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Durante 70 anos, rainha Elizabeth II liderou Reino Unido em guerras e crises; relembre trajetória

Rainha era considerada pop e discreta; ela liderou um país enquanto o mundo passava por sucessivas mutações

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Agência O Globo

08/09/2022 às 15:24 • Atualizada em 08/09/2022 às 18:29 - há XX semanas
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					Durante 70 anos, rainha Elizabeth II liderou Reino Unido em guerras e crises; relembre trajetória
Foto: Jane Barlow/Divulgação

A morte da rainha Elizabeth II, nesta quinta-feira (8), aos 96 anos, põe um fim a um reinado de 70 anos. Elizabeth Alexandre Mary Windson esteve no poder durante a Guerra Fria, sucessivas crises políticas e econômicas, entrou e saiu da União Europeia, além de enfrentar uma pandemia global.

De acordo com uma pesquisa feita no segundo trimestre deste ano pelo instituto YouGov, ela era respeitada e aprovada por 75% dos britânios.

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Elizabeth herdou a Coroa em 1952, quando tinha apenas 25 anos, após a morte do pai, o rei George VI. Casou-se em 1947 com o príncipe Philip, que era príncipe da Grécia e Dinamarca. Os dois tiveram quatro filhos: Charles, o príncipe de Gales, filho mais velho e herdeiro do trono, Anne, a princesa Real, Andrew, o duque de Iorque, e Edward, o conde de Wessex.

Quando ficou viúva de Phillip, em 2021, a rainha foi buscar refúgio em Windsor, sua residência favorita, local onde viveu seus últimos dias de casada.

Elizabeth decidiu não voltar mais para o Palácio de Buckingham, apenas para compromissos inadiáveis.

Escândalos da Família Real


				
					Durante 70 anos, rainha Elizabeth II liderou Reino Unido em guerras e crises; relembre trajetória

Durante todos esses anos, Elizabeth II parecia inabalável. Por dever de ofício, guardou para si opiniões políticas e posições sobre a maioria dos temas considerados sensíveis. Talvez por isso tenha cometido poucos erros. Nem mesmo os escândalos da família real — e não foram poucos — mudavam a atitude da monarca. Em 1992, depois da separação do príncipe Charles e do príncipe Andrew e de um incêndio em Windsor, admitiu em público que vivia um “annus horriblis". Mal sabia ela que depois viriam a morte da Princesa Diana, e uma imensa comoção nacional e internacional, em 1997, acusações de pedofilia contra Andrew, em 2020, e o afastamento do neto, o príncipe Harry, das funções oficiais do palácio e da Família Real após seu casamento com a atriz americana divorciada Meghan Markle.

Philip sempre foi a face mais humana do casal. Eram dele as gafes, as manifestações de emoções ou vontades que ela não se permitiu. Elizabeth II dançou conforme a música, como se esperava dela. Encontrou 12 dos últimos 13 presidentes dos Estados Unidos. Viajou o mundo. Foi até o Brasil em 1958, na única visita de uma soberana britânica à América Latina.

O mistério sobre o que terá se passado na cabeça desta rainha durante tantos anos ocupou o imaginário coletivo britânico e mundo afora. Foi a deixa para tantas interpretações no cinema, no teatro e na televisão. O mundo dos Windsors fascina.

Elizabeth II viveu presa a um conto de fadas, o que pode ser bom ou ruim. O mais perto que o cidadão comum terá chegado da rainha foi a realização do documentário “Royal Family”, de 1968, que garantiu acesso sem precedentes às rotinas de trabalho e lazer da soberana. Ela e Philip tiveram quatro filhos (Charles, Anne, Andrew e Edward), oito netos e 12 bisnetos.

Rainha Pop

As cores dos vestidos e chapéus estavam sempre nas páginas. A escolha das joias da rainha também tinham sempre mensagens a serem lidas pelos jornalistas especializados na cobertura da Casa Real. Quem nunca quis saber o que carregava nas bolsas de mão que usava para se comunicar com os auxiliares próximos em meio a agendas oficiais. Um gesto indicava a hora de encerrar uma audiência. Estava em Ascot, não muito longe de Windsor, todos os anos acompanhando de perto o desempenho de seus cavalos, uma das suas paixões da vida inteira, nas badaladas corridas de verão que reúnem a aristocracia britânica e ricaços do mundo inteiro.

Tornou-se tradução do soft power britânico. Está na bonequinha da loja de suvenir que dá adeus com a ajuda da luz solar, ou canecas de louça que marcam suas datas comemorativas. Afagou chefes de Estado ou de governo importantes para o reino. Como todo britânico, também tinha suas doses de senso de humor. Participou da inusitada cena de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres em que recebe ninguém menos do que 007, na pele de Daniel Craig. James Bond foi buscar a monarca no Palácio de Buckingham, de onde simulam sair de helicóptero para pousar no estádio olímpico. A rainha está ainda em uma galeria de arte em Windsor. No holograma do quadro “Aprovação real”, de Nusia Mullingan, com a bandeira Union Jack de pano de fundo, usando uma tiara de diamantes e tradicional colar de pérolas de três voltas, ela pisca para o espectador. A obra sai pela bagatela de 1,295 libras (quase R$ 10 mil). O pagamento por ser parcelado em até 12 vezes. É a monarca acessível para os súditos.

Na escrivaninha de Winston Churchill, em Chartwell, a residência do primeiro primeiro-ministro de Elizabeth II (1940-1945 e 1951-1955) — foram 15, incluindo a recém-empossada Liz Truss — ainda está em lugar de destaque a foto da monarca no dia de seu casamento com Philip, dois anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Por sinal, o que se especula é que a soberana não tenha conseguido disfarçar o xodó por Churchill e Harold Wilson (1964-1970 e 1974-1976).

Sentada no landau de capota aberta com seu príncipe, a noiva sorria radiante enquanto acenava à multidão. A alegria não se justificava apenas pela ocasião em si. Mas pelo fato de ter descoberto contrabandeado debaixo do tapete do veículo sua corgi preferida, Susan, que acompanharia o casal real na lua de mel. A irreverência destes companheiros de quatro patas de uma vida inteira — outra marca registrada desta rainha — talvez seja a pequena manifestação pública de irreverência a que se permitiu a soberana sempre tão contida, que colocou nas últimas décadas o dever de servir o país acima de tudo.

"Sua Majestade Elizabeth II, pela graça de Deus, Rainha deste Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte e de Seus Demais Reinos e Territórios, Chefe da Comunidade das Nações, Defensora da Fé” era formalmente chefe de Estado de 15 países da chamada Comunidade das Nações, do Canadá à Austrália e Nova Zelândia, além de ilhas do pacifico e do Caribe. Ela testemunhou o fim do império onde o sol nunca se põe e o aparecimento do Reino Unido como o que é hoje, uma potência europeia dentre outras. Nesta transição dedicou-se a preservar os vínculos com as antigas colônias por meio da Comunidade das Nações.


				
					Durante 70 anos, rainha Elizabeth II liderou Reino Unido em guerras e crises; relembre trajetória

A morte da monarca é um evento de importância inequívoca para o Reino Unido, pois, além do luto, desencadeará grandes questões constitucionais, sobre a sucessão.

— Há uma sensação de terremoto — afirma Steven Barnett, professor da escola de comunicação e mídia da Universidade de Westminster.

Para o historiador Robert Lancey, consultor de “The Crown”, e autor do livro “The Crown: The Inside History”, “em tempos de desacordo político e crise, o papel da monarquia é de lembrar às pessoas os valores mais elevados que todos compartilhamos, a despeito das diferentes visões políticas”. Para ele, o fascínio com a família real permanecerá. Mas acha difícil que Charles III, como deve passar a se chamar o novo soberano, em um reinado relativamente curto que terá pela frente (em comparação com o da mãe), seja capaz de conquistar o amor e respeito que Elizabeth II construiu ao longo dessas quase sete décadas.

— Por outro lado, suas ideias progressivas sobre conservação e mudança do clima, que já foram motivo de risos, agora representem um veredito popular e de consenso para o futuro. Por isso, embora seja mais velho, suas ideias estão mais em consonância com as gerações mais jovens — disse Lancey.

Mergulhados no luto, os britânicos terão de se debruçar sobre essas grandes questões constitucionais. O futuro da monarquia britânica será determinado pelo processo sucessório. Vai se saber o quanto é devido a ela o fato de nesse país não haver um movimento republicano sequer incipiente.

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