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MODA E BELEZA

Efeitos colaterais podem ser maiores do que os benefícios

Médicos alertam para possibilidade de aparecimento de acne, engrossamento de voz e problemas vasculares

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Redação iBahia

21/05/2019 às 20:01 • Atualizada em 27/08/2022 às 14:41 - há XX semanas
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E se um bastonete de dois centímetros fosse capaz de aumentar a disposição e a libido e ainda servisse como um contraceptivo para mulheres em idade fértil ou um repositor hormonal para a turma da menopausa? Parece milagre, mas é uma realidade cada vez mais buscada por mulheres que apostam no “chip da beleza”, um implante subcutâneo que faz modulação hormonal e pode causar os efeitos descritos acima. Mas, como diz o ditado, “quando a esmola é demais o santo desconfia”. As sociedades médicas têm se preocupado com o uso indiscriminado desse tipo de medicação com finalidade estética. Segundo elas, os chips podem trazer efeitos colaterais muito maiores do que os benefícios.

Funciona assim: o médico, depois de avaliar os níveis hormonais da paciente, prescreve um mix de hormônios capaz de deixá-la sem menstruar, consequentemente, sem sintomas de TPM e com mais libido e disposição para atividades físicas. Aí que, dizem diversos especialistas, mora o perigo. Se os efeitos relativos à menstruação e à contracepção acontecem por causa dos derivados de hormônios femininos, os que mexem com massa muscular, emagrecimento e desejo sexual estão ligados à administração de andrógenos, ou seja, hormônios masculinos. Eles que, no fim das contas, podem trazer consequências indesejáveis, como surgimento de acne, perda de cabelo, engrossamento de voz e aumento de clitóris. Sem falar em coisas mais graves, como problemas cardiovasculares.

— Implante é uma forma de administração de medicamento usado há muito tempo na medicina. A questão é que, nesses atuais chips da beleza, estamos falando de aplicação para benefícios estéticos, e não para tratamento de doenças — explica Alexandre Hohl, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Como cada ser humano tem uma reação particular a qualquer tipo de medicação, nem todas as mulheres sofrem os temidos efeitos listados pelos médicos. É o caso da advogada Carolina Kamache, de 37 anos, que tem o implante hormonal há um ano e quatro meses, e só reclamou de acne no início do uso.

— Tive espinhas, mas procurei um dermatologista e consegui controlá-las. Paralelo a isso, tive uma gama de benefícios que não tinha quando tomava anticoncepcional. Diminuiu minha celulite, aumentou a libido — conta ela. Carolina tem endometriose e, como tratamento, precisava interromper a menstruação para que as fortes cólicas cessassem. Como também sentia muita fadiga, o médico pediu uma dosagem de testosterona. Os níveis, disse ele na época, estavam baixíssimos e, por isso, foi aconselhada a colocação de implante.

O diagnóstico de “baixa testosterona” é um assunto controverso no meio médico. Todas as mulheres têm a presença do hormônio masculino no sangue em níveis muito mais baixos que no dos homens, o que não quer dizer que os números precisem mudar para que a paciente tenha qualidade de vida.

— Na realidade, 99% das mulheres não precisam de terapia androgênica. Clinico há 40 anos e, do ponto de vista médico, não vejo vantagem. A mulher se sente mais forte, com mais energia, mais disposição. No entanto, existem os efeitos colaterais que, às vezes, aparecem imediatamente, outros a longo prazo. Depende da sensibilidade de cada uma — diz o médico Mauro Abi Haidar, chefe da Endocrinologia Ginecológica da Unifesp.

Excesso de acne e pelos são alguns dos resultados que costumam ser facilmente administrados ou com a retirada do chip ou com o tratamentos paralelos. No entanto, o aumento do clitóris e o engrossamento de voz são irreversíveis, e a fertilidade também pode ser afetada.

— Não existem estudos sérios a longo prazo sobre esses implantes, por isso as sociedades médicas aqui no Brasil não respaldam — diz a ginecologista Carolina Mocarzel. — Tanto que, lá fora, não há esse modismo como aqui.

Por mais animado que alguém esteja em usar o chip da beleza, a compra precisa ser feita por intermédio de um médico, que manda a receita com os hormônios para alguma farmácia de manipulação que trabalhe com esse tipo de medicamento. O bastonete costuma custar em torno de R$ 3 mil e geralmente precisa ser trocado entre seis meses e um ano. O fato de não ter um grande laboratório atrelado à fabricação é algo que preocupa muitos médicos.

— Se são colocados cinco hormônios diferentes num chip, talvez essa combinação nem tenha sido estudada. A gestrinona (um esteroide androgênico que tem ação anticoncepcional e é bastante comum nas receitas dos chips da beleza), que é permitida no Brasil, muitas vezes é misturada com testosterona, progesterona, estradiol etc. Isso tudo é um barco à deriva — diz Alexandre Hohl, salientando que há, no entanto, um implante estritamente anticoncepcional, que nada tem a ver com o chip da beleza, vendido em farmácias comuns e com eficácia e efeitos adversos amplamente documentados.

Mauro Haider concorda: — No manipulado não há noção do que é posto, da dosagem, se é confiável ou não. No caso desses chips, a vaidade é a maior inimiga da inteligência.

Os médicos costumam constatar nos consultórios que muitas mulheres ficam seduzidas pelo efeito do chip na libido. Com substâncias derivadas da testosterona, de fato há chances de aumento do desejo, mas isso é apenas um caminho mais rápido e sem tanto esforço analítico. Ter vontade ou não de se relacionar sexualmente é uma questão muito mais de cabeça do que de corpo.

— A minha sensação como ginecologista é que os hormônios viraram a bengala da mulher moderna. Ela culpa os níveis de testosterona por não querer ter relação, por não ter disposição, mas não analisa como está a qualidade do relacionamento, se está estressada com o trabalho, com a família — diz Carolina Mocarzel. — Libido é uma tríade: a vida amorosa, o ambiente social e o hormônio, mas testosterona não é o carro-chefe de muito ou pouco desejo sexual.

Ficar disposta na academia e na cama é o sonho de muita gente, e o mercado (sim, muitas áreas da medicina têm virado business) está cheio de promessas. Mas bom mesmo é ter saúde para ver as modas passarem.

POR DENTRO DO CHIP

Início da história

A medicina reconhece o uso de implantes como forma de administração de medicamentos, mas, de uns anos para cá, algumas farmácias de manipulação começaram a estudar e a popularizar os chips de modulação hormonal no Brasil, que misturam diversos hormônios derivados de progesterona e testosterona. Não há nenhum grande laboratório farmacêutico por trás desses dispositivos, exceto o que fabrica o Implanom, um contraceptivo subcutâneo, encontrado em qualquer farmácia, e que inibe a ovulação e, consequentemente, a gravidez.

Gestrinona

Esse esteroide sintético tem ação androgênica, ou seja simula a ação de hormônios masculinos. Os chips da beleza geralmente vêm com essa substância, que aumenta a libido, a disposição e a quantidade de massa muscular, efeitos considerados positivos por muitos médicos e pacientes pró-implante hormonal. No entanto, é ela também a causadora de efeitos colaterais, como aumento de clitóris e engrossamento da voz. Consequências “positivas” e negativas, no entanto, aparecem de forma individualizada em cada mulher.

Custos e duração

O preço de um chip da beleza é de, em média, R$ 3 mil, e a eficácia é de seis a um ano, dependendo da fórmula. Ele costuma ser colocado nas nádegas ou no antebraço e, depois do prazo de ação, é reabsorvido pelo corpo.

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