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LITERATURA

João Ubaldo prestigia estreia da peça Sargento Getúlio, em Salvador, nesta quarta

Ele que já estava imortalizado pela Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1994, finalmente está em vias de ser um imortal em sua terra

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03/08/2011 às 11:00 • Atualizada em 27/08/2022 às 5:25 - há XX semanas
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Neste ano em que completou, em janeiro, sete décadas de vida, o escritor João Ubaldo Ribeiro segue recebendo merecidas homenagens. Ele que já estava imortalizado pela Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1994, finalmente está em vias de ser um imortal em sua terra, na Academia de Letras da Bahia (ALB). Além disso, o itaparicano tem agora dois de seus romances adaptados para os palcos baianos: Diário do Farol e Sargento Getúlio, sendo que a montagem deste último estreia hoje, às 20h, no Teatro Casa do Comércio, no Festival Bahia Em Cena.
João Ubaldo, 70 anos, foi eleito por unanimidade para ocupar a cadeira nº 9 da Academia de Letras da Bahia
Com bom humor e tranquilidade, João se diz surpreso com as novidades. A começar pelas peças, que o levam para um mundo ao qual não é muito afeito. “A única relação que tenho com teatro é que sou leitor de peças desde pequeno”. Seu pai tinha muitos livros de dramaturgia e ainda criança ele devorou muitas obras teatrais. Das tragédias gregas a dramaturgos clássicos dos últimos séculos como o norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) e o irlandês Bernard Shaw (1856-1950). Fã de Shakespeare - “Eu já contei essa história mil vezes, mas o fato é que Shakespeare foi das minhas primeiras leituras. Li sem condição de ler, sem entender direito o que estava lendo, mas li, ainda com 8, 9 anos, Hamlet, Romeu e Julieta e assim por diante”. No fim da adolescência, na década de 50, João passou a ter algum contato com teatro também através de amigos que eram da área, quando as artes cênicas baianas estavam no auge com a Escola de Teatro da Ufba, na gestão do reitor Edgar Santos (1894-1962). “Escrevi esquetes para o Centro Popular de Cultura, que foram levados para a rua. Um até foi montado na Ufba num congresso estudantil. Foi engraçado porque não podia dizer que o autor era eu. Fiquei engolindo a minha glória enquanto a peça era aplaudida!”, conta aos risos. Apesar do pequeno sucesso, João Ubaldo faz questão de afirmar, um pouco contraditório, mas categórico - e de modo modesto: “Não sei escrever para teatro. Tenho uma enorme incompetência! Não sai nada ou sai tudo nervoso! Não é do meu ramo, apesar de que até faço diálogo direitinho paras as cenas que crio nos romances”. Livre adaptação - Mas se não cria mais peças, há muito tempo dramaturgos já perceberam como seus livros possuem muito potencial cênico. A adaptação do seu romance A Casa dos Budas Ditosos, por exemplo, feita em 2004 pelo diretor Domingos Oliveira, fez um sucesso em várias temporadas. No papel da senhora baiana que vive todas as possibilidades do sexo estava a atriz Fernanda Torres. “Foi uma trabalho brilhante do Domingos e da Fernanda. Fiquei muito feliz, elogia”. Em relação às novas adaptações de Sargento Getúlio e de Diário do Farol, João acha graça quando o CORREIO lhe pergunta se ele está empolgado com os projetos. “Não me empolgo com essa facilidade toda. Não costumo ficar empolgado com nada!”, diz, para desconcerto do repórter. Em seguida, porém, ele se anima ao lembrar que é padrinho de Gil Vicente Tavares, o diretor de Sargento Getúlio: “Gil é filho de Ildásio Tavares, grande amigo meu. Ele parece que falou que sou um padrinho relapso, né? Sou mesmo, sou até um amigo relapso, não dou muita importância aos rituais comuns de amizade ou de compadrio”, explica. Mas mau padrinho ele jura que não é. “Eu gosto do Gil e dei de presente a ele os diretos autorais do texto, sem cobrar nada. Ele não vai gastar nem um tostão com o autor!”. João ainda fará o “sacrifício” de comparecer hoje na estreia da peça. “Vai me quebrar uma semana de trabalho, mas prometi que iria”. Quanto ao Diário de Farol, que estreia em setembro, com direção de Fernanda Paquelet, o escritor afirma saber pouco sobre o processo da montagem, mas lembra que já conversou com Amarílio Sales, que fez a adaptação. Questionado se tem alguma recomendação para dar aos diretores na condução de suas histórias, ele fulmina: “Não tenho conselho nenhum! Não permito minha ingerência na montagem. Não me meto!”. Assédio - João ressalta como está “assoberbado” para se preocupar com teatro e até para lidar com os processos da sua posse na ALB, ainda sem data definida. Segundo ele, os assédios para entrevistas, palestras e eventos só dificultam a sua vida como escritor. Tanto é que está com três romances empacados. “Quanto mais famoso você fica, mais difícil fica para escrever. Agora mesmo estou ocupado com essa entrevista, que está passando de 20 minutos. Um horror!”. Apesar das ressalvas que faz, o vencedor em 2008 do Prêmio Camões, maior láurea da língua portuguesa, não nega que é bom ser reconhecido. Na eleição da ALB, realizada no último dia 21, por exemplo, ele foi eleito por unanimidade para assumir a cadeira número 9, que pertenceu a Cláudio Veiga, morto em março. Como explica o presidente da ALB, Aramis Ribeiro Costa,61, a academia chegou a mudar o seu regimento para que João pudesse frequentar o palacete Góes Calmon, sede da ALB, em Nazaré. Até pouco tempo, apenas autores residentes em Salvador poderiam se candidatar à academia, sendo que João mora no Rio. “A ALB é a casa dos escritores baianos e ele é um dos maiores escritores do Brasil. Então nada mais natural que ele fizesse parte da ALB”, explica Aramis. Mesmo prevendo que não será dos frequentadores mais assíduos na ALB - “Se na ABL, que é no Rio, eu quase nunca vou!!” - João garante que terá o maior prazer em visitar a academia baiana sempre que vir a Salvador. Ainda mais que possui muitos amigos imortais que foram seus contemporâneos nos tempos de colégio ou faculdade. Ao falar então sobre a importância de se tornar duplamente imortal, ele volta a relativizar tudo. “A importância é toda e nenhuma! É só um título humano como outro qualquer. Mas não deixa de ser uma das pequenas glórias dessa vida, e se isso não é decisivo pra nada, agrada a existência. É bom ser imortal”.

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