De uns anos para cá, o mercado editorial começou a perceber que a garotada rende muito mais quando os assuntos do currículo escolar são abordados de forma diferente da explanação formal em sala de aula. Foi quando começaram a surgir diversas histórias em quadrinhos contendo clássicos da literatura ou mesmo recortes históricos.
Bons exemplos são os lançamentos da editora Nemo: A Herança Africana no Brasil e Descobrindo um Novo Mundo, ambos voltados para o público em idade escolar. Escrito por Daniel Esteves, ganhador do Troféu HQ Mix 2006 (roteirista revelação), A Herança Africana no Brasil é super necessário para o aluno que ainda não ouve com a frequência devida discussões sobre negritude em sala de aula. O livrinho, desenhado por Wanderson de Souza e colorido por Wagner de Souza, resgata a história da escravidão e a presença de elementos africanos na nossa vida. E faz isso de forma dinâmica, trazendo para o cotidiano. A narrativa é guiada pelo ano e cidade em que a história se passa, sem ligar muito para a cronologia dos acontecimentos. Castigos O primeiro capítulo, por exemplo, se passa na Salvador dos dias de hoje, durante a conversa entre uma neta e sua avó, ialorixá num terreiro de candomblé da cidade. A menina, que vivencia outro credo em casa, não estranha as cerimônias do axé, mas indaga as diferenças no núcleo familiar: “Quem somos nós, vovó?”, pergunta a menina. “Somos o que trazemos com a gente”, responde. A partir daí, a velha traz à tona a ancestralidade de seus antepassados, contando que o comércio de escravos já existia na África mas foi intensificado pelos portugueses, que espalharam mais de cinco milhões de negros na diáspora africana em cerca de 300 anos de escravidão nas Américas. Nesse ponto, a história volta no tempo e o jovem leitor vê as atrocidades cometidas com os escravos no Brasil. A separação das famílias, o trajeto em condições áridas nos navios, a distribuição pelos engenhos e os castigos. Mas o livro não é só sofrimento, não, viu? Como o próprio título sugere, a ideia é mostrar o legado cultural que a diáspora africana fortaleceu nos locais onde se fixou. No Brasil, por exemplo, teve a capoeira, o samba, as comidas de dendê, o candomblé... Com esse fio condutor, o jovem leitor vai conhecendo também a história de vários lugares no país.Nos estados do Nordeste, a lida nos engenhos de cana; em Minas Gerais e na Chapada Diamantina (BA), surge o garimpo; o dia a dia nos quilombos espalhados por todo o território nacional e um pouquinho da história de Tia Ciata (1854-1924), baiana que promovia rodas de samba no Rio de Janeiro, e até José do Patrocínio (1854-1905), ativista do movimento abolicionista. Descobertas Voltando bem mais no tempo, entre o fim da Idade Média e início da Moderna, a HQ Descobrindo um Mundo Novo, de Lillo Parra, Rogê Antônio e Akira Sanoki, leva o leitor ao período das grandes descobertas feitas pelos europeus na era da navegação em busca de rotas comerciais e, claro, territórios ‘sem dono’. Época de ouro para quem tinha grandes frotas navais, como Inglaterra, Espanha e Portugal, que se espalharam mundo afora. Seguindo uma narrativa cronológica, os autores recontam a história através do noviço José de Anchieta (1543-1597) e do menino Joaquim, aprendiz de marinheiro, que estão a caminho do Brasil, em 1553.Quadrinho a quadrinho, o leitor vai percebendo que esse foi um período politicamente especial para os países ibéricos, que conquistaram diversos territórios pelo mundo e ligaram o Ocidente ao Oriente. Era um tempo de reis e comerciantes ávidos por riquezas, novos mercados, papas que empurravam o cristianismo com mão de ferro nos novos territórios para evitar o avanço da cultura islâmica em seus domínios.
Africanidade é tema de uma das obras, que contextualiza a situação do negro antes e depois da escravidão (Foto: Divulgação) |
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