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LITERATURA

Xico Sá lança romance autobiográfico sobre os anos 70

Eu não sou cachorro, não! Defensor dos modos machos, mas mantendo o lado sensível, o escritor cearense Xico Sá participa, na próxima semana, da 2ª edição da Flica – Festa Literária Internacional de Cachoeira. Na entrevista, fala de amor, moralismo, sexo e Bahia

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07/10/2012 às 17:13 • Atualizada em 29/08/2022 às 16:40 - há XX semanas
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Dias antes da entrevista, o jornalista e escritor Xico Sá dava mostras de seu estilo em uma troca de e-mails sobre fotos suas em Salvador para ilustrar a matéria. “Rapaz, as fotos que eu tinha na Bahia se perderam na estrada, algumas mulheres rasgaram”. Sejam bem-vindos ao universo de Xico Sá, 50 intensos anos completados anteontem. Nascido no interior do Ceará e radicado em São Paulo, atualmente ele participa dos programas Saia Justa, do GNT, e Amor & Sexo, da Globo, e é colunista da Folha de S.Paulo. Seu estilo direto e defensor do lado macho dos homens faz muito sucesso nas redes sociais. Em seus textos, Xico discorre sobre assuntos como puteiros do interior, inferninhos da rua Augusta, em São Paulo, e sexo anal, entre outros assuntos tidos como cabeludos pelos mais puritanos. No dia 17, o escritor participa da mesa-redonda Literatura: Introspecção ou Exibicionismo?, junto à filósofa Marcia Tiburi, na noite de abertura da 2ª Flica – Festa Literária Internacional de Cachoeira. O evento, que tem apoio da Rede Bahia, segue até dia 21, na cidade localizada no Recôncavo baiano. No fim do mês, ele lança Big Jato (Companhia das Letras, R$ 33/184 págs.). “É um pequeno romance. Fiz a partir de memórias da região onde nasci, no Cariri”, conta Xico, em entrevista telefônica ao CORREIO, jornal para o qual escreveu até ano passado. Xico, você é defensor do lado macho dos homens. O macho está cada vez mais acuado?Acho que está. Está meio ensaboado(risos). Não sabe o que faz. As mulheres começaram a ter uma maior renda e o homem não segura a barra. Às vezes nem pensa, viu? Porque homem às vezes é uma preguiça do caralho, nem se esforça, acha melhor romper, ir para a safadeza. A gente é muito fraco nesse sentido. E tem ainda o medo medieval do chifre. De aparecer outro. A mulher passa a ser mais livre e o cabra fica com medo. Isso é medieval. Nos comentários de seus textos, muitos te agradecem... Tem muito homem dizendo: “vamos fazer resistência ao metrossexualismo”. Mas tem também mulheres dizendo que as despertei para algo. Ou agradecendo porque eu denuncio a nossa fraqueza, a nossa acomodação, coisas que não conseguimos fazer. Até para chorar o homem usa o futebol, o Bahia, o Vitória , o Flamengo. É uma forma de expressar um sentimento que, às vezes, ele não consegue expressar para uma mulher. É um pouco paradoxal isso, não? Afinal, você defende o lado macho dos homens.É verdade. Mas confunde-se muito sensibilidade com metrossexualismo. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Ficar todo depilado e cheio de creme é algo comercial, da publicidade. Não signifca sensibilidade. Você pode ser macho e sensível, chorar. E seu novo livro, Big Jato. Por que esse nome?É o nome de uma empresa de limpeza de fossas. O personagem faz fortuna com a merda. Só lida com coisas sujas, criação de porcos, essas coisas. E nessa época, nos anos 70, também começou a entrada das palavras estrangeiras, tudo era ‘big’ (risos). Os seriados de fora na TV, esse universo de começo de uma modernização mínima do Sertão, o cinema, o sorvete. No livro, fica claro que o lugar continua a mesma merda, mas chega uma certa modernidade. Como foi revisitar esse período de sua infância?Sempre é meio tumultuado. Era uma necessidade que tinha de escrever sobre essa época. Há dois anos, ficou mais forte essa vontade. E acaba sendo não só a minha história. É a de todo mundo que saiu de uma pequena cidade para a capital. Foi quando começou o boom das cidades, essa diáspora em massa. Fazer cinquenta anos, anteontem, te abalou?Foi mais complicado fazer quarenta. Foi quando bateu a coisa da idade, uma reflexão sobre a morte. Mas agora perdi a vergonha, as coisas estão mais assentadas. Não mudou nada, nada?Talvez o lance de diminuir a cachaça (risos). A diferença cruel é a ressaca. Não tenho mais ressaca, tenho dengue existencialista. Quando penso em maneirar, é 0% de reação moral. É uma negociação mínima com a saúde. Os puritanos reclamam muito de seus textos?Ah, tem isso, sim, em relação às posições que adoto nas crônicas, o uso do palavrão. Hoje, a patrulha é imediata. Escrevo uma crônica e dois segundos depois tem e-mail descendo a lenha. Muitos elogiam, gostam como falo de sexo. Mas a patrulha é grande. E a qualidade do leitor hoje é ruim, não tem a compreensão mínima de uma ironia. Isso interfere na sua escrita?Acaba mudando a forma de escrever. Quando é uma coisa mais polêmica, eu redundo até ficar mais compreensível. Quase como se desse uma satisfação mínima. E nem sempre você está num bom dia pra aguentar uma caralhada de gente reclamando. É louco isso, porque é um atraso. Pegue o Jorge Amado, que usava uma linguagem explícita, coloquial, da rua, da putaria. Hoje, pra usar isso, cai o mundo. É um puta retrocesso. Por que isso acontece? As pessoas estão mais caretas?Talvez muitas pessoas pensassem assim antigamente, mas não se manifestavam, no máximo mandavam uma carta para a redação. Se a crônica bate na moral e o leitor se sente ofendido, como uma crônica sobre traição e o cabra fica desconfiado, a tendência é explodir em cima de você. Às vezes é um problema do leitor. Você recebe muita carta cabeluda de leitores, contando coisa que até Deus duvida? Recebo. Acho que as pessoas se sentem à vontade para se abrir. E alimentam essa minha literatura de consultório, que era muito feita antigamente. Elas se abrem mesmo, coisas cabeludíssimas. Às vezes, fico com um tesão (risos). Já me relacionei com algumas, tive histórias amorosas. São conversas íntimas, entram no terreno do desejo direto. E com tanta experiência amorosa, você ainda tem o coração partido por um pé na bunda?Claro. Isso não cura nunca. Mas o mundo acaba menos. Hoje, escuto um Waldick Soriano, um Chico Buarque, um Roberto Carlos, choro, tomo uma cachaça, escrevo pra caralho. Curo mais rápido, não arrasto aquela dor pela vida inteira. E passo pra outra. O Brasil é liberal no sexo?Que nada! Temos as danças eróticas, da boquinha da garrafa ao funk, passando por um certo forró. O corpo tem um erotismo, até o jeito de andar da mulher e do homem. Mas é o país que não pode botar um peito de fora na praia. É uma baita contradição, uma loucura. Esse ensaio todo de putaria, mas que não se concretiza. O que achou dessa menina, Catarina, que está leiloando a virgindade?Me espantou que esse fetiche da virgindade ainda exista, em 2012. Não achava que (o leilão) daria tanto ibope. Antigamente, tinha uma coisa chamada leilão de virgem, em cabaré do interior, uma coisa violenta pra cacete. Faziam uma festa, pegavam a menina novinha, que estava chegando ao cabaré, e leiloavam a primeira noite. Já correu de pai raivoso? Já corri muito, na época de adolescente, lá no Cariri. Era tudo proibido, não podia transar. A iniciação sexual de toda minha geração é com prostituta. A primeira mulher, amadora, pra ter sexo com ela demorava bastante. E depois o pai ia buscar no inferno. Acha que essa tendência do metrossexual vai passar?Acho que veio pra ficar. Antes, achava que seria só coisa de classe média, dos mais modernos. Hoje, não é assim. Você vai na periferia, estão todos superproduzidos, tendo o Neymar como modelo. Gastam muito com produtos de beleza, roupas. Foi uma sacada da indústria, vendo que a fórmula de vender só para mulher esgotou. Como é a sua mulher ideal?A que estiver mais perto (risos). Mas, sério, nas cinco vezes que morei com uma, não tinha um perfil único. Já tive de tudo: mais cheinha, magra, todas as cores. Como aquela música do Martinho da Vila. Até uma coisa que eu tinha mais frescura, essa coisa de querer uma mulher com uma formação melhor, ter lido mais uns livros, visto uns filmes, até isso eu perdi. Acho que se pode conversar sobre outras coisas. Uma pode não ter esse repertório, mas ter uma graça que mata todas as outras, ter um humor genial. Mudando de assunto. Você, como amante do futebol, acha que a Copa aqui vai dar certo?Cara, acho que sim. Mas vai ser infinitamente mais cara que o planejado. Aquela mentira, que ia ser dinheiro privado, isso foi pro buraco. Nós estamos bancando isso tudo. Na hora H, vai dar certo, mas com preço nas alturas. As empreiteiras já começam a vender a dificuldade do prazo como forma de pegar mais grana, entrar como obra de emergência, sem licitação. Fora as maluquices, jogo 13h no Recife. Conhece Salvador?Fui muitas vezes. Sempre acabo no Mercado do Peixe, no Rio Vermelho, que não fecha de madrugada. Então, a gente fecha lá. Gosto da chachorrada de lá, dos vira-latas. Viveu amores por aqui?Já fui atrás de uma nega que nem conhecia, não tinha a menor ideia quem fosse. Conheci pela internet, em 2004. Tomamos um porre no Póstudo(bar do Rio Vermelho). Aí, descemos o Rio Vermelho e acabamos, claro, no Mercado do Peixe. Foi sensacional. E em outra viagem, tentei ressuscitar um amor, uma coisa meio lua de mel, pra dar uma animada. Mas acabou aí, no Rio Vermelho. Não teve restauro, nem o Iphan daria jeito. Matéria Original: Correio 24 Horas Xico Sá lança romance autobiográfico sobre os anos 70

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