O câncer de mama é uma doença que mais acomete as mulheres no Brasil, após o câncer de pele não melanoma. Na Bahia, em 2023, aproximadamente 1.500 novos casos foram diagnosticados. E uma dessas confirmações foi a de Gabrielle Brandão. O que ela não esperava era que, além do câncer, ela também estava grávida. A descoberta de uma gestação durante o tratamento oncológico traz à tona uma série de desafios e preocupações, tanto para a saúde da mãe quanto do bebê. E um médico oncológica trouxe dicas.
Apesar de ser natural de Conceição de Jacuípe, Gabrielle Brandão mora em Feira de Santana, cidade localizada a 100 km de Salvador. Em entrevista ao iBahia, ela compartilhou que o diagnóstico de câncer de mama foi feito aos 23 anos. Preocupada com um inchaço na mama direita, em junho de 2023, ela procurou ajuda médica para saber o que estava acontecendo.
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“Senti apenas um inchaço em cima da mama, mas não era um nódulo palpável. Então, resolvi fazer uns exames. Quando entrei nas férias do trabalho, fui fazer os exames de rotina e descobri que eu tinha um ovário policístico e já estava em estado avançado. Me relataram que para eu engravidar, precisaria fazer um tratamento e, no mesmo dia, descobri o câncer de mama”.
Após outros exames para comprovar e identificar o tipo do câncer, Gabrielle descobriu que era um câncer receptor hormonal. O nódulo foi crescendo e ela seguiu executando a bateria de exames. Foi, então, que ela foi percebendo uma mudança estranha no seu ciclo menstrual. A jovem estava grávida.
"Após fazer um exame do beta, que foi indicado, descobri que estava grávida. O mastologista falou que seria melhor realizar um aborto, colocar a minha saúde em primeiro lugar e que a criança poderia estar com alguma má formação pelos exames que realizei com contraste. Acabei não respondendo nada a ele no momento e pensei em realizar todos os exames, mostrar para ele que a criança estava realmente bem. No mesmo dia fui fazer o exame e descobri que a minha filha estava perfeita, que era uma menina e que eu estava a 3 meses de gestação".
Gabrielle relata que decidiu rapidamente continuar com a gestação da pequena Aurora. “Se algum tempo atrás eu nem poderia engravidar, como é que agora eu iria tirar uma criança que estava perfeitamente saudável dentro de mim, e também, acreditei que essa criança estava sendo a minha cura. Dias atrás, eu pedia para Deus não me deixar morrer. E ele me deu uma vida para cuidar em uma sentença de morte, pois o meu câncer já estava em um estado avançado”, explica ela.
A atuação do oncologista de Gabriella foi essencial nessa jornada. Segundo a jovem, o doutor foi tranquilizando ela e relatou que era, sim, possível ter o bebê. No entanto, ele fez um alerta sobre os eventuais riscos que ela poderia correr com a quimioterapia.
O pré-natal veio acompanhado da quimioterapia. Ela compartilha que teve muitas reações com as sessões e enfrentou dificuldades para nutrir a filha, já que ela não conseguia se alimentar direito.
"Era uma situação horrível. Eu ficava imaginando como nutrir a minha filha, já que não estava conseguindo me alimentar. A partir disso, fiz de tudo para me alimentar corretamente e a minha alimentação se tornou ainda mais saudável".
A gestação foi acompanhada de médicos e especialistas. Todos tiveram que fazer um acompanhamento contínuo e específico. "A cada ultrassom que eu fui fazendo, percebemos que Aurora estava desenvolvendo perfeitamente bem e que era necessário retirar ela com 8 meses, por questão de peso", detalhou Gabriela.
No dia 6 de junho, a pequena nasceu por meio de uma cesariana e no dia 28 de junho, Gabrielle conseguiu fazer a cirurgia da retirada do nódulo da mama. Agora, ela está na fase de monitoramento da doença e continua fazendo uso dos medicamentos. Gabrielle conseguiu realizar o sonho de ser mãe, graças ao suporte familiar e dos médicos.
Médico oncologista explica câncer de mama e tratamento durante a gestação
O médico oncologista, Thiago Kaique, explica que ser diagnosticada com câncer durante uma gestação é um caso atípico, mas possível. “Os tipos de câncer mais comuns diagnosticados em gestantes são, na verdade, os mesmos que ocorrem em mulheres não grávidas. O carcinoma ductal invasivo é o mais frequente, começando nos ductos mamários e com potencial de se espalhar para outros tecidos.”
Em entrevista ao iBahia, ele esclareceu que existem sinais e sintomas que as gestantes devem observar para identificar possíveis casos.
“É importante que as gestantes, assim como todas as mulheres, fiquem atentas a certos sinais. Mudanças no tamanho ou forma das mamas, a presença de nódulos ou caroços nas mamas ou axilas, alterações na pele (como vermelhidão ou inchaço) e secreções inesperadas dos mamilos são alguns dos principais alertas”.
Ele acrescenta que qualquer um desses sinais requer avaliação médica imediata, pois o diagnóstico precoce é crucial para um tratamento eficaz.
“O impacto do diagnóstico pode ser significativo. A escolha do tratamento (seja quimioterapia, radioterapia ou cirurgia) deve considerar a saúde da mãe e do feto. Por exemplo, alguns tratamentos podem ser adiados até o parto, dependendo da gravidade do câncer. Além disso, certos tratamentos, como a quimioterapia, podem ter efeitos adversos no desenvolvimento fetal, especialmente durante o primeiro trimestre. O diagnóstico também pode causar estresse e ansiedade na mãe, impactando indiretamente o bem-estar do bebê”, explica ele.
O oncologista Thiago relata ainda que a quimioterapia pode provocar partos prematuros. O que, na prática, é também uma preocupação, assim como a possibilidade de complicações obstétricas. “Um monitoramento rigoroso é necessário e as decisões devem ser tomadas em conjunto com a equipe médica, sempre levando em consideração os benefícios e riscos”.
Médico oncologista aborda escolha entre o parto e o tratamento oncológico
A decisão da escolha entre o parto e o tratamento oncológico envolve uma equipe médica multidisciplinar, incluindo oncologistas, obstetras e neonatologistas. Eles avaliam os riscos e benefícios para a mãe e o bebê, considerando a saúde da gestante e as necessidades de tratamento. "Cuidados com o desenvolvimento fetal são essenciais, com monitoramento regular e consideração dos efeitos dos medicamentos. O planejamento do parto deve ser discutido com a equipe médica para garantir a segurança de ambos."
Por fim, Thiago deixa um conselho para mulheres com histórico de câncer e que desejam engravidar.
"O primeiro passo é sempre consultar o oncologista para discutir o histórico de câncer e a saúde atual. É importante esperar o tempo adequado, que pode variar dependendo do tipo de câncer e do tratamento realizado, para garantir que a remissão e a saúde geral estejam estáveis. Essa preparação ajuda a criar um plano seguro para a gravidez", finaliza ele.
Ketheleen Serra
Ketheleen Serra
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