O ex-presidente do Egito Hosni Mubarak foi sentenciado hoje (2) à prisão perpétua, como cúmplice da morte de 850 manifestantes na revolução egípcia de 2011, em um julgamento que evidencia as divisões vigentes no país. Aos 84 anos e após três décadas governando o Egito, Mubarak é o primeiro entre os líderes afetados pela Primavera Árabe a ser julgado em seu país. Ele ouviu seu veredicto com uma expressão impassível, em uma maca hospitalar e usando óculos escuros. Mas, ao ser levado ao presídio de Tora, teve uma "crise de saúde", segundo a TV estatal egípcia. Algumas fontes disseram que ele sofreu um ataque cardíaco, mas até a manhã deste sábado ainda não havia confirmação oficial de seu estado de saúde. No lado de fora da corte, opositores de Mubarak e parentes de pessoas mortas durante o levante antirregime comemoravam a condenação do ex-presidente, ainda que alguns estivessem defendendo a pena de morte para o réu. Houve confrontos entre opositores, policiais e simpatizantes de Mubarak nos arredores da corte. Há relatos de manifestações também em Suez, cidade considerada o berço da revolução que culminou com a queda de Mubarak. Muitos egípcios também se queixam que a polícia do país, à qual se atribiu a culpa por muitas das mortes na revolução, e outros pilares do regime de Mubarak mantiveram seu poder, sem que houvesse reformas institucionais profundas. A Justiça egípcia também condenou o ex-ministro do Interior Habib Al Adly à prisão perpétua por participação na morte de manifestantes antirregime pelas forças de segurança do país. Mas Mubarak e seus dois filhos - Gamal e Alaa - foram inocentados de acusações de corrupção. Os dois ainda serão julgados por suposta manipulação do mercado financeiro. Gritos e confusão eclodiram no tribunal quando o veredito foi anunciado. Um dos motivos aparentes é a absolvição de quatro assessores de Adly, que também eram acusados de participar da repressão a manifestações. Mubarak, por sua vez, negava ter ordenado a matança de manifestantes desarmados, nos primeiros dias da revolta que durou mais de duas semanas no Egito em 2011 e que ainda reverberam em diversas nações árabes. O juiz do caso, Ahmed Refaat, disse que o povo sofreu com 30 anos de "escuridão" sob o governo Mubarak, mas alegou que o julgamento do ex-líder foi justo. A condenação de Mubarak ocorre em um momento sensível para o Egito, que acaba de passar por suas primeiras eleições presidenciais livres, explica a correspondente da BBC no Cairo, Yolande Knell. Prestes a votar no segundo turno, muitos dos jovens revolucionários egípcios se dizem decepcionados em ter que escolher entre o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi, e o ex-premiê da era Mubarak, Ahmed Shafiq (que era um aliado próximo do presidente deposto). O professor de direito e ativista anticorrupção Mohamed Mahsoob se diz pessimista com o futuro do país. "Acho que o próximo presidente será Shafiq e que ele aniquilará o Poder Judiciário para libertar Mubarak", opina. Ao mesmo tempo, ex-membros do antigo partido governista, o NDP, comemoram os resultados eleitorais, alegando que estes sugerem que ainda há apoio para nomes da era Mubarak. "Shafiq ficou com quase 25% dos votos. É bastante. Isso deixou os liberais e a Irmandade Muçulmana tensos", declarou Maged Botros, professor de política que serviu o secretariado do NDP. Em depoimento dado à BBC antes do veredicto do ex-presidente, Botros acreditava que muitos egípcios não queriam ver Mubarak sofrer. "O povo é sentimental. [Mubarak] está doente, tem 84 anos. Não queremos desgraçá-lo." As informações são da Agência Brasil.
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