Idosos desfilam e esbanjam charme e simpatia no Brega & Chique

Depois de quase uma hora de preparativos, tudo estava azul para dona Liandra do Nascimento, 90 anos: o esmalte nas unhas era de um azul metalizado, a sombra já ia pelo celeste, o vestido estampado misturava os tons e o lápis de olho era azul royal. “Sei que vai ter gente falando de mim depois desse desfile. Tem um pessoal que não gosta de mim porque dizem que sou a mais bonita da casa”, orgulhava-se ela, que mora no Abrigo Dom Pedro II há quatro anos.

Tanta produção tinha um motivo especial: dona Liandra estava entre os dez idosos do asilo que tiveram ontem um dia de modelo – com salão de beleza, fotógrafos, passarela e até trilha sonora de Madonna e Michael Jackson.

O grupo participou do desfile Brega & Chique, evento promovido para os 73 residentes do local por alunos de Planejamento e Produção de Eventos do Senac Rua Chile. Mas Liandra teve que dividir o brilho com outras colegas. Quando dona Lígia Araújo, 84, surgiu na passarela, ela veio com tudo: chapéu, mão na cintura e uma voltinha cheia de charme. “Achei a ideia maravilhosa! Quando aparece um movimento como esse, fico superfeliz”, afirmou.

O único homem a participar, seu Pedro Evangelista, 92, entrou dançando Billie Jean, do Rei do Pop. Mesmo com dificuldades na fala, ele se esforçava para dizer que escolheu a roupa mais bonita que possui para a ocasião. “É a que eu mais gosto. Dizem que estou bonito”, brincou. Mas os minutos de luz, passarela e ação passaram muito rápido. Se dependesse de dona Maria da Conceição, 80, teria mais. “A gente poderia dar a volta no salão inteiro”, opinou ela, que vive no asilo há 20 anos.

O evento foi custeado por doações e pelos alunos do Senac. “A gente queria fazer um dia diferente para eles”, explicou Franclin Rocha, um dos estudantes que organizaram o desfile. O estúdio de beleza foi liderado por uma aluna e por quatro voluntárias. Inicialmente, quase metade dos idosos participaria do desfile. “Mas alguns tiveram compromissos, outros não quiseram vir, na hora. Eles têm suas limitações, então, temos que entender”, comentou a estudante Esleiane Ferreira. Para a gerente do abrigo, Silvana Selem, esse tipo de ação deveria ser mais frequente. “É só olhar o semblante deles para ver que estão felizes”.

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