Os cristãos e os LGBTQIAPN+’s são públicos que dificilmente acabam sendo analisados em harmonia no mesmo cenário. Muito disso se deve ao contexto que ainda é implantado dentro de algumas igrejas, que têm como suporte principal trechos da Bíblia. No entanto, nos últimos anos, instituições religiosas vêm surgindo a partir de um novo olhar: o de acolhimento.
O pastor Luciano Santana, assumidamente gay, é um dos representantes da Igreja Batista do Nazareth, em Salvador, que surgiu a partir da ideia de que todos têm o direito de exercitar a sua fé. “A nossa igreja tem uma história de inclusão muito interessante com público LGBTQIAPN+. Seu surgimento aconteceu como resultado de uma exclusão, no final da Ditadura Militar, através de um grupo de jovens, na época membro da Igreja Batista Dois de Julho – uma das mais tradicionais de Salvador, que não estava compactuando com o discurso da instituição”, disse em entrevista ao Fervo das Cores.
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“Ela afirma-se como uma igreja progressista, pois está aberta para todos e discute pautas que envolvem a sociedade. Na sua ideia inicial, a igreja surgiu de forma tradicional, pois o projeto era composto por pessoas heterossexuais. A presença de LGBTQIAP+ começou a aparecer recentemente. Então, ela não é uma igreja apenas inclusiva, mas que abraça a todos”, destacou a liderança religiosa.
Diferentemente do que muitos imaginam, a inclusão dos LGBTQIAPN+ em igrejas cristãs já vem de longas datas. A primeira denominação que assumiu esse papel surgiu no final dos anos 1960, nos Estados Unidos, através do reverendo bispo Troy Perry, que criou a Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM).
Discurso religioso x LGBTQIAPN+
As histórias do reverendo bispo Troy Perry e do pastor Luciano Santana se assemelham com as de muitos que, tendo como base a doutrinação cristã, acabam passando por processos difíceis na vida até se entenderem e aceitarem quem realmente são.
O líder religioso da Igreja Batista do Nazareth já foi pastor de uma instituição tradicional, casado com uma mulher durante anos, mas compreendeu, de uma forma difícil e dolorosa, que precisava assumir quem era, colando em prática aquilo que realmente acreditava como fundamento de Cristo.
Sobre os discursos implantado dentro das igrejas que abominam os LGBTQIAPN+, Luciano Santana afirmou: “Todo discurso religioso é um discurso teológico. Então, a mesma Bíblia que é utilizada para oprimir, a tratar o outro de forma desigual, é a mesma que também pode trazer a liberdade, dependendo da técnica e da narrativa bíblica utilizada”.
“E, a partir daí, nós começamos a desconstrução. Eu sou um crítico desse cristianismo hegemônico, eurocêntrico, branco, patriarcal. Meu intuito é ir mostrando outros tipos de cristianismos que fogem desse conceito”, complementou.
Durante muitos séculos, o cristianismo foi quem fundamentou o desenvolvimento e aprimoramento ético e moral dos indivíduos. Até mesmo quem não tenha sido educado a partir de uma família cristã, acabava sendo influenciado pelos mesmos princípios. Com isso, mesmo com o passar dos anos, muitos conceitos sobre o que é certo e errado estão arraigados no inconsciente coletivo.
“Infelizmente, foi apresentado um Deus que abomina, que castiga. Então, quando vamos levando, desconstruindo e apresentando uma outra alternativa de cristianismo as pessoas sempre surgem com traumas e dores, causados em razão de conceitos pré-definidos, do que é certo, do que errado, que vai para o inferno, etc”, destacou o pastor Luciano.
E frisou: “ Eu tenho consciência plena da minha espiritualidade. Espiritualidade é algo pessoal e intransferível, e ninguém pode dar palpite. É a minha conexão com o divino”.
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Elson Barbosa
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