolhido pelo público. “Eu nunca me senti tão acolhido. Nunca recebi tanta mensagem positiva. Inclusive, eu digo que não tenho haters [nome dado às pessoas que destilam ódio nas redes sociais]. Das poucas vezes que identifiquei qualquer mensagem muito agressiva, eu fui na polícia e denunciei”.
Mas como nem tudo “são flores”, o global também precisa lidar com alguns comentários preconceituosos. Recentemente, Dalla Vecchia expôs o comentário homofóbico de uma internauta, que criticou a normalização do artista com o fato de uma criança ter dois pais ou duas mães.
"Lamentável que vocês estejam mentindo para os seus filhos, sejam sinceros e objetivos com eles, digam que escolheram parceiros e parceiras que contrariam a lei natural da ciência, mas que são felizes fazendo essa escolha, pois escolheram priorizar seus próprios interesses”, disse a internauta.
Por meio das redes sociais, ele decidiu expor o comentário e ainda demonstrou indignação: “Eu, geralmente, protejo o nome das pessoas que me mandam directs. Mas essa pessoa me mandou esse comentário para que qualquer um pudesse ver sem preocupação nenhuma com anonimato”, começou.
"Alguém gostaria de respondê-la nos meus comentários? Faria isso eu mesmo se não tivesse trabalhando tanto, e o tempo que sobra é do meu filho, que é amado não somente por dois papais, mas por muitas e muitas outras pessoas! Vou marcá-la no meu post. Fiquem à vontade! PS: o melhor é o emoji de coração no final da mensagem. Alguém me explica?”, finalizou.
Paternidade x sexualidade
Com o marido, Carmo tem um filho, o pequeno Pedro Rafael Carneiro Dalla Vecchia, de 3 anos. Dentro de casa, a sexualidade é tratada com a naturalidade que deveria ser vista em qualquer lar.
“Isso não é um assunto na minha casa. O assunto é visto de uma forma tranquila, natural, saudável. Às vezes, isso é um assunto abordado por pessoas que estão do lado de fora, até por amigos, que têm preconceito e não têm coragem de admitir ou talvez nem saibam que tem”, afirmou.
E complementou: “O preconceito vem de um tio, de uma tia, que chega para mim e diz: ‘tadinho do seu filho, no dia das mães, como que vai ser, né?! Eu, se fosse você, já procurava um psicólogo para ele’. A pessoa não percebe que quando ela fala isso ela está falando dela".
Luta contra o preconceito x orgulho
Infelizmente, o preconceito, seja em razão de orientação sexual ou identidade de gênero, ainda é um crime visto com frequência no Brasil. Sobre isso, o ator afirma que a aceitação faz parte do processo, inclusive, de minimizar o preconceito.
“As pessoas se incomodam em ver um cara que diz ‘Eu sou viado’, ‘Eu sou gay’, pois, a partir daí, ele não pode mais ser ‘xingado’. Nós somos os primeiros a admitirmos que somos tudo isso. Então, essa afirmação acaba tirando a arma ofensiva que as pessoas possam ter”, afirma.
Por fim, Carmo enfatiza: “Orgulho é o único antídoto que a gente tem para a vergonha [do preconceito]”.
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Elson Barbosa
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